O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que a Lava Jato se tornou uma “organização criminosa”. Neste domingo (17), a operação que mandou para a cadeia políticos como o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e investigou corrupção envolvendo a Petrobras completa 10 anos.
Na avaliação do ministro, as irregularidades apontadas na Lava Jato servirão de aprendizado para futuras operações de combate à corrupção no país.
“O que a gente aprendeu? Eu diria em uma frase: não se combate o crime cometendo crimes. Na verdade, a Lava Jato terminou como uma verdadeira organização criminosa, ela envolveu-se em uma série de abusos de autoridades, desvio de dinheiro, violação de uma série de princípios e tudo isso é de todo lamentável”, disse, em entrevista à Agência Brasil.
“Eu acho que a Lava Jato fez um mal enorme às instituições. Bem inspirada talvez, no início, ela acabou produzindo uma série de distorções no sistema jurídico político. Por isso, o meu balanço é marcadamente negativo”, completou.
Segundo o ministro, as investigações, de caráter espetaculosas, acabaram gerando “um resto de lixo em anulações”, sem o aproveitamento de provas, e vai ensinar ao Judiciário brasileiro o que não fazer.
“Certamente, muitos vão dizer: ‘ah, tem réus confessos que estão sendo isentados de culpa por conta de falhas processuais’, mas é assim no Estado de Direito em qualquer lugar. [...] E é isso que nós estamos fazendo e temos feito, tivemos o processo do Lula e outros. Então, me parece que nós fomos de uma euforia quase alcoólica a uma depressão, e os dois estados não são bons”.
Gilmar afirmou que a forma de a Lava Jato atuar não tinha apenas falhas processuais, mas era um “movimento político”. Ele ainda apontou que pessoas que coordenam na operação, como o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR) e o ex-procurador Deltan Dallagnol se envolviam com um grande volume de dinheiro.
“Aí surge a tal Fundação Dallagnol lá em Curitiba. Aqui em Brasília surge também algo semelhante com a tal Operação Greenfield. A gente descobre que esses nossos ‘combatentes da corrupção’ gostavam muito de dinheiro, o que é uma contradição nos próprios termos”.