O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou surpresa em relação à declaração do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sobre a possibilidade de criar uma unidade no Oriente Médio. O petista afirmou neste domingo (3) que o comandante da estatal petrolífera tem uma mente “muito fértil”.
“Primeiro, você deve fazer essa pergunta para o Jean Paul Prates. Porque eu não fui informado de que a gente vai criar uma Petrobras aqui [no Oriente Médio]. Como a cabeça dele é muito fértil, e ele pensa numa velocidade de Fórmula 1, e eu funciono numa velocidade de Volkswagen, eu preciso aprender o que é isso que ele vai fazer”, afirmou em entrevista e, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, durante a Cúpula do Clima da ONU (COP-28).
“A Petrobras não vai deixar de prospectar petróleo. É importante lembrar isso. Porque o combustível fóssil ainda vai funcionar durante muito tempo na economia mundial. Mas, ao mesmo tempo, a Petrobras vai se transformar numa empresa não de petróleo apenas, mas numa empresa que vai cuidar da energia como um todo”, completou o presidente. “Eu vou conversar com ele [Prates]. Você me deu uma bela informação”, encerrou Lula.
No sábado (2), em entrevista à “Bloomberg”, Jean Paul Prates anunciou o início de um estudo para viabilizar a abertura de uma subsidiária no Oriente Médio, denominada “Petrobras Arábia”, para fortalecer os laços comerciais na região do Golfo Pérsico.
Lula confirmou o ingresso do Brasil na Opep+
O Brasil produz mais de 3 milhões de barris de petróleo por dia, aproximadamente o mesmo que Irã e Emirados Árabes Unidos, que são membros da Opep. E, nesta COP-28, o governo anunciou que o Brasil passará a integrar a Opep+, grupo que reúne os 13 países da Opep mais 10 outros países observadores, sem direito a voto.
Diante de críticas, Lula afirmou no sábado, que o Brasil fará o papel de observador na Opep+, com a missão de convencer os países produtores de petróleo a se prepararem para o fim dos combustíveis fósseis. “Não apito nada”, ressaltou, em entrevista coletiva.
“O Brasil não vai participar da Opep, vai participar da Opep+. É que nem eu participar do G7. Participo do G7 desde que ganhei pra presidente da República. Eu vou lá, escuto, só falo depois que eles tomam a decisão. E venho embora. Não apito nada”, afirmou Lula.
“Eu acho importante a gente participar [da Opep+] porque precisamos convencer os países produtores de petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis. E se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles lucram para fazer investimento, para que os continentes como o africano e a América Latina possam produzir os combustíveis renováveis que eles precisam, sobretudo o hidrogênio verde. Porque se a gente não criar alternativa, a gente não vai poder dizer que vai acabar com os combustíveis fósseis”, completou.
Ministros endossaram ingressão do Brasil no bloco de grandes produtores de petróleo
A ingressão do Brasil na Opep+ foi endossada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e pelo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Após a declaração de Lula neste sábado, Silveira escreveu em redes sociais que o Brasil vai "liderar países produtores de petróleo para acelerar a transição energética".
Já a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse na sexta-feira (1º), também na COP-28, não ver contradição na entrada do país no bloco dos maiores produtores de petróleo do mundo, desde que seja para levar o debate da economia verde para a entidade.
"Em primeiro lugar, o Brasil não vai participar da Opep. Vai participar como observador, inclusive para usufruir daquilo que são os debates e os aportes tecnológicos", afimrou Marina, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ao mesmo tempo que se alinha aos produtores de petróleo, Lula critica dependência de combustíveis fósseis
Também na sexta-feira, em discurso na COP-28, Lula afirmou que é preciso reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e acelerar o ritmo de descarbonização da economia. O discurso ocorreu justamente um dia após o Brasil anunciar a adesão à a Opep+.
Lula ainda criticou o descumprimento de acordos climáticos e os gastos com guerras, além de cobrar novamente ajuda financeira dos países ricos: “O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis e é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.”
Ocorre ainda que a dubiedade do presidente sobre explorar petróleo na Margem Equatorial do Amazonas tem chamado a atenção internacional. O plano divide até o governo internamente. A área ambiental resiste em conceder licenças para que a Petrobras pesquise petróleo na região. Já a pasta de Minas e Energia defende o estudo com o propósito de extrair o recurso. Em falas recentes, o presidente tem minimizado a controvérsia.
Em Dubai, Lula criticou também os gastos com arsenais de guerra e cobrou mais dinheiro dos países ricos, o que ele tem feito desde a COP de 2022, no Egito. "O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro a países pobres que não chega", disse. "É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra", afirmou.
Menções a guerras também têm sido uma questão delicada para Lula, cujas declarações sobre os conflitos na Ucrânia e na Palestina já despertaram reações negativas na comunidade internacional. Numa das mais recentes, o petista equiparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao ataque terrorista do Hamas.
O presidente citou ainda a redução do desmate na Amazônia, cuja taxa de destruição caiu 22% em um ano, e reiterou a meta de zerar a devastação do bioma até 2030. Grande parte dos ambientalistas e do setor produtivo, porém, defende antecipar esse objetivo.
Além disso, a estiagem histórica seguida por um número recorde de incêndios no Amazonas expõe falhas no planejamento do governo na resposta aos eventos climáticos extremos. A própria gestão Lula admitiu que o número de brigadistas era insuficiente para dar conta do problema, agravado pelo El Niño, cujos efeitos graves eram alertados pelos cientistas desde o começo do ano.
Em sua fala, Lula afirmou ainda que o Brasil estabeleceu pontes com países florestais e criou visão comum com os vizinhos amazônicos. Mas na Cúpula de Belém, em agosto, divergências entre as nações que abrigam a floresta sobre o veto a novas explorações de petróleo na região e resistências de assumir a meta de zero desmate emperraram documento mais ambicioso.
Em Dubai, uma das principais apostas do governo neste ano é propor um novo fundo internacional que receba recursos como contrapartida para cada hectare de floresta preservado. A ideia do modelo é de que seja diferente do Fundo Amazônia e gerido por uma instituição financeira multilateral. “Vamos trabalhar de forma construtiva com todos os países para pavimentar o caminho entre esta COP-28 e a COP-30, que sediaremos no coração da Amazônia (em 2025, em Belém).” (Com Folhapress e Estadão Conteúdo)