Queda

PSDB busca se reinventar após perda de protagonismo em Minas

Partido já foi hegemônico no Estado, mas dá sinais de declínio desde a perda do governo em 2014

Por Ana Karenina Berutti
Publicado em 05 de dezembro de 2022 | 04:00
 
 
 
normal

O resultado das eleições de 2022 evidenciou a perda de espaço do PSDB no cenário político. De partido hegemônico em Minas Gerais, a legenda obteve seu pior resultado desde a fundação, em 1988. No Estado, a sigla chegou a eleger com facilidade, por dois mandatos consecutivos, lideranças com ressonância nacional, como Aécio Neves (2004 e 2008) e Antonio Anastasia (2010).

Mas, nas eleições de 2014, o PSDB começou a dar sinais de declínio quando outro tucano histórico, um dos fundadores da sigla, Pimenta da Veiga, perdeu a disputa pelo governo para o petista Fernando Pimentel. Em 2018, nova derrota, desta vez do então senador Anastasia para Romeu Zema (Novo).

Neste ano, o PSDB ficou em quarto lugar na disputa pelo Palácio Tiradentes, com Marcus Pestana, outro tucano ilustre, que não chegou a obter nem 1% dos votos válidos. Zema se reelegeu logo no primeiro turno.

A perda de prestígio político do PSDB se refletiu, também, na eleição proporcional. Em 2022, de três deputados federais, o partido conseguiu reeleger apenas dois: Aécio Neves e Paulo Abi-Ackel, presidente da legenda em Minas. Na disputa pelas cadeiras na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a perda foi maior: dos três parlamentares, apenas Leonídio Bouças garantiu seu lugar para o próximo mandato. 

Em compensação, o partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL, conseguiu eleger nove deputados estaduais e 11 federais, com destaque para alguns tucanos que migraram para o PL e, com isso, foram bem-sucedidos nas urnas em 2022. Este foi o caso, por exemplo, do deputado federal Domingos Sávio.

Para o deputado estadual Dalmo Ribeiro, que não se reelegeu neste ano, o PSDB ficou “espremido” entre o bolsonarismo e o petismo. Por isso, na sua visão, a sigla precisa se reorganizar e buscar uma reconstrução de olho nas eleições municipais de 2024.

Membro do PSDB durante 34 anos, Sávio trocou, neste ano, a legenda pelo PL para disputar a reeleição à Câmara dos Deputados. Segundo ele, Bruno Araújo, presidente do partido, lhe teria oferecido o limite máximo do Fundo Partidário para sua campanha, o equivalente a R$ 3 milhões. 

Além disso, o parlamentar teria a prerrogativa de escolher com quais candidatos a deputado estadual iria fazer dobradinha, tendo acesso, também, a parte dos recursos destinados a esses políticos. Ele preferiu receber do PL R$ 500 mil “com muito choro” e mais R$ 200 mil de doações de terceiros para o partido.

Na avaliação do parlamentar, o PSDB, apesar de ser um partido grande, perdeu o protagonismo nas eleições deste ano ao ficar “em cima do muro” diante da acirrada polarização entre esquerda e direita em nível nacional. Para ele, o PSDB precisa se reencontrar e definir se é oposição ou situação.

Sem candidato à Presidência

Na avaliação do deputado Aécio Neves, o fato de o PSDB não ter lançado candidatura própria nas eleições presidenciais culminou na redução das bancadas federais e estaduais de Minas. 

“O PSDB cometeu equívocos graves na condução dessa última eleição presidencial. Eu divergi muito internamente pelo fato de o partido não ter lançado uma candidatura à Presidência da República, inclusive tendo à disposição um nome como o do Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul”, justifica Aécio. 

Ele lamenta que o PSDB tenha deixado de ocupar um espaço natural como alternativa à polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Aécio pede ‘rejuvenescimento’

Aécio Neves defende o “rejuvenescimento” do PSDB por considerar que “ainda é um partido essencial para o Brasil”. Ele quer que a sigla adote um “novo conceito” e se posicione como “centro progressista e inovador”, além de retomar o protagonismo político do passado fazendo oposição ao governo do PT. 

“Eu defendo o rejuvenescimento do PSDB com esse reposicionamento no espectro político, na verdade, sintonizado com o sentimento da sociedade brasileira”, pontuou.

Aécio defende que o PSDB se posicione, rapidamente, como partido de oposição ao governo do presidente Lula. “Nós não vamos nos negar a dar contribuições ao governo do PT, mas devemos estar na oposição sem participar com cargos no governo”, assinalou.

Na avaliação de Aécio, Lula não ganhou de Bolsonaro, “foi a rejeição do Bolsonaro que ganhou da rejeição do Lula”. Nesse sentido, o PSDB tem que se firmar novamente como um partido que dialogue com os dois lados, tanto com o governo quanto com a oposição. 

O desafio, ele diz, é o PSDB se firmar, ampliar as alianças no Congresso e a federação, que hoje está formada com o Cidadania, para “ser o pilar de uma nova proposta para o país que não sejam as duas opções que polarizaram as últimas eleições”.

Para Aécio, a importância do PSDB não depende do número de políticos eleitos, embora seja um consenso entre as lideranças que ter feito três governadores tenha trazido um novo fôlego. 

Legenda quer ampliação da federação

Com a perda de espaço político nas eleições deste ano, o PSDB tem discutido uma ampliação da federação que já compõe com o Cidadania. O objetivo é formar um bloco que vem sendo chamado por algumas lideranças de “centro democrático”. A ideia é atrair, pelo menos, mais duas legendas. Uma delas seria o Podemos, que incorporou o PSC.

A convenção partidária, marcada para o dia 8 de dezembro, deve oficializar a união entre essas legendas. A partir daí, a construção da federação deve ser agilizada.

Se efetivada, a nova aliança contaria com 36 deputados federais e 12 senadores, além de três governadores tucanos: Eduardo Riedel (MS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Leite (RS).

As conversas sobre a estrutura da executiva da nova federação ainda estão em fase embrionária, mas lideranças políticas que estão à frente do processo dizem que a presidência do grupo deve ser exercida pelo governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, possível candidato a presidente nas eleições de 2026. 

Eleição de três governadores traz esperança e novo ânimo 

Depois do susto no primeiro turno com a redução das bancadas, o PSDB conseguiu eleger três governadores em disputa no segundo turno, Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS), além do vice-governador do Espírito Santo, Ricardo Ferraço. 

O desempenho nas eleições majoritárias trouxe, na visão do ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga, uma nova esperança ao partido. 

“A eleição de três governadores e um vice-governador, muito bem distribuídos geograficamente pelo país, com a vitória de lideranças fortes e jovens, trouxe outro ânimo ao PSDB”, acredita o político tucano. 

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!