BRASÍLIA - Cotado como candidato à presidência da República em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez afagos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (7/9), em ato na avenida Paulista, em São Paulo (SP). O governador se referiu a Bolsonaro como único candidato da direita à presidência em 2026 e subiu o tom contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Tarcísio insinuou que só haveria “liberdade”, “Estado Democrático de Direito” e “democracia representativa” caso Bolsonaro esteja nas urnas como candidato à presidência da República em 2026. “Para isso, é fundamental que nós tenhamos Jair Messias Bolsonaro nas eleições do ano que vem. Só existe um candidato para nós: Jair Messias Bolsonaro”, enfatizou, logo no início do discurso na avenida Paulista.
Com Bolsonaro inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação após um ataque às urnas em uma reunião com embaixadores no Palácio do Alvorada, o governador cobrou que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), paute uma anistia “ampla” e “irrestrita”. “Presidente de Casa nenhuma pode conter a vontade da maioria do plenário, a vontade de mais de 350 parlamentares. Então, Hugo, paute a anistia”, pediu.
Pouco antes de Tarcísio discursar, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, havia reiterado na mesma avenida Paulista que o partido não tem “plano B” à candidatura de Bolsonaro à presidência. “O nosso plano é Bolsonaro candidato a presidente”, emendou o ex-deputado federal, dias depois de afirmar que o governador de São Paulo se filiaria ao PL caso o ex-presidente o escolha como herdeiro eleitoral em 2026.
Apesar do apelo pela candidatura de Bolsonaro, o discurso de Tarcísio ganhou contornos de um pedido de bênção ao ex-presidente. O governador citou, por exemplo, uma direita que, segundo ele, teria nascido pelas mãos do aliado. “Uma direita que tem como slogan a liberdade, uma direita anti-sistema, uma direita que não aceita o arbítrio, uma direita que quer o Estado pró-business, uma direita que não aceita corrupção, uma direita que quer transformar o Brasil”, apontou.
Tarcísio ainda atacou Moraes, desafeto de Bolsonaro. Quando os presentes entoaram gritos de “fora, Moraes”, o governador chamou o ministro de “tirano”. “Por que vocês estão gritando isso? Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país”, criticou ele, apelando, em seguida, para que o passaporte diplomático do pastor Silas Malafaia seja devolvido.
O governador de São Paulo também repetiu os argumentos da defesa de Bolsonaro na ação penal por suposta tentativa de golpe de Estado ao criticar a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, uma das provas contra o ex-presidente. “Eles (Procuradoria-Geral da República) têm uma única delação, de um colaborador que mudou a versão seis, sete vezes, em três dias, sob coação. Essa delação vale para alguma coisa? Uma delação mentirosa”, contestou.
Em outra referência ao Judiciário, mas velada, Tarcísio insinuou que haveria uma “ditadura de um Poder sobre o outro”. “Nós não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. É isso que nós precisamos fazer. É isso que nós precisamos defender. Chega, chega de abuso, chega! (...) Eu tenho certeza que nós vamos celebrar aqui de novo com um líder que vai estar solto. Eu tenho certeza que a justiça vai se restabelecer”, disse.
O discurso inflamado de Tarcísio levou o decano do STF, Gilmar Mendes, a sair em defesa de Moraes. Na noite deste domingo, o ministro refutou que haja uma “ditadura da toga” ou ministros “tiranos”. “O STF tem cumprido seu papel de guardião da Constituição e do Estado de Direito, impedindo retrocessos e preservando as garantias fundamentais”, rebateu, acrescentando que a “verdadeira liberdade não nasce de ataques às instituições”.
Na última quarta (3/9), Tarcísio foi até Brasília em busca de se reunir com Motta para discutir a votação da anistia aos envolvidos na trama golpista. O governador de São Paulo intensificou as articulações após virem a público críticas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a ele por meio de um relatório da Polícia Federal (PF). Em mensagens privadas com o pai, Eduardo chegou a afirmar que o governador nunca lhe “ajudou em nada no STF”.