Na abertura de seu discurso na Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados associados, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), solicitou nesta quinta-feira (7) o apoio da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para mediar o conflito entre Venezuela e Guiana. Segundo ele, o grupo não pode somente observar de fora o assunto.
"O Mercosul não pode ficar alheio ao tema. Sugiro que o companheiro presidente de turno da Celac (Salvador Sánchez Cerén) possa tratar o tema com as duas partes: a Guiana e a Venezuela. O Brasil está à disposição para sediar quantas reuniões de negociações forem necessárias. Não queremos e não precisamos de mais guerra, ainda mais no nosso continente. Temos que construir a paz para poder melhorar a vida das pessoas", afirmou.
Lula também apresentou aos chefes de Estado uma minuta de declaração elaborada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para apreciação dos líderes. O texto reafirma o compromisso da América do Sul em ser reconhecida como uma zona de paz, enfatizando a importância de utilizar as instâncias da Celac e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para promover e resolver de forma pacífica a questão em debate
A declaração de Lula na Cúpula do Mercosul ocorre após o petista convocar, na noite de quarta-feira (6), uma reunião de emergência com o chanceler Mauro Vieira e o embaixador Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais, sobre a tensão entre os dois países.
Entenda o conflito
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou na terça-feira (5) uma lei para Assembleia Nacional criar o Estado de Guiana Essequiba. A província surgiria da anexação do território de Essequibo, que é rico em petróleo e corresponde a 70% da Guiana. Sob denúncias de fraudes e com baixa adesão, o referendo realizado pelo regime chavista no domingo (3) aprovou medidas para tomada da região, que fica na fronteira com o Brasil.
E antes mesmo que parlamentares venezuelanos colocassem em votação sua lei, Maduro criou, também na terça-feira, a Zona de Defesa Integral da Guiana Essequiba, nomeou um general como “única autoridade” da área e e ordenou que a petrolífera estatal PDVSA conceda licenças para a “extração imediata” de recursos naturais na região. Para tal, criou a PDVSA-Essequibo.
Além de mexer com a Guiana, a cruzada de Maduro por Essequibo ameaça o equilíbrio político e econômico de todo continente, além de respingar nos Estados Unidos e na França. Apesar de pouco provável, nem um conflito armado é descartado. Maduro já mobilizou tropas. Mas, para entrar em Essequibo por terra, os militares venezuelanos têm que atravessar território brasileiro. Por isso, o Brasil decidiu mandar mais homens e até blindados para Roraima, o estado que faz divisa com Guiana e Venezuela.
Maduro ignora até os apelos de velhos aliados, como do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, em entrevista coletiva no fim de semana, durante a COP-28, em Dubai, pediu “bom senso” e deixou claro que a disputa não poderia ocorrer da maneira que está sendo colocada. Ele disse que vai visitar a Guiana em 2024.
(*) Enviada especial ao Rio de Janeiro