BRASÍLIA – Primo dos filhos mais velhos do ex-presidente Jair Bolsonaro e réu pelos atos de 8 de janeiro de 2023, Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, diz ter fugido para a Argentina. Ele alega que foi buscar asilo no país comandado por Javier Milei, aliado político do ex-presidente brasileiro, que nesta quarta-feira (26) virou réu por tentativa de golpe de Estado, com sete aliados.
Eleito suplente de vereador em Cascavel (PR) em 2024, Léo Índio deixou o Brasil. Ele alega “perseguição política”. Conta com a aceitação do pedido de asilo para continuar no país vizinho, para escapar de prisão em eventual condenação pela Justiça brasileira.
Em vídeo divulgado pela Massa FM de Cascavel na quarta-feira, Léo Índio afirma que está na Argentina há 22 dias, com uma permissão que precisa ser renovada a cada três meses. Em entrevista a um apresentador da rádio, ele declarou ter receio de ser preso quando precisar renovar o documento.
Ainda no mesmo bate-papo, Léo Índio criticou o PL, outros partidos de direita e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), por, segundo ele, não priorizarem o projeto que anistia os envolvidos nos atos de 8 de janeiro. “Infelizmente, pra direita e aliados, a anistia não está sendo prioridade”, afirmou.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Léo Índio por cinco supostos crimes cometidos ao participar dos atos de 8 de janeiro de 2023. Ele fez vídeos em cima do Congresso Nacional e próximo ao Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto os prédios eram invadidos e depredados. Os ministros da Corte aceitaram a denúncia da PGR, o que tornou o acusado réu.
Nesta quinta-feira (27), a Primeira Turma da Corte formou maioria para negar um recurso da defesa de Léo Índio e manter a decisão, de fevereiro deste ano, de abertura de ação penal contra o primo dos filhos de Jair Bolsonaro. O colegiado é o mesmo que na quarta-feira tornou Bolsonaro e aliados réus por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes.
Tramitam no STF as ações referentes ao 8 de janeiro de 2023 e episódios violentos que antecederam a invasão e destruição das sedes dos Três Poderes, em Brasília. A denúncia contra Léo Índio foi assinada em 15 de janeiro pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Ele disse haver provas da participação ativa de Léo Índio no “planejamento, incitação e execução” nos atos de 8 de janeiro de 2023.
“Há prova suficiente de que o denunciado, aderindo subjetivamente as ações delitivas praticadas por terceiros, em circunstâncias nas quais tinha conhecimento da finalidade dos atos praticados, participou como incitador e executor dos atos antidemocráticos, compareceu aos atos de insurgência ocorridos no Congresso Nacional e concorreu dolosamente para a prática das condutas criminosas pelo grupo expressivo de executores dos atos de 8.1.2023”, diz trecho da denúncia da PGR.
“[Léo Índio] destruiu e concorreu para a destruição, inutilização e deterioração de patrimônio da União, ao avançar contra a sede do Congresso Nacional, fazendo-o com violência à pessoa e grave ameaça, emprego de substância inflamável e gerando prejuízo considerável para a União”, escreveu também Gonet.
Durante a investigação, a Polícia Federal (PF) recuperou publicações de Léo Índio em redes sociais. Em uma delas, de 4 de janeiro de 2023, ele questionou um contato no WhatsApp se “irão invadir o congresso” e “se não for fazer nada, qual sentido?”. Para a PGR, isso é uma demonstração de incitação a atos de insurgência.
A PGR denunciou Léo Índio por:
- Associação criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito;
- Golpe de Estado;
- Dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima;
- Deterioração de patrimônio tombado.
O primo dos Bolsonaro foi alvo de duas etapas da Operação Lesa Pátria, desencadeadas pela PF para buscar provas sobre participação, organização e financiamento do 8 de janeiro.
Léo Índio também participou do acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército, erguido após o resultado das eleições de 2022 para pedir intervenção militar contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Foi de lá que saiu a maioria dos apoiadores de Bolsonaro que invadiram os prédios públicos em 8 de janeiro de 2023. A PF apontou que o acampamento serviu de ponto para organização não só deste como de outros eventos que visavam um golpe de Estado, como a tentativa de explodir um caminhão carregado com combustíveis no aeroporto de Brasília na véspera do Natal de 2022.
'Rachadinha' e 'gabinete do ódio'
Léo Índio é primo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Ele é sobrinho da primeira esposa de Jair Bolsonaro, Rogéria Nantes. Mais próximo de Carlos Bolsonaro, Léo índio foi apontado pela PF como um dos integrantes do chamado “gabinete do ódio”.
Antes da chegada de Jair Bolsonaro à presidência, Léo Índio foi, entre novembro de 2006 e janeiro de 2012, funcionário no gabinete de Flávio Bolsonaro, então deputado estadual do Rio de Janeiro. Léo Índio foi alvo de quebra de sigilo bancário no âmbito da investigação que apurou possível prática de "rachadinha". O caso foi arquivado.
Desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República, em 2019, Léo Índio passou a circular pelos gabinetes do Palácio do Planalto com livre acesso, mesmo sem ter cargo na Presidência – mas tinha um crachá permanente que lhe dava direito a livre trânsito no palácio presidencial.
Após vir à tona o trânsito livre de Léo Índio no Planalto, ele ganhou um cargo de confiança no Senado. Foi nomeado no gabinete do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), com salário de R$ 22.943,73.
Logo depois, Rodrigues foi flagrado tentando ocultar dinheiro na cueca durante uma operação da PF. Passou 20 anos consecutivos na Câmara dos Deputados e chegou a assumir o governo de Roraima, tendo seu mandato cassado.
Após o escândalo, Léo Índio foi exonerado do cargo, em agosto de 2020. Ele foi orientado por aliados do governo a deixar a função de assessor de Chico Rodrigues. O movimento fez parte da estratégia de blindar o presidente Bolsonaro no caso.
Com o nome de urna “Léo Índio Bolsonaro”, o sobrinho do ex-presidente tentou uma vaga na Câmara Legislativa do Distrito Federal em 2022, mas teve só 1.801 votos e não se elegeu. Em 2024, ele se candidatou pelo PP a vereador de Cascavel. Usando como nome de urna “Léo Bolsonaro”, obteve 739 votos e, mais uma vez, não se elegeu.
O TEMPO busca contato com a defesa do Léo índio. O espaço está aberto para manifestações.