BRASÍLIA — A derrubada do sigilo da colaboração premiada de Mauro Cid expôs as gravações dos depoimentos que o ajudante de ordens prestou ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em audiência ocorrida em março, e registrada em filmagem com duração de uma hora, Cid chora ao citar o impacto da investigação na família, relata o abandono de aliados após a delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e mergulha em pânico após a leitura da ordem do relator Alexandre de Moraes, que, na data, decide mandá-lo retornar à prisão em caráter preventivo.
A audiência ocorreu no dia seguinte à publicação de áudios de Mauro Cid, pela Veja, alegando que a Polícia Federal (PF) o coagiu a dar declarações nos depoimentos que prestou no âmbito da investigação. “Eles [os policiais] queriam que eu falasse coisas que não sei, que não aconteceram”, afirmou na gravação. Nos áudios, ele também criticou a atuação do relator do inquérito. “O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público. Com acusação, sem acusação”, declarou.
BRASÍLIA — A derrubada do sigilo da colaboração premiada de Mauro Cid expôs as gravações dos depoimentos que o ajudante de ordens prestou ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em audiência ocorrida em março, e registrada em filmagem com duração de uma hora, Cid chora ao citar o… pic.twitter.com/RrdcM0qjij
— O Tempo (@otempo) February 20, 2025
A intimação de Mauro Cid para audiência após a circulação do conteúdo pretendia coletar explicações do ajudante de ordens sobre o contexto do diálogo — e dar a ele a oportunidade de refutar as acusações feitas ou mantê-las. Ao instrutor, Airton Vieira, Cid negou qualquer coação por parte da Polícia Federal. Ele confirmou que os áudios eram verdadeiros, mas declarou que não se lembrava com quem conversava.
“Efetivamente não lembro para quem falei. Foi um momento psicológico ruim. Foi para alguém próximo, mas ainda não conseguimos identificar quem foi a pessoa”, disse. Durante a audiência, Cid repetiu que atravessava um momento sensível e citou a interrupção da carreira diante das investigações.
“Minha família vive um ambiente muito pesado. Está muito carregado para minha família, psicologicamente. A gente não dorme antes da meia-noite para ver qual é a última notícia, e não acorda depois das 5h, 5h30, porque acordamos desesperados achando que vai ser publicado algo sobre mim”, afirmou.
“Tudo o que falei [nos áudios] era um desabafo. Não tinha ideia de criticar ninguém. A Polícia Federal sempre me tratou com respeito, nunca houve pressão”, completou. Cid ainda repete que não foi coagido pela PF. “Em nenhum momento me obrigaram a falar alguma coisa”, diz.
Em dois momentos da audiência, Mauro Cid chora. “Não tenho minha carreira mais. Não tenho para onde sair. A imprensa sempre está atrás. E nem direito de conversar eu tenho. Se desabafo com um amigo, no outro dia sai na imprensa…”, reclama sobre a exposição. Minutos depois, ele chora novamente quando cita o impacto dos áudios sobre a filha de 15 anos. “Por mais que minha filha tenha 15 anos, ela sabe o que está acontecendo. Fico preocupado. Depois que vazou a porcaria do áudio, minha filha chorava em casa…”, disse.
A audiência acaba com a leitura de uma ordem do ministro Alexandre de Moraes, determinando que Mauro Cid volte à prisão em caráter preventivo. Na gravação, o ajudante de ordens se desespera, passa as mãos pela cabeça e se revira na cadeira.