O escritório de advocacia D'Urso e Borges Advogados, que representa o cantor Alexandre Pires, divulgou uma nota na tarde desta terça-feira (5), afirmando que o artista "não tem e nunca teve qualquer envolvimento com garimpo ou extração de minério, muito menos em área indígena".
Pires e seu empresário, Matheus Possebon, são investigados por suposto envolvimento em um esquema ilegal de garimpo nas terras indígenas Yanomami, que teria movimentado cerca de R$ 250 milhões.
"Alexandre Pires foi tomado de surpresa diante da recente operação da Polícia Federal que indevidamente envolveu seu nome (...) Salientamos que o cantor e compositor jamais cometeu qualquer ilícito, o que será devidamente demonstrado no decorrer das investigações", divulgou.
Também nesta terça-feira (8), a produtora do cantor, que tem Matheus Possebon como um dos executivos, emitiu uma declaração em resposta à prisão de Possebon pela Polícia Federal, na segunda-feira (4). A empresa Opus Entretenimento afirmou, por nota, que "desconhece qualquer atividade ilegal associada a colaboradores e parceiros".
“Em relação a Alexandre Pires, uma das grandes referências da música brasileira, a Opus, responsável pela gestão de sua carreira, manifesta sua solidariedade ao artista, confiando em sua idoneidade e no completo esclarecimento dos fatos”, divulgou.
A PF deflagrou a operação Disco de Ouro na manhã de segunda-feira. Segundo a investigação, Matheus Possebon estaria ligado ao núcleo financeiro dos crimes, enquanto Alexandre Pires teria recebido ao menos R$ 1 milhão de uma mineradora que atualmente está sob investigação.
Possebon é um dos executivos da Opus Entretenimento, que organiza shows e gerencia casas de eventos e a carreira de grandes artistas e grupos musicais brasileiros, como Daniel, Seu Jorge, Ana Carolina, Jota Quest, Roupa Nova, Munhoz e Mariano, entre outros.
Após a operação da PF na última segunda-feira, Alexandre Pires tirou o nome de Possebon das suas redes sociais. O advogado Fábio Tofic Simantob, responsável pela defesa de Possebon, classificou a prisão como "uma violência".
"Foi decretada por conta de uma única transação financeira com uma empresa que Matheus não mantém qualquer relação comercial. Mais grave ainda, a prisão se deu sem que Matheus pudesse ao menos esclarecer a transação. A defesa, porém, está certa de que esta violência será prontamente desfeita, e que Matheus poderá, em liberdade, comprovar que nada tem a ver com a investigação", diz nota.
Justiça determinou o sequestro de mais de R$ 130 milhões dos suspeitos
A PF cumpriu na segunda-feira dois mandados de prisão preventiva – um deles contra Possebon – e seis de busca e apreensão, expedidos pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima. As ações foram realizadas em Boa Vista (RR), Mucajaí (RR), São Paulo, Santos (SP), Santarém (PA), Uberlândia (MG) e Itapema (SC). A Justiça também determinou o sequestro de mais de R$ 130 milhões dos suspeitos.
Alexandre Pires nasceu e tem casa em Uberlândia. Mas ele é dono de vários outros imóveis e mora em uma mansão avaliada em R$ 16 milhões na região da Granja Viana, em São Paulo. A propriedade de dois andares foi posta à venda no fim do último ano. Tem um terreno de 6.902 m² e conta com atrativos como piscina, sauna, estacionamento para 200 veículos, duas cozinhas industriais, ofurô e jardim de inverno.
O cantor também tem um imóvel em Itapema, em Santa Catarina, estimado em R$ 4 milhões, além de apartamento no condomínio Yachthouse Residence Club, em Balneário Camboriú (SC), no prédio que é considerado o edifício mais alto do Brasil, com 81 andares e 275 metros de altura — Neymar é dono da cobertura quadriplex do edifício.
Operação é um desdobramento de ação ocorrida em janeiro de 2022
A PF apura um esquema de financiamento e logística relacionado a atividades ilegais de garimpo em terras indígenas. Matheus Possebon, outros empresários e garimpeiros são acusados de movimentarem R$ 250 milhões em transações com cassiterita, minério usado para a produção de tintas, plásticos e fungicida, e que tem sido extraído ilegalmente em território Yanomami e outras localidades da Amazônia.
A operação Disco de Ouro é um desdobramento da ação da PF iniciada em janeiro de 2022. Na ocasião, foram apreendidas 30 toneladas de cassiterita extraídas da terra indígena Yanomami, que estariam armazenadas na sede de uma empresa investigada e que seriam enviadas para o exterior.
O inquérito policial sugere que o esquema estava direcionado para a “lavagem” de cassiterita retirada ilegalmente do território indígena. O minério seria declarado como proveniente de um garimpo regular no Rio Tapajós, em Itaituba (PA), e alegadamente transportado para Roraima para processamento. “As investigações apontam que tal dinâmica ocorreria apenas no papel, já que o minério seria originário do próprio estado de Roraima”, diz a PF em nota.
Além disso, foram identificadas transações financeiras que vinculam toda a cadeia produtiva do esquema, incluindo a participação de pilotos de aeronaves, postos de combustíveis, lojas de máquinas e equipamentos para mineração, bem como a presença de “laranjas” para encobrir movimentações fraudulentas.