BRASÍLIA – Jair Bolsonaro (PL) movimentou R$ 44,3 milhões em suas contas entre março de 2023 e junho de 2025. Os valores foram apontados pela Polícia Federal (PF) em relatório do inquérito que resultou no indiciamento do ex-presidente e do seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP). 

A PF investigou a atuação do deputado federal nos Estados Unidos por sanções a autoridades brasileiras, que levou também a tarifas de 50% a produtos brasileiros. O presidente norte-americano, Donald Trump, disse ter tomado as medidas por causa de ações do STF contra Jair Bolsonaro.

Na investigação, a PF citou dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que identificou as transações de Jair Bolsonaro como “suspeitas de configurarem indícios de lavagem de dinheiro e outros ilícitos penais”, a partir de informações do Banco do Brasil.

A maior parte do valor se concentra em um ano, de março de 2023 a fevereiro de 2024, quando o ex-presidente recebeu R$ 30,5 milhões. Já o segundo maior montante recebido foi de 20 de dezembro de 2024 a 5 de junho deste ano, quando Bolsonaro recebeu R$ 11,1 milhões.

Confira a seguir as transações de Bolsonaro apontadas pelo Coaf e citadas no inquérito da PF: 

  • R$ 20,7 milhões recebidos foram oriundos de transações via Pix entre março de 2023 e junho de 2024
  • R$ 19,3 milhões foram enviados de março de 2023 a fevereiro de 2024
  • R$ 17 milhões foram enviados por apoiadores, via Pix, em uma campanha para pagar multas judiciais.
  • R$ 1,1 milhão foram repassados pelo Partido Liberal (PL) para Bolsonaro em um ano

De acordo com as informações que constam no relatório da PF, de março de 2023 a fevereiro de 2024, Bolsonaro recebeu R$ 30.576.801,36 em suas contas. Enquanto, R$ 30.595.430,71 foram retirados.

Dos valores que entraram nas contas do ex-presidente no período:

  • R$ 19,2 milhões são de 1,2 milhão de transações via Pix
  • R$ 8,7 milhões têm origem em 52 resgates de CDB/RDB
  • R$ 1,3 milhões são de três operações de câmbio
  • R$ 373,3 mil de proventos
  • R$ 304 mil de 203 transferências
  • R$ 166 mil de 12 resgates de aplicação
  • R$ 99.687,49 de uma previdência privada

Há ainda recursos oriundos de transferências do tipo DOC/TED, depósitos em cheque, depósitos online, entre outras.

O PL, partido ao qual Bolsonaro é filiado e presidente de honra, é o principal depositante de valores na conta do presidente (R$ 291 mil).

Já entre os valores que saíram das contas de Bolsonaro, estão: 

  • R$ 18,3 milhões em seis aplicações em CDB/RDB
  • R$ 7,5 milhões em quatro transferências DOC/TED
    R$ 1,5 milhão em 107 pagamentos de títulos, que podem ser boletos
  • R$ 1,1 milhão em 266 operações via Pix
  • R$ 749 mil em transferência para previdência privada
  • R$ 198 mil em 97 saques
  • R$ 52 mil no pagamento de 20 tributos/impostos
  • R$ 25 mil em três operações de câmbio
  • R$ 13 mil em contas de energia
  • R$ 13 mil em contas de telefone

Investigadores desconfiam de valores fracionados

As movimentações incluem gastos com compras, cartão de crédito, conta de água, entre outros. Entre os principais beneficiários de valores pagos por Bolsonaro, estão o advogado Paulo Cunha Bueno (R$ 3,3 milhões), o escritório de advocacia DB Tesser (R$ 3,3 milhões), uma empresa de engenharia (R$ 900 mil), um escritório de arquitetura (R$ 235 mil) e uma loja de veículos (R$ 130 mil).

Há também transferências para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e para Jair Renan, o filho mais novo do ex-presidente, que é vereador em Balneário Camboriú (SC). 

Os investigadores da PF identificaram ainda o repasse de recursos substanciais de Jair Bolsonaro para Eduardo, “de forma reiterada e fracionada, como forma de evitar o acionamento de mecanismos de controle legal”.

No relatório, a PF destaca o grande volume de transações em dinheiro físico e afirma que as movimentações feitas pelo ex-presidente estão sob a suspeita de serem “ocorrências de lavagem de dinheiro e outros ilícitos”.

“Entre 14.01.2025 a 11.07.2025, o investigado realizou 40 transações, entre saques em caixas eletrônicos (ATM) e atendimento presencial em guichê bancário.  No total, foram contabilizados R$ 130.800”, diz trecho do documento.

“Não se ignora a eventual necessidade do ex-presidente em realizar despesas de pequeno vulto, sobretudo durante deslocamentos e viagens realizadas ao longo de agendas públicas”, observam os investigadores.

“Entretanto, o grande volume de transações em dinheiro físico é indício relevante no contexto probatório, considerando os riscos associados à falta de rastreabilidade e a possibilidade de financiamento de ações de caráter ilícito”, completam.

Procurada pelo O TEMPO, a defesa de Jair Bolsonaro não se manifestou. Já Eduardo Bolsonaro, que mora nos EUA desde março, chamou o indiciamento de “crime absolutamente delirante”. Ele se manifestou por meio de nota, na quarta-feira (20/8), logo após ser indiciado.

O ex-presidente cumpre prisão domiciliar, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que o ex-presidente descumpriu medidas cautelares impostas a ele. A decisão do magistrado incluiu a apreensão de celulares de Bolsonaro e a proibição do uso de redes sociais.