Há brasileiros entre as pessoas mantidas reféns pelo Hamas na Faixa de Gaza desde o início do ataque terrorista em 7 de outubro que levou Israel a declarar guerra.

Em um vídeo publicado nas redes sociais nesta quarta-feira (11), o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Jonathan Conricus, disse que os brasileiros foram sequestrados em um dos kibutz no sul do país. Ele não informou quantos são.

Além deles e de israelenses, foram levados cidadãos dos seguintes países: Argentina, França, Ucrânia, Alemanha e Estados Unidos. O porta-voz não disse  quantidade de reféns em poder do Hamas. A imprensa israelense fala em centenas.

“Dezenas de israelenses estão sendo mantidos em cativeiro em Gaza pelo Hamas, incluindo muitos deles com dupla nacionalidade. Então não é um desafio apenas de Israel, isso é algo que diz respeito a muitos dos países livres do mundo. Há [entre os reféns] americanos, britânicos, franceses, alemães, italianos, brasileiros, pessoas da Argentina e da Ucrânia e de outros países”, disse o porta-voz.

Ainda segundo Conricus, até  a mais recente atualização, 1.200 israelenses foram mortos e 2.700 feridos nos ataques do Hamas.

O Ministério da Defesa de Israel informou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil sobre os brasileiros feitos reféns. No entanto, ainda não foi divulgada a identidade deles nem o Itamaraty se pronunciou sobre o caso.

Até a manhã desta quarta, a carioca Karla Stelzer Mendes, de 41 anos, continuava desaparecida. Ela estava no festival de música eletrônica interrompida nas primeiras horas de sábado por terroristas do Hamas que chegaram atirando e lançando foguetes.

Presentes na mesma festa, uma edição local do festival criado no Brasil pela família do DJ Alok,o gaúcho Ranani Nidejelski Glazer e a carioca Bruna Valeanu, morreram após buscarem abrigo em um bunker, que acabou atacado por integrantes do Hamas.

Ainda há 50 brasileiros em Gaza, incluindo 16 crianças

Há 16 crianças na lista de brasileiros à espera de resgate na Faixa de Gaza, em meio aos pesados bombardeios de Israel após o ataque do Hamas, que controla o conclave palestino. Não há prazo para remoção dessas pessoas. Elas têm difíceis e perigosas barreiras a enfrentar até chegar à única porta de saída, na fronteira com o Egito. Precisam se locomover por estradas de péssima qualidade em meio ao risco de serem atingidas por disparos das forças de segurança israelenses.

Desde segunda (9), dois ônibus fretados pelo governo brasileiro aguardam autorização para embarcar os brasileiros na Faixa de Gaza e seguir viagem até a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Lá, outros dois ônibus alugados pela embaixada brasileira no Cairo levarão os brasileiros até um aeroporto, ainda não definido, onde os passageiros embarcarão em avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para o Brasil.

No entanto, desde o ataque surpresa do Hamas a Israel no sábado (7) o Egito aumentou o rigor do controle da passagem de Rafah. É grande a insegurança no local, único ponto de saída para os residentes em Gaza. Nos três primeiros dias de conflito, as forças israelenses jogaram bombas em Rafah, sob alegação que atacavam terroristas, enquanto milhares de civis esperavam em fila para atravessar a  fronteira rumo ao Egito.

O governo egípcio tem liberado a passagem gradualmente, mas, com a grande quantidade de pessoas que chegam a cada momento fugindo da guerra e o aumento no rigor da fiscalização alfandegária, é cada vez maior a quantidade de pessoas à espera de autorização para entrar no Egito. O governo local teme um êxodo em massa, que levaria graves problemas sociais para o país, além da circulação de terroristas e armamentos.

Faixa de Gaza tem uma das maiores densidades populacionais do mundo

A Faixa de Gaza é um enclave palestino governado pelo Hamas – considerado um grupo terrorista por diversos países do Ocidente, além de Israel –, que é densamente povoado e sofre com conflitos, bloqueios e pobreza. 

Limitada ao norte e ao leste pelo território israelense, a oeste pelo Mediterrâneo e ao sul pelo Egito, Gaza tem 2 milhões de pessoas vivendo em um estreito território de 360 km², sendo 41 km de comprimento e entre 6 a 12 km de largura. São 6 mil habitantes por km², uma das densidades populacionais mais altas do mundo.

Itamaraty diz haver cerca de 50 brasileiros à espera de repatriação em Gaza

Ao todo, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, diz haver cerca de 50 brasileiros em Gaza esperando a repatriação. Ele deu a informação na madrugada desta quarta-feira (11), na Base Aérea de Brasília – que fica no aeroporto da capital –, antes do pouso do avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com o primeiro grupo de brasileiros resgatados em Israel. 

Múcio Monteiro disse que o Itamaraty está em contato com as chancelarias dos países vizinhos à Israel para ajudar no deslocamento dos brasileiros que estão na Faixa de Gaza e outros que estão em regiões vizinhas à área de conflito. O contato está sendo feito com as embaixadas e governos do Egito, Cisjordânia e Líbano, que fazem fronteira com o país israelense.

“Lá é necessário se deslocar por terra porque nós não temos acesso para que o avião pouse. E estamos trabalhando para levá-los para um lugar seguro para que possam também voltar à sua terra. O presidente Lula tem orientado para que não fique nenhum brasileiro, então todos que desejarem voltar, nós vamos apresentar condições, e quero dizer que o Brasil é o primeiro país a realizar essa operação”, afirmou o ministro. 

Comandante da Aeronáutica aponta dificuldades para usar aeroporto do Cairo

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Damasceno, também falou das dificuldades para conseguir trazer de volta os brasileiros por via aérea, mesmo com embarque pela cidade do Cairo, capital do Egito. Ela contou que a FAB acompanha o movimento de fechamento e abertura das fronteiras dos países da região em conflito para encontrar a melhor estratégia.

“O plano inicial era embarcarmos todos na cidade do Cairo, mas é uma distância longa (até Gaza); Tem alguns check points a serem cruzados. Estamos analisando dois aeroportos ao Norte e Nordeste do Egito, com boas possibilidades de atendimento aos nossos brasileiros que estão na Faixa de Gaza, assim como os que estão na Cisjordânia”, detalhou Damasceno em entrevista pouco antes da chegada do primeiro avião da FAB de Israel.

Mas, assim como o ministro da Defesa, o comandante da Aeronáutica também garantiu que todos os brasileiros na Faixa de Gaza e na Cisjordânia que pediram ajuda ao Itamaraty para deixar a zona de conflito vão ser removidos. “Apesar da sensibilidade dessa missão, temos certeza que traremos todos. [Estamos] esperando abertura e fechamento da fronteira que acontecem em situações como essa”, ressaltou.

A secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, afirmou que há cerca de 2,5 mil brasileiros em Israel e cerca de 50 na Faixa de Gaza. Cerca de 6 mil moram em toda Palestina.