BRASÍLIA -  A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quinta-feira (4), a segunda fase da Operação Venire, que apura fraudes sobre a inserção de dados falsos de vacinação da Covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde. Um dos beneficiados teria sido o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que já foi indiciado no âmbito dessa investigação

Os alvos são o ex-prefeito de Duque de Caxias e atual secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, Washington Reis (MDB), e a secretária de Saúde da cidade da Baixada Fluminense, Célia Serrano da Silva. Os dois mandados de busca e apreensão foram autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR).

Segundo a PF, os agentes públicos seriam os responsáveis por viabilizar a inserção de dados falsos de vacinação contra o coronavírus no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), ambos do Ministério da Saúde.

A primeira fase da operação foi deflagrada em março deste ano e os agentes apontaram que servidores públicos do município ajudaram a registrar dados falsos de vacinação de Jair Bolsonaro (PL), do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, o tenente-coronel Mauro Cid, além de familiares de ambos e de seguranças do presidente e dos familiares de ambos. 

Ainda segundo a PF, a ação tem como objetivo buscar a identificação de novos beneficiários do esquema fraudulento.

PF indiciou Bolsonaro e Cid por suposta fraude 

Em março deste ano, a Polícia Federal indiciou Bolsonaro e mais 16 pessoas no inquérito que apura a falsificação de certificados de vacinas de Covid-19. O caso agora está sob a responsabilidade do Ministério Público Federal (MPF). Se acatar a denúncia, eles vão responder à Justiça pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público.

A investigação da PF conclui que um grupo de pessoas próximas de Bolsonaro inseriram informações falsas de vacinação contra Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde para obter os certificados de imunização mesmo sem tomar as doses necessárias.

A PF conclui também que os documentos de imunização no aplicativo ConecteSUS foram emitidos a partir de endereços de IP do Palácio do Planalto. Os downloads foram feitos dias antes e na própria data da viagem de Bolsonaro a Orlando, na Flórida, para onde foi dias antes do fim de seu mandato.

Em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF informou que foram quatro emissões, três delas ainda em  22, 27 e 30 de dezembro de 2022. Bolsonaro embarcou com a família para os Estados Unidos no próprio dia 30, horas depois do acesso ao sistema. Comprovantes com informações falsas sobre vacinação foram feitos em nome de Bolsonaro e Laura, segundo a PF.

 Além do ex-presidente, foram indiciadas pela PF em março deste ano as seguintes pessoas:

  • Mauro Cid, coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • Gabriela Santiago Cid, esposa da Mauro Cid;
  • Gutemberg Reis de Oliveira, deputado federal (MDB-RJ);
  • Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe de Mauro Cid;
  • Farley Vinicius Alcântara, médico que teria emitido cartão falso de vacina para a família de Cid;
  • Eduardo Crespo Alves, militar do Exército;
  • Paulo Sérgio da Costa Ferreira
  • Ailton Gonçalves Barros, ex-major do Exército, concorreu a deputado estadual no RJ pelo PL em 2022;
  • Marcelo Fernandes Holanda;
  • Camila Paulino Alves Soares, enfermeira da prefeitura de Duque de Caxias (RJ);
  • João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias;
  • Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro;
  • Max Guilherme Machado de Moura, assessor e segurança de Bolsonaro;
  • Sergio Rocha Cordeiro, assessor e segurança de Bolsonaro;
  • Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, servidora de Duque de Caxias;
  • Célia Serrano da Silva, ex-secretária de Saúde de Duque de Caxias.

Fraude teria contado com a participação de servidores de Duque de Caxias

A PF, no caso de Mauro Cid, também apontou crime de uso indevido de documento falso. Ele confessou ter fraudado não só o próprio cartão de vacinação, como o da esposa, Gabriela Cid, das três filhas, de Bolsonaro, Laura e outras pessoas próximas, como Max Guilherme Machado de Moura e Sergio Rocha Cordeiro, ambos assessores e seguranças de Bolsonaro. 

Todos os documentos apontavam que elas haviam sido vacinadas em Duque de Caxias (RJ), apesar de nenhuma delas morarem na cidade da Baixada Fluminense. Cid chegou a ser preso no âmbito da operação e áudio e mensagens deles falando sobre o esquema foram divulgados. 

Na época, o deputado Gutemberg Reis foi alvo de um mandado de busca e apreensão em Duque de Caxias, cidade natal dele, que é irmão do ex-prefeito da cidade Washington Reis (MDB). Reis, que é apoiador de Bolsonaro, é apontado como intermediador da fraude.

As doses foram registradas como se tivessem sido aplicadas em Duque de Caxias, entre agosto e outubro de 2022. Essas informações foram inseridas no sistema em 22 de dezembro de 2022, de acordo com a PF, por João Carlos Brecha, secretário de Governo em Duque de Caxias. Em 27 de dezembro, os dados relativos a Bolsonaro e Laura foram excluídos do sistema pela servidora Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva.

A PF, com base em levantamento da Controladoria Geral da União (CGU), identificou um terceiro registro de vacina no nome de Bolsonaro – este, uma dose da Janssen supostamente aplicada em São Paulo. Segundo a PF, quando Bolsonaro viajou para os EUA, essa era a vacina que constava em seu comprovante de vacinação.

A CGU descobriu que a dose, supostamente aplicada em São Paulo em 19 de julho de 2021, só foi incluída no sistema do Ministério da Saúde em 18 de outubro de 2022.

Bolsonaro sempre negou as acusações

Na época da operação desencadeada pela PF, Bolsonaro afirmou em entrevistas que nunca se vacinou contra Covid-19 e que não houve adulteração nos registros de saúde dele e da filha. ele também já havia dito que não permitiria que Laura fosse vacinada.

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