Novo governo

Lula critica a ‘tal da estabilidade fiscal’ e defende ampliação de gastos

A equipe de transição estuda retirar as despesas do Auxílio Brasil do teto de forma permanente, o que desagradou o mercado financeiro. Os investidores reagiram automaticamente ao discurso desta quinta

Por O Tempo Brasília
Publicado em 10 de novembro de 2022 | 14:18
 
 
 
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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez nesta quinta-feira (10) um discurso com críticas à “estabilidade fiscal”, ao defender que é preciso colocar a questão social na frente de temas que interessam, segundo ele, apenas ao mercado financeiro.Ele também questionou por que ter meta de inflação e não ter meta para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse País? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste País?”, questionou o petista, em discurso no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), espaço onde trabalha a equipe de transição.

A equipe de transição estuda retirar as despesas do Auxílio Brasil do teto de forma permanente, o que desagradou o mercado financeiro. Os investidores reagiram automaticamente ao discurso desta quinta. Às 11h55, durante a fala de Lula, o Ibovespa, principal índice da B3, caía 2,63%, aos 110.596,89 pontos, após ceder 3,42%, na mínima aos 109.696,71 pontos. O dólar subiu 3% e passou a ser cotado a R$ 5,33 no mercado à vista.

Segundo o petista, é preciso mudar a forma de encarar determinados gastos que são feitos pelo poder público. “É preciso mudar alguns conceitos. Muitas coisas que são consideradas como gastos neste País, precisam passar a ser encaradas como investimento. Não é possível que se tenha cortado dinheiro da farmácia popular em nome de que é preciso cumprir a meta fiscal, cumprir a regra de ouro”, disse Lula.

O presidente eleito lembrou que, durante seus dois mandatos, entre 2003 e 2010, o Brasil respeitou as metas fiscais, os índices de inflação e deixou o País com superávit, em vez de dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Lula reafirmou, como fez na campanha eleitoral, que o país tem que retomar a credibilidade, a estabilidade e a previsibilidade. “A sociedade não pode ser pega de surpresa”, disse o petista.

Lula chora ao falar que sua 'missão' é acabar com a fome no país

Lula chorou ao falar sobre a volta do Brasil ao mapa da fome, após ter saído desse cenário nos oito anos de governo dele. O petista foi às lágrimas durante discurso na manhã desta quinta, em um auditório do CCBB.

“Não esperava que a fome voltasse ao país. Hoje repito o mesmo discurso de 2002 (ano da sua primeira posse). Porque, se, ao final do meu mandato, cada brasileiro estiver tomando café, almoçando e jantando, terei cumprido a missão da minha vida”, disse Lula, já chorando. Ele foi amparado pela esposa, Rosângela da Silva, a Janja. 

Após pedir desculpas por não segurar a emoção, Lula seguiu o discurso. “Quem nasce no asfalto, com energia elétrica e água potável, não sabe o significado de fazer cisternas no Brasil. Quando fizemos mais de 1 milhão de cisternas, pensamos na sobrevivência e na dignidade das pessoas que mais precisavam”, comentou em determinado momento.

“Eu quero ser cobrado pelas pessoas. Não quero tapinha nas costas. Tem que existir cobrança, porque existe uma dívida social com o povo brasileiro. Temos que estender a mão para quem não teve oportunidades”, completou Lula.

Petista se reúne com parlamentares

Lula visita nesta quinta, pela primeira vez, o local onde a equipe de transição de governo está trabalhando. O petista chegou ao CCBB pouco depois das 10h. 

Além de conhecer a estrutura do gabinete de transição, montado no complexo destinado à formação de servidores do Banco do Brasil e a eventos culturais, Lula fará reuniões com integrantes da equipe de transição, além de parlamentares das bancadas aliadas.

Entre outros, devem ir ao encontro de Lula no CCBB a senadora Simone Tebet (MDB), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o senador Marcelo Castro (MBD-PI), relator-geral do Orçamento de 2023.

Além dos partidos da coligação (PSB, PCdoB, PV, PSOL, Rede, Solidariedade, Avante e Agir), até agora estão confirmados no conselho político da transição representantes do PSD e do MDB. 

Lula diz sentir 'disposição' para aprovar PEC da Transição no Congresso

Lula desembarcou em Brasília na quarta (9), pela primeira vez após a vitória nas urnas em 30 de outubro. Pela manhã, esteve com Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) – liderança do Centrão que comandou a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado por Lula. À tarde, o presidente foi ao Supremo Tribunal (STF) e se reuniu com todos os ministros da Corte.

Após o encontro na Suprema Corte, Lula deu uma entrevista coletiva. Ele afirmou acreditar na aprovação pelo Congresso Nacional da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que será apresentada ainda durante o governo de transição para garantir a execução de serviços considerados essenciais pelo futuro governo. De acordo com o petista, não se trata de um projeto partidário referente a ele ou ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB).

O petista declarou que sentiu “muita disposição” ao conversar sobre o assunto com Lira e Pacheco. Segundo ele, Alckmin, que coordena a equipe faz a transição de governo, ainda vai discutir com os presidentes da Câmara e do Senado as intenções e o cronograma da PEC.

A PEC da Transição é necessária para o futuro governo de Lula cumprir promessas de campanha, inclusive a manutenção de serviços como o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 mensais e o extra de R$ 150 a crianças de até seis anos. Com foco na área social, a medida deve propor a retirada da regra do teto de gastos de medidas consideradas essenciais. O texto deve ser apresentado ainda nesta semana.

Ainda sem o valor estimado que precisará abrir no orçamento de 2023, Lula criticou quem já discursa contra a PEC. “Muitas coisas que as pessoas falam que é gasto, eu acho que é investimento. A saúde é investimento, porque investir em uma pessoa para ela não ficar doente é investimento. Farmácia popular é investimento para cuidar da vida das pessoas. Investir na educação não é gasto, é investimento. Nós precisamos mudar algumas nomenclaturas porque tudo o que a gente quer fazer é gasto, é gasto, é gasto”, reclamou. (Com Estadão Conteúdo)

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