BRASÍLIA - Um dos 37 indiciados pela Polícia Federal (PF) por suposta participação nos planos de tentativa de um golpe de Estado em 2022 é José Eduardo de Oliveira e Silva, padre na Diocese de Osasco, em São Paulo, desde 2006. Com 427 mil seguidores no Instagram e 137 mil inscritos em seu canal no YouTube.
A influência virtual entre eleitores de direita que se identificam como cristãos e conservadores não para por aí e chega ao X (antigo Twitter). A rede foi recentemente foi envolvida em polêmicas pela investida de seu dono, o bilionário Elon Musk, contra a legislação e exigências da Justiça brasileira. Por lá, o padre fala com mais de 55 mil seguidores. Já no Facebook, reúne 109 mil adeptos ao seu perfil.
Em 2017, ele conseguiu projeção em seus perfis ao postar frases posições polêmicas. Uma delas foi sobre a ideologia de gênero, em que chegou a sugerir que a indústria farmacêutica criasse “um calmante em forma de supositório”. Também publicou sentir saudades "dos tempos em que o banheiro servia só para necessidades fisiológicas e não para exibicionismos de autoafirmação sexual".
Em dezembro de 2023, ele criticou o anúncio do Vaticano que autorizou padres da Igreja Católica a abençoarem relacionamentos de casais do mesmo sexo. Em uma entrevista ao site Aleteia, ele declarou que reza pela “conversão dos pecadores”.
Análise de divas do pop e altar patriota
Outra publicação que teve destaque nas redes do padre foi em agosto de 2023. Ele fez uma live intitulada “o poder da influência das divas do pop”. No vídeo, analisou imagens de videoclipe da música “Campo de Morango”, da cantora Luísa Sonza. Na visão dele, as imagens fariam apologia a “atos sexuais violentos” ou ao aborto. “Carrega algo que não é espiritualmente elevado. Tem contornos bastante malignos, até”, disse.
Na mesma gravação, mostrou capas de discos da cantora Madonna. “Ela gosta muito de explorar o universo, digamos, blasfemo. [...] Com um tipo de apelo lesbiano, algo assim”, declarou.
Já durante as eleições de 2022, no dia do primeiro turno, publicou uma foto de um “altar patriota”, com a imagem de uma santa rodeada por uma bandeira do Brasil. “Uns confiam em carros, outros em cavalos. Nós, porém, confiamos no Senhor e, assim, resistiremos”, escreveu.
Cursos on-line e post fúnebre
José Eduardo mantém um site em que vende uma série de cursos. Os temas são variados, como “teologia moral”, “o código do matrimônio” e batalha espiritual – aprenda a combater o mal”. Os valores dos cursos ultrapassam R$ 800 por ano. Ele ainda dá palestras sobre aborto e defesa da família, entre outras pautas.
O primeiro post do padre nas redes sociais depois do indiciamento pela PF teve teor fúnebre. Ele publicou uma foto ao lado de uma jovem hospitalizada e escreveu na legenda: “Essa é uma das doentinhas que eu mandei pro céu há alguns anos. O lindo do ministério é o que nenhum media vê: é o espetáculo maravilhoso da redenção”.
Indiciamento
Assim como todos os outros indiciados, o padre foi citado pela PF pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Ele tem ligação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem concedeu orientação espiritual após o episódio da facada em 2018.
Agentes de investigação indicaram que José Eduardo esteve em reuniões com Bolsonaro e integrantes do entorno do ex-presidente em foram discutidas formas de evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu as eleições em 2022, como a decretação de Estado de sítio e a prisão de autoridades.
O padre prestou depoimento à PF no início de novembro e negou acusações ao dizer que seus encontros com Bolsonaro eram para “apoio espiritual”, e não com conotação política. Uma das entradas dele no Palácio do Planalto foi em 19 de novembro de 2022, quando era construído um suposto plano de golpe.
Em fevereiro deste ano, José Eduardo foi alvo de uma operação de busca e apreensão conduzida pela PF, sob a suspeita de integrar o núcleo jurídico que formatou decretos de golpe. Na ocasião, ele também foi alvo de medidas cautelares, como a entrega do passaporte e a proibição de contato com outros investigados.