O aumento das instabilidades econômicas, com alta do dólar e a notícia de que o país registrou um crescimento econômico tímido e abaixo do esperado em 2019, deve fazer com que o governo federal acorde e acelere o envio de reformas econômicas ao Congresso Nacional.
Até agora, apenas a da Previdência foi enviada e aprovada e, mesmo assim, graças a um esforço feito ainda na gestão do então presidente Michel Temer (MDB), quando o assunto começou a ser discutido e os deputados passaram a ser conscientizados.
Enquanto o Congresso espera pela reforma administrativa, pronta desde o ano passado, mas não entregue ainda para a análise de deputados e senadores, e pela reforma tributária, que o governo ainda monta, os indicadores econômicos começam a dar sinais de deterioração, e, como se sabe, o reflexo político disso, normalmente, é o de perda de popularidade.
Não por acaso, as grandes viradas políticas na história recente da democracia no país se deram em momentos de aprofundamento de crises econômicas. Assim, Fernando Collor sofreu impeachment na década de 90, o PSDB perdeu o governo para o PT após oito anos de Fernando Henrique, e Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment após 13 anos de petismo no comando do país. Bolsonaro, que já não tem a popularidade nos melhores índices, deveria ter pressa para mudar os números, mas costuma dar um passo para frente e outro para trás.
Parlamentares parecem ter mais senso de urgência do que o Palácio do Planalto. Por isso, a reforma tributária vem sendo discutida com base em textos já prontos na Câmara e no Senado. A comissão foi instalada nessa semana mesmo sem texto do governo, principal interessado. Além disso, por diversas vezes o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já cobrou de Bolsonaro o envio da reforma administrativa.
As razões para o aumento da pressão econômica são muitas. A principal, sem dúvida, é o surgimento do novo coronavírus, que alastrou desânimo pelas bolsas mundiais por deixar incertezas quanto à capacidade do mundo de produzir em ritmo acelerado. Mas há razões internas também.
Paulo Guedes deixou o discurso técnico e reservado dos bons ministros da Fazenda para falar de improviso, fazendo piada e gerando sinais incertos. Como nas falas sobre o dólar, o que incentivou a alta da moeda. O presidente Jair Bolsonaro, que dá bananas para a imprensa, distorce os dados criando a figura do “PIB privado” e briga com o Congresso, também. A economia é que sustenta a política, mas, sem fazer política, as medidas econômicas não vão sair do papel. É um círculo vicioso.