A conta oficial do governo de Israel no X ironizou nesta terça-feira (20) as declarações do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que comparou as mortes de palestinos na Faixa de Gaza ao Holocausto. Essa ação representa mais um episódio na escalada da crise entre os dois países.

A conta do governo de Israel interagiu com uma publicação com a seguinte pergunta: "O que vem à mente quando você pensa no Brasil?". E respondeu: "Antes ou depois de Lula se tornar um negacionista do Holocausto?".

No último domingo (18), o petista comparou a situação do povo palestino, em função do conflito entre Israel e o grupo Hamas, aos judeus perseguidos na Alemanha nazista por Adolf Hitler. A fala desencadeou em uma série de críticas do governo israeslense. Em um comunicado divulgado na segunda-feira (19), o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, declarou que Lula se tornou "persona non grata" no país e exigiu uma retratação.

Em resposta, Lula optou pelo silêncio e decidiu não se desculpar com o governo de Israel. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi designado para mediar a crise diplomática com Israel.

Na segunda-feira (19), o chanceler brasileiro realizou uma reunião com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, após convocação. O encontro ocorreu no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Segundo a avaliação de interlocutores, esse ato representou um último gesto antes da possível ruptura de relações. 

A opção de Lula por manter-se em silêncio está diretamente relacionada a essa questão. Segundo aliados, a análise é de que o governo israelense tem agido para "escalar" a crise. Em viagem à África por cinco dias, o presidente cumpriu compromissos no Egito e na Etiópia. E a situação na Faixa de Gaza, epicentro do conflito entre Israel e Hamas, foi um dos temas mais explorados por Lula em suas agendas. 

Chanceler israelense quer pedido de desculpas

Nesta terça-feira (20), o ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, voltou a cobrar do presidente Lula pedido de desculpas pela declaração. 

“Milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler?”, começou o chanceler israelense, em uma atitude nada usual na diplomacia.

“É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez? Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel”, continuou Katz.

Em seguida, o ministro escreveu sobre as razões para Israel atacar o território palestino, comparando os inimigos aos nazistas alemães. 

“Israel embarcou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente. Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês. Se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares”, citou o chanceler.

No encerramento do texto, Israel Katz subiu ainda mais o tom contra Lula: “Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros.Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então – continuará sendo persona non grata em Israel!”.

Lula chamou embaixador em Israel de volta ao Brasil

Em meio às repercussões, Lula chamou de volta ao Brasil o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer. Na segunda, o diplomata foi convocado por autoridades israelenses para dar explicações sobre a comparação do petista. Israel Katz se reuniu com Meyer no centro memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém.

O local é totalmente fora dos padrões diplomáticos. Esse tipo de encontro geralmente é feito a portas fechadas, na sede do Ministério das Relações Exteriores do país onde o diplomata estrangeiro serve. Analistas internacionais dizem que Israel constrangeu o governo brasileiro.

Diplomatas brasileiros falam em “circo” por parte do governo israelense. Para integrantes do Itamaraty, houve, no mínimo, uma exposição desnecessária do embaixador. O certo é que a desocupação do posto em Tel Aviv, com a volta do embaixador ao Brasil, agrava o impasse diplomático entre Brasil e Israel.