Banco Central

Lula e Campos Neto ficam frente a frente pela primeira vez após meses de atritos

Encontro foi costurado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad; reunião ocorre após dois cortes consecutivos na taxa de juros da economia

Por Manuel Marçal
Publicado em 27 de setembro de 2023 | 11:30
 
 
 
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Depois de meses de artilharia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne pela primeira vez, nesta quarta-feira (27), com o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto.  

O encontro, que acontece no Palácio do Planalto, foi costurado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad com objetivo de aproximar os dois, após meses de críticas do petista à autoridade monetária. 

A reunião ocorre um dia sair comunicado da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e após duas reduções sucessivas da taxa de juros da economia. O corte, de 0,5 ponto, levou a Selic de 13,25% para 12,75% ao ano. 

Mas ainda há um impasse. O governo espera por mais cortes na taxa de juros. Baseado no boletim Focus do Banco Central, fontes da Fazenda acreditam ser possível de até o fim do ano que vem a Selic ficar no patamar de 9%.  

No comunicado da última terça-feira (26) o Copom destacou ser possível a redução dos juros, embora tenham feito ressalvas com incertezas no cenário econômico.  

“Os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário" 

O encontro entre Lula e Campos Neto é visto como maturidade institucional após meses de guerra deflagrada pelo Palácio do Planalto. O petista e parlamentares governistas criticaram o alto patamar dos juros e cobravam pela redução da taxa Selic. O alvo era uma única pessoa: Roberto campos Neto.  

 

A interlocutores Campos Neto mostrou disponibilidade para encontrar com Lula já em 2023. Mas o petista teria negado o encontro, até acontecer a redução dos juros.  

Embora essa seja a primeira vez que os dois se reúnem em 2023, Lula e Campos Neto já se encontraram antes - ao fim de dezembro do ano passado, no apagar das luzes do governo do então presidente Jair Bolsonaro.  

 

Desconfianças e trégua 

A proximidade do presidente do Banco Central com parlamentares do Centrão, bem como o fato dele ter sido flagrado em um grupo de whatsapp, ainda este ano, com ex-ministros da gestão anterior, gerou desconfiança no Palácio do Planalto. Na interpretação de pessoas ouvidas pela reportagem, Campos Neto parece ter pretensões políticas. Essa suposição já foi manifestada publicamente por Lula em outras ocasiões.  

O petista chegou a chamar o chefe da autoridade monetária de “esse rapaz”, “esse cidadão” e que ele não servia aos interesses do Brasil, e não sabia “a quem ele servia”. E deu a entender que havia boicote de Campos Neto ao Palácio do Planalto uma vez que ele foi indicado pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Lula chegou a criticar a autonomia do Banco Central, mas não ganhou apoio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).   

Haddad como ponto de interlocução 

A guerra deflagrada por Lula a Campos Neto nos últimos dez meses não teve Haddad na mesma trincheira. O ministro da Fazenda e o mandatário chegaram a se desentender em relação a isso, ainda no início da atual gestão, no momento em que Haddad tentava conquistar confiança de investidores e da própria Faria Lima.  

Fontes do Ministério da Fazenda contaram sob reserva à reportagem que depois de dezes meses de governo Lula e com a redução consecutiva da taxa de juros, o momento “é mais propício” para o encontro entre os dois.  

Além disso, ida de Gabriel Galípolo (ex-secretário de Executivo do Ministério da Fazenda) e de Ailton Aquino para a cúpula do Banco Central melhorou a relação entre governo e a autoridade monetária. Os dois têm poder de voto no Copom.  

Na primeira reunião do Conselho Monetário, com os dois indicados por Haddad já empossados, o voto do BC não foi unânime para redução da taxa Selic. O que só veio ocorrer na semana passada, quando baixaram o juros pela segunda vez.  

 

Roberto Campos Neto e Fernando Haddad tem procurado trabalhar em harmonia. Eles almoçaram juntos, na última quinta-feira (21), após o ministro da Fazenda voltar dos Estados Unidos onde realizou mais de 60 roadshows com investidores e anunciou títulos verdes na Bolsa de Valores de Nova York.  

O presidente do Banco Central tem realizado agendas com Fernando Haddad e, na última delas, na própria sede da Fazenda, elogiou o trabalho da equipe econômica no anúncio da taxonomia sustentável. 

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