Eleições

PT aposta nos velhos quadros para tentar prefeituras em MG

Marília Campos, Chico Simões e Nilmário Miranda são pré-candidatos. Sigla acredita que disputa deste ano não terá busca do eleitor por candidatos estreantes na política

Por Thaís Mota
Publicado em 11 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
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A renovação dos quadros políticos que marcou as últimas eleições em boa parte do Brasil não parece ser uma preocupação do Partido dos Trabalhadores (PT), pelo menos se forem considerados os nomes apresentados para disputar as maiores cidades do Estado.

Em Belo Horizonte, a sigla escolheu o ex-deputado e ex-ministro Nilmário Miranda. Marília Campos e Maria do Carmo Lara vão concorrer de novo, respectivamente, pelas prefeituras de Contagem e Betim, ambas na região metropolitana. Ainda tem Margarida Salomão, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, e Chico Simões, em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. 

Para o comando da legenda no Estado, é hora de apostar na experiência e no que “deu certo”. Para especialistas, a pandemia pode fazer o eleitor descartar a busca pelo novo e retomar a confiança em nomes tarimbados.

O presidente da legenda no Estado, deputado estadual Cristiano da Silveira, disse que a “história é cíclica” e que a busca pelo novo não necessariamente rendeu bons resultados citando as dificuldades enfrentadas pelo governador Romeu Zema (Novo) em Minas. Por isso, ele afirma, o PT apostou em nomes reconhecidos pela população para disputar aproximadamente 300 prefeituras mineiras.

“Por que a gente traz nomes que são conhecidos da política? Porque são todos nomes... no caso do Chico Simões, fez um governo muito bem avaliado em Fabriciano, tanto que fez a sucessão. Marília fez um grande governo em Contagem, e as pessoas lembram até hoje. Ela lidera algumas sondagens de pesquisas hoje. O Nilmário nunca foi prefeito de BH, mas foi um grande ministro, um bom secretário, os mandatos de deputado em defesa da democracia, todos reconhecidos. A Margarida, em toda eleição em Juiz de Fora, vai para o segundo turno. Então, como desprezar o óbvio?”, justificou.

Apesar disso, Silveira ressalta que a legenda tem um compromisso forte com a renovação, bem como com a diversidade. “O PT faz uma construção que reconhece a contribuição dos quadros históricos e a força política que muitos deles ainda têm, mas também tem espaço para a renovação”. Nesse sentido, ele citou que partido tem 50% de mulheres na direção, conforme definição estatutária, e 30% de jovens, além de 30% de negros. 

Entre os nomes novos, ele citou Patrícia Melo, que é da Juventude e direção estadual do PT, e deve disputar a Prefeitura de Uberaba, no Triângulo Mineiro, e o professor Arquimedes Diógenes Ciloni, que é ex-reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e será candidato a prefeito pelo partido no município. Já em Timóteo, no Vale do Aço, será a vez da servidora pública Jenifer Graciele. Nenhum deles ainda disputou cargo eletivo pela sigla. 

O parlamentar também avalia que a conjuntura hoje para o PT é melhor que em 2016, quando, segundo ele, o antipetismo era mais forte. “Naquele momento, nosso problema maior não era nem o perfil dos candidatos, mas o clima antipetista constituído na sociedade”, afirmou. “Hoje, passados quatro anos do ‘golpe’ sem entregar o que foi prometido para o povo brasileiro, as pessoas percebem que o grande problema do Brasil não é o PT”, completou.

De esquecido a esperança para chegar ao 2° turno

Apesar de ter surgido tardiamente como possível nome do PT para disputar a Prefeitura de Belo Horizonte, o ex-ministro e ex-deputado federal Nilmário Miranda foi quem obteve maior número de votos na legenda para encabeçar a chapa petista nas eleições municipais da capital mineira. Ele disputou a indicação a pré-candidato a prefeito de BH com o deputado federal Rogério Correia e venceu com 34 votos, contra 11 de Correia. 

O próprio ex-deputado confessou ter sido procurado pela sigla na véspera do prazo final para inscrição de pré-candidatos à prefeito da capital pelo PT e se disse surpreso com o resultado. “Não esperava porque não ocupo cargo político nem tenho mandato”, resumiu.

Nilmário estava na presidência do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh), mas disse que já pediu licença do cargo para se dedicar à campanha. Antes disso, ele foi deputado estadual constituinte por Minas entre 1987 a 1991, deputado federal por cinco mandatos, ex-ministro de Direitos Humanos no governo Lula e candidato por duas vezes ao governo de Minas Gerais, em 2002 e 2006, tendo perdido, nas duas vezes, para o hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB). Na primeira, Miranda teve 30,7% dos votos, contra 57,6% de Neves, enquanto na segunda o tucano foi reeleito com mais de 75% dos votos, contra 22% do petista.

A última eleição que disputou foi em 2018, quando concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ele recebeu pouco mais de 23 mil votos em todo o Estado, sendo 4.339 em Belo Horizonte. Áurea Carolina (PSOL) foi a candidata a deputada federal que obteve mais votos na capital: 79.290. O mais votado do PT na capital foi Patrus Ananias, com 42.942 (112.724 no total). A comparação mostra o tamanho do desafio de Nilmário.

Pandemia altera percepção de competência

Na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Felipe Nunes, a estratégia petista não é infundada. Ele afirma que pesquisas recentes têm apontado uma mudança de percepção do eleitorado em relação à renovação da política. “Nas pesquisas que nós temos feito, é cada vez maior o número de pessoas que preferem ter um político responsável e com capacidade de gestão, e já com experiência, do que ter alguém simplesmente novato e de fora da política”, disse.

Para ele, a mudança na tendência de voto em relação ao que vinha sendo observado desde 2016 está intrinsecamente relacionada à forma como a sociedade tem assimilado as respostas dadas pelos governantes à pandemia de coronavírus. 

Na mesma linha, o cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Malco Camargos afirma que a experiência em gestão para dar uma resposta à necessidade de políticas públicas, mais amplificada pela pandemia de coronavírus, alterou um pouco a tendência de voto verificada nos últimos anos. “A tônica do não político que foi hegemônica em 2016 e 2018 não necessariamente é a mesma para o eleitor em 2020”, diz.

Camargos acredita que, além da pandemia, o discurso acerca da corrupção se esvaziou, comprometendo parte da narrativa que alimentou o discurso da nova política. Além disso, ele avalia que a nova política também não foi capaz de dar as respostas que o eleitor esperava.

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