Na sua primeira viagem internacional após as cirurgias que realizou em setembro, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), liderou uma comitiva de 14 ministros em uma romaria pelo Golfo Pérsico. As agendas incluiram um saldo positivo de investimentos para o Brasil. E uma polêmica diplomática para Lula.

Em seu primeiro compromisso, na última terça-feira (28), Lula encontrou-se com o príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman. Eles já haviam se encontrado previamente na cúpula do G20 em Nova Délhi, Índia, em setembro.

Acontece que Bin Salman está envolto em polêmicas, incluindo um episódio relacionado à gestão anterior. Ele presenteou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com um conjunto de joias avaliado em R$ 5,6 milhões, desencadeando investigações sobre possível tentativa de introduzi-las no Brasil sem declaração.

Há suspeitas também sobre o envolvimento de Bin Salman no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, conhecido por críticas ao príncipe em suas reportagens nos EUA.

Entre a polêmica e o investimento

Segundo Lula, o encontro com o príncipe foi positivo, discutindo os "investimentos sauditas no Brasil em diversos setores e o potencial de exportações brasileiras".

Um dos pontos da bilateral foi o possível investimento de US$ 10 bilhões do Fundo Soberano Saudita no Brasil, com US$ 9 bilhões previstos para os próximos sete anos, contemplando projetos em energia limpa, hidrogênio verde, defesa, ciência, tecnologia, agropecuária e infraestrutura ligada ao Novo PAC.

Ambos líderes visam aumentar as transações comerciais de US$ 8 bilhões para US$ 20 bilhões até 2030.

Investimentos na Embraer

No dia seguinte, a comitiva brasileira na Arábia Saudita esteve presente na Mesa Redonda Brasil-Arábia Saudita, reunindo empresários dos dois países, além de participar do Seminário Embraer, onde foram assinados três memorandos de cooperação.

Os acordos firmados abrangem áreas como aviação civil, defesa, segurança e mobilidade aérea urbana. Tais parcerias possibilitarão à empresa estabelecer relações tanto no setor público quanto privado do país.

Os acordos incluem um memorando de entendimento com o governo saudita, outro com a SAMI, empresa do setor de Defesa e Segurança, e um terceiro com a EVE, voltado para operações de táxi aéreo com veículos voadores. 

Passagem pelo Catar

No dia 30 de novembro, em Doha, capital do Catar, Lula proferiu um discurso no Fórum Econômico Brasil – Catar: Oportunidades e Negócios. Ele expressou o objetivo de transformar o Brasil em um “exportador de sustentabilidade”, ressaltando o potencial nos setores de energia solar, eólica, biocombustíveis e hidrogênio verde.

“O Brasil vai ser em breve um exportador de sustentabilidade. Temos imenso potencial nos setores de energia solar, eólica, biocombustíveis e hidrogênio verde”, defendeu.

Durante o evento, Lula também teve uma conversa com o emir do Catar, Tamim bin Hamad Al-Thani, sobre um refém brasileiro na Faixa de Gaza que pode ser libertado em breve. A assessoria de Lula mencionou que se refere a um cidadão brasileiro mantido refém pelo grupo extremista Hamas. O Catar tem atuado como intermediário entre Israel e o Hamas durante o atual conflito na região.

COP-28, a estrela da viagem

Na sexta-feira (1), o presidente Lula realizou seu primeiro discurso na abertura da conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes.

Durante sua fala, ele defendeu o redirecionamento dos gastos militares para combater a fome e a mudança climática, e a urgência de uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.

Lula também pressionou os países industrializados a estabelecerem metas mais ambiciosas no combate às mudanças climáticas.

Para o petista, há um “problema coletivo de inação, outro de falta de ambição” por parte dos líderes mundiais para cumprir tais objetivos. Além disso, reiterou para que os países ricos cumpram com a promessa de repassar bilhões de dólares para que as nações do Sul Global possam enfrentar as mudanças climáticas, além de passar por transição energética.

"Governantes não podem ser eximidos de suas responsabilidades. Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos, além de nossas fronteiras. O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo. Ajustamos nossas metas que são hoje mais ambiciosas do que a de muitos países desenvolvidos", completou.

Reuniões bilaterais 

No decorrer do primeiro dia na COP 28, o presidente Lula se reuniu com várias lideranças internacionais. Ele teve encontros com o secretário-geral da ONU, António Guterres, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, também presidente do Conselho da União Europeia, e o presidente de Israel, Isaac Herzog.

Durante a conversa com Guterres, o presidente brasileiro abordou o papel do Brasil na presidência do G20 e a possibilidade de apoio da ONU nesse processo. Além disso, discutiram o papel das instituições globais no novo cenário geopolítico e a necessidade de uma reforma da ONU, especialmente do Conselho de Segurança.

Com Ursula von der Leyen, Lula tratou do acordo entre Mercosul e União Europeia, tema que têm discutido desde o início do ano, visando a continuidade das negociações até a próxima Cúpula do Mercosul, marcada para 7 de dezembro, no Rio de Janeiro.

Com Pedro Sánchez, o foco foi na formação do novo governo espanhol e na importância de concluir as negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia, enquanto a Espanha preside o Conselho do bloco europeu.

Durante o evento, Lula também se encontrou com outros líderes, incluindo Emmanuel Macron, presidente da França, Santiago Peña, presidente do Paraguai, Mohammed bin Zayed Al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos, e Recep Tayyip Erdoğan, presidente da Turquia.

Últimos compromissos em Dubai

No sábado (2), em Dubai, o presidente Lula terá uma agenda repleta de compromissos. Iniciando com a participação em um evento de diálogo com a sociedade civil organizado pela Secretaria-Geral da Presidência da República.

Em seguida, está agendada uma reunião com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, seguida por uma participação na reunião do G77+China sobre mudança do clima. Lula também estará presente em um evento sobre florestas, abordando a importância de proteger a natureza para o clima, vidas e subsistência.

O dia inclui ainda reuniões com o francês Emmanuel Macron, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki, e o primeiro-ministro da República Democrática da Etiópia, Abiy Ahmed Ali.
A agenda do presidente brasileiro também inclui a celebração do Dia Nacional dos Emirados Árabes Unidos.