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Vaza Jato: Campanha de Bolsonaro teria procurado hacker; Zambelli admite reunião

A deputada federal Carla Zambelli afirmou ter se encontrado com o hacker. Ela até publicou foto ao lado de Walter Delgatti Neto, que invadiu Telegram de Sergio Moro e procuradores da Lava Jato, entre outras autoridades

Por Renato Alves
Publicado em 11 de agosto de 2022 | 08:32
 
 
 
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Responsáveis pela campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, se encontraram com o hacker da "Vaza Jato" para saber a opinião dele sobre a segurança das urnas eletrônicas. A informação é do advogado Ariovaldo Moreira, que defende Walter Delgatti Neto, o técnico em tecnologia apontado como o responsável por acessar ilegalmente contas do aplicativo de mensagens Telegram usadas por autoridades. Ele foi preso em 2019 e aguarda julgamento em liberdade.

Entre outros alvos, Neto extraiu as mensagens que deram origem à Vaza Jato,  série de reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil sobre o comportamento dos procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro, então responsável por julgar as ações da força-tarefa que levaram à condenação diversos políticos, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O contato de Delgatti Neto com bolsonaristas, em meio à atual campanha eleitoral, veio à tona nesta quarta-feira (10). A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirmou ter se encontrado com o hacker. Ela chegou a publicar uma foto ao lado de Delgatti Neto, com ambos sorrindo, mas negou que levou o homem ao encontro de Bolsonaro, enquanto admitiu uma reunião com o hacker. “Nego (sobre encontro com Bolsonaro), mas confirmo que estive com ele (Delgatti)”, disse a deputada ao portal de notícias G1.

No entanto, conforme apuraram diferentes veículos de comunicação, a deputada levou Walter Delgatti para um encontro com Bolsonaro nesta quarta. Entre as pessoas com quem Delgatti esteve está Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, segundo o advogado do hacker. 

Zambelli atacou hacker da Vaza Jato quando Moro integrava governo Bolsonaro

Quando as mensagens da Vaza Jato vieram à tona, Carla Zambelli atacou os hackers de várias formas. Ela chegou a comparar Walter Delgatti a Adélio Bispo – o homem que deu uma facada em Bolsonaro na campanha de 2018 – e enfatizou suas passagens na cadeia por furto qualificado, apropriação indébita, falsificação e estelionato. 

À época das revelações da Vaza Jato, Moro integrava o governo Bolsonaro. O então ministro da Justiça era amigo de Zambelli, tanto que foi padrinho de casamento dela. Já o presidente da República e seus seguidores apoiavam a Lava Jato, essencial para o crescimento do bolsonarismo e derrotas do petismo.

Delgatti Netto foi preso em julho de 2019, na Operação Spoofing, que desarticulou uma "organização criminosa que praticava crimes cibernéticos", segundo a Polícia Federal. As investigações apontaram que o grupo acessou contas do aplicativo de Telegram usadas por autoridades.

À época, Walter Delgatti Neto, admitiu à PF que entrou nas contas de procuradores da Lava Jato e confirmou que repassou mensagens ao The Intercept Brasil. Ele disse não ter alterado o conteúdo e não ter recebido dinheiro por isso. Parte das mensagens foi publicada no site, a partir de junho de 2019.

O juiz federal Vallisney de Oliveira, que autorizou as prisões, viu indícios de que os hackers se uniram para invadir as contas do Telegram. Investigadores disseram que os hackers tiveram acesso ao código enviado pelos servidores do aplicativo Telegram ao celular das vítimas para abrir a versão do aplicativo no navegador.

Revelações da Vaza Jato ajudaram na anulação das condenações de Lula 

No primeiro semestre do ano passado, Moro foi declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos processos envolvendo Lula. As mensagens da Vaza-Jato, que mostram constantes diálogos dos procuradores com o então magistrado, revelaram, entre outras coisas, Moro orientando integrantes da força-tarefa para levantar provas e até apontando quem deveria ser ouvido como testemunha. 

Ainda há trechos em que os procuradores debocham de Lula e parentes do ex-presidente. Também mostram que estavam empenhados em evitar que o petista fosse candidato a presidente em 2018. De fato, as ações da Lava-Jato impediram que Lula continuasse a campanha, vencida por Bolsonaro. Logo depois, Moro foi anunciado ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Atualmente ele é candidato ao Senado pelo Paraná.

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