BRASÍLIA - O pastor Silas Malafaia reclamou com Jair Bolsonaro da postura do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, em relação a Fabio Wajngarten, que era assessor do ex-presidente da República.

Em um áudio enviado a Bolsonaro, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo fez críticas a Valdemar, que na avaliação dele, estaria demorando para dar uma nova função a Wajngarten após sua demissão do partido, no mês de maio.

“Presidente, só um lembrete a você, até hoje o Valdemar Costa Neto não resolveu o problema do Fábio. Pois é uma tremenda de uma sacanagem. O cara que é um aliado teu, que até hoje fala com a imprensa, bota pra quebrar, te defende, interfere. Pô, eu tenho presenciado tudo isso, não é justo”, disse Malafaia.

No diálogo, Malafaia cita que o presidente do PL prometeu realocar Wajngarten em outra função interna. Ele pede para que Bolsonaro interceda junto a Valdemar para resolver a questão.

“Dá uma palavra aí, você tem, eu não quero falar aqui. Seu Valdemar fala uma coisa na frente e atrás, outra coisa. Só um vídeo, uma manifestação, só isso, mais nada, tá?". 

A conversa faz parte dos áudios que ajudam a embasar o relatório que pediu o indiciamento do ex-presidente e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por suspeita de coação e obstrução do julgamento da suposta trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF).

Silas Malafaia foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal no âmbito do inquérito. O STF autorizou a PF a apreender o passaporte do pastor, impedi-lo de manter contato com Jair e com Eduardo e determinou que ele preste depoimento.

O indiciamento de Jair e Eduardo

Na quarta-feira, os dois foram indiciados por suspeita de coação e obstrução do julgamento da suposta trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF). Em nota, Eduardo Bolsonaro criticou a PF por "vazamentos de conversas pessoais".

Caberá agora ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, avaliar o relatório da PF para decidir se denunciará ou não Bolsonaro e Eduardo. Por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, os autos já foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável por pedir a instauração do inquérito.

Parte do relatório da PF é amparada em diálogos entre o ex-presidente e Eduardo por WhatsApp. Em um deles, ocorrido em julho, o deputado chegou a afirmar que ambos teriam que decidir entre “ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num [regime] semiaberto”.

De acordo com a PF, a conversa, dias antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a sobretaxa de 50% às exportações brasileiras, evidenciaria que “a real intenção dos investigados não seria uma anistia para os condenados pelos atos golpistas realizados no dia 8 de janeiro de 2023, mas, sim, interesses pessoais” do ex-presidente atrás de “impunidade”. 

Para a PF, o deputado, assim, teria confirmado “sua ação consciente e voluntária” junto à Casa Branca por medidas contra o Brasil com a “finalidade de coagir autoridades brasileiras, em especial ministros do STF que atuam nas ações penais que apuram a tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito”.

A PF ainda citou que, no dia seguinte ao anúncio da sobretaxa de 50%, após duas chamadas de vídeo, Eduardo cobrou o pai para agradecer Trump em um “tweet vaselina”. “E, novamente, [Eduardo] ratifica a sua atuação criminosa para coagir autoridades brasileiras”, defendeu a instituição, acrescentando que o filho ainda se autointitulou como o responsável pela tarifa ao dizer “fizemos a nossa parte”.

Após cobrar o aceno a Trump, Eduardo criticou o pai, que, segundo ele, seria o “maior empecilho” para ajudá-lo. “Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso. [...] Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso, mas tenho receio que por aqui as coisas mudem”, disse o deputado federal.

Logo depois, Bolsonaro encaminhou uma nota a Eduardo para que fosse publicada nas redes sociais do ex-presidente. Nela, Bolsonaro frisou o “respeito” e a “admiração” pelo governo dos EUA. “Conheço a firmeza e a coragem de Donald Trump na defesa desses princípios (liberdade de expressão, de imprensa, de consciência e de participação política)”, acrescentou.