Levado, na manhã desta quarta-feira (19), para ser ouvido pelo delegado Rodrigo Bossi, da Polícia Civil, em mais um depoimento com o intuito de firmar uma delação premiada, o publicitário Marcos Valério registrou um boletim de ocorrência em que diz ter sido maltratado com o uso das algemas por parte dos agentes da Apac em que cumpre pena.
Na ocorrência, Valério alega ter sido algemado de forma árdua. Imagens feitas no local mostram as marcas deixadas nos punhos do empresário. Por conta das dores físicas, o depoimento a Bossi acabou sendo prejudicado.
Valério narra que estranhou a presença do agente penitenciário que o levou, uma vez que, no dia, não seria data de plantão do referido policial. “Ao ser retirado, foi algemado pelo próprio agente, porém as algemas foram apertadas sobremaneira a lhe causarem grande sofrimento físico”, mostra trecho da ocorrência.
Também ouvido, o agente penitenciário em questão negou ter algemado Valério de maneira árdua e afirmou ter seguido os padrões recomendados pela polícia.
O operador do mensalão Marcos Valério acertou o acordo de delação premiada com a Polícia Civil em março deste ano. Na negociação, ele prometeu entregar esquemas de corrupção nas estatais mineiras entre os anos de 1998 e 2014, além de possíveis irregularidades na construção da Cidade Administrativa.
Valério cumpre pena de 37 anos e cinco meses de prisão por participação no mensalão do PT. No ano passado, ele chegou a costurar uma delação com a Polícia Federal. Reportagens de O TEMPO mostraram o conteúdo de boa parte dos anexos do acordo, que, até hoje, no entanto, não foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Nos termos revelados pelo jornal, a delação citava políticos de Minas que, até então, não apareciam entre as principais figuras dos casos, como o ex-secretário de Estado de Governo Danilo de Castro (PSDB), o ex-deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Mauri Torres (PSDB) e o ex-ministro dos Transportes e ex-deputado Anderson Adauto (sem partido).
Na época, todos negaram envolvimento em ilícitos. Antes do acordo com a PF, o Ministério Público Federal (MPF) havia recusado a realização de uma delação com Valério. Em 2016, o então procurador geral da República, Rodrigo Janot, chegou a enviar dois representantes a Belo Horizonte para ouvir o operador, que implicou políticos com foro privilegiado. O acordo, contudo, não prosperou nem na esfera federal, nem na estadual.