Investigação

Mauro Cid e o pai, general do Exército, são alvos de busca e apreensão pela PF

De acordo com a Polícia Federal, os investigados são suspeitos de usarem a estrutura do Estado para desviar bens de alto valor patrimonial e fazer a venda dos objetos

Por Lucyenne Landim e Renato Alves
Publicado em 11 de agosto de 2023 | 08:31
 
 
 
normal

O tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general da reserva do Exército Mauro César Lourena Cid, foram alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (11) em operação que investiga a tentativa de vender, de forma ilegal, presentes entregues ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)  por delegações estrangeiras.

A PF também mirou o tenente do Exército Osmar Crivelatti e o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef. Assim como Mauro Cid, Crivelatti foi ajudante de ordens de Bolsonaro.

Dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Brasília (DF). Outro foi feito em São Paulo (SP) e o quarto, em Niterói (RJ). A investigação mira a prática dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

A PF informou que os investigados são suspeitos de usarem a estrutura do Estado brasileiro no desvio bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior.

"Os valores obtidos dessas vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores. Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de peculato e lavagem de dinheiro", informou a corporação por meio de nota.

A operação cumprida nesta sexta foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal e ocorre dentro do inquérito policial que apura a atuação do que se convencionou chamar “milícias digitais”. A ação foi chamada pela PF de "Lucas 12:2". "O nome da operação é uma alusão ao versículo 12:2 da Bíblia, que diz: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido", informou a corporação.

Na última semana, foram revelados e-mails que mostram o tenente-coronel Mauro Cid negociando um relógio da marca Rolex recebido em uma viagem oficial quando trabalhava no Palácio do Planalto. As mensagens fazem parte do conteúdo em posse da Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) do 8 de janeiro, que pediu à Presidência da República os e-mails enviados e recebidos por funcionários da Ajudância de Ordens na gestão de Bolsonaro. 

Em 6 de junho de 2022, Cid recebeu um e-mail em inglês de uma interlocutora. “Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui", disse ela. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa", escreveu.

Em resposta, Mauro Cid disse que não tinha o certificado do Rolex, pois “foi um presente recebido durante uma viagem oficial”, e que pretendia vender a peça por US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil, em cotação atual). Os e-mails não detalham o contexto do recebimento do relógio.

As suspeitas são de que Wassef, que advoga para a família Bolsonaro, tenha tido papel central na comercialização ilegal de itens. Já o general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, seria negociador de joias e outros bens nos Estados Unidos. Ele teria movimentado R$ 3.914.157 em contas bancárias entre fevereiro de 2022 e maio de 2023. As transações foram  consideradas "atípicas" para "agentes públicos"

Em outubro de 2019, durante uma visita à Arábia Saudita, o então presidente Jair Bolsonaro recebeu um conjunto de joias, composto por um Rolex, um anel, uma caneta e um rosário islâmico, do rei Salman bin Abdulaziz Al Saud. 

O item de luxo foi devolvido pela defesa de Bolsonaro em abril deste ano, após a Polícia Federal instaurar uma investigação para apurar outro conjunto de joias da Arábia Saudita, avaliado em R$ 5 milhões, retido pela Receita Federal no aeroporto internacional de Guarulhos (SP), conforme revelou o jornal "O Estado de S. Paulo". O ex-presidente nega qualquer irregularidade.

Como ajudante de ordens, Cid tentou reaver o conjunto de joias em posse do Fisco no fim do ano passado, antes de Bolsonaro deixar o poder e embarcar para os Estados Unidos. 

E-mail de militar registra que Bolsonaro recebeu saco de pedras preciosas

Na quinta-feira (3), reportagem do "Estado de S. Paulo" revelou que mensagens trocadas por militares vinculados à Presidência da República sugerem que Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) receberam um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas em Teófilo Otoni (MG), no ano passado. A troca de e-mails indica também que os presentes não teriam sido cadastrados oficialmente.

Bolsonaro esteve em Teófilo Otoni em 26 de outubro do ano passado, durante o segundo turno da campanha eleitoral vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Naquela data, o então presidente discursou em um comício, ao lado do pastor Silas Malafaia e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

A reportagem publicada pelo "Estadão" mostra cópia de dois e-mails trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk. Os três foram ajudantes de ordem da Presidência no governo Bolsonaro. 

Crivelatti era braço direito de Mauro Cid. Atualmente, Crivelatti é um dos assessores pessoais de Bolsonaro. As mensagens foram obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro na caixa de e-mails deletados do militar, que não havia apagado os itens deste canal.

Preso desde maio, Mauro Cid é alvo de várias investigações

Mauro Cid está preso desde maio e é investigado pela PF por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por manter conversas que tratam se suposto plano de golpe de Estado.

A CPMI do 8 de janeiro apura transações feitas por Cid. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, apontou que o militar movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses e que operação é incompatível com o patrimônio dele, que recebe R$ 26 mil por mês como oficial do Exército.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!