O cenário para a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte no ano que vem é de falta de nomes certos para a disputa. Ao contrário de eleições anteriores, onde os partidos tinham pré-candidatos que já procuravam se mostrar antes do pleito, nesta eleição, com exceção do prefeito Fuad Noman (PSD), que pode tentar a reeleição, outros nomes são ventilados, mas sem muita convicção. 

Diferentemente da última eleição, em que o então prefeito Alexandre Kalil (PSD) não teve dificuldade em ser reeleito ainda em primeiro turno, o sucessor Fuad Noman (PSD), apesar de publicamente afirmar que não sabe se vai pra reeleição, está tendo que correr contra o tempo para apresentar uma boa gestão e se tornar conhecido ao eleitorado.
Noman assumiu a PBH no ano passado após Kalil deixar o cargo para ser o candidato ao governo de Minas. Atualmente, o prefeito enfrenta dificuldades de articulação com a Câmara Municipal (CMBH), o que pode prejudicá-lo em um possível projeto para a reeleição. 

Apesar do entorno do prefeito avaliá-lo como candidato em 2024, ele evita falar sobre o assunto. “Tenho um governo pela frente. Quero deixar um bom legado para Belo Horizonte. Se eu chegar em 2024 avaliando que devo me candidatar, eu me candidato, senão vou para casa cuidar dos meus netos”, disse o mandatário em entrevista à rádio Super 91,7 FM.

Do lado do Legislativo e com pretensões claras para o Executivo, o presidente da CMBH, Gabriel Azevedo (sem partido), é um nome que deverá compor a lista de candidatos em 2024. De berço político tucano e liberal, o vereador se define como centro e buscará espaço na esteira da ‘renovação política’. No entanto, ele ainda não se definiu por qual partido vai se candidatar e também ainda não se consolidou como uma liderança eleitoral da cidade. “Ainda há muita coisa por acontecer. Muitas federações saindo. Há muita coisa para acontecer até 2024”, afirmou o vereador. 

No campo do bolsonarismo, a expectativa é de que o deputado estadual Bruno Engler (PL) tente novamente a PBH. Em 2020, ele ficou em segundo lugar, com 9,95% (123.215 votos) contra 63,36% de Kalil (784.307 votos).

“O PL terá candidatura própria à Prefeitura de BH e possivelmente serei eu o candidato, meu nome está bem cotado dentro do partido devido ao resultado das últimas eleições municipais em 2020 e gerais no ano passado, nas quais recebi a confiança de boa parte dos belo-horizontinos. Isso tudo será decidido seguindo a orientação e liderança do Jair Bolsonaro”, afirmou Engler. 

Já o PSDB, que rivalizou com o PT por anos, e desde a redemocratização apresenta candidato próprio à prefeitura da capital, enfrenta o cenário de escassez de quadros para a disputa. Em uma federação com o Cidadania, os tucanos mineiros possuem hoje uma bancada estadual de apenas dois deputados e uma federal também com dois integrantes. 

Procurado, o presidente estadual do PSDB, deputado federal Paulo Abi-Ackel afirmou que as conversas sobre alianças para 2024 ainda vão acontecer e por isso é cedo para qualquer previsão. “Ainda não temos como fazer uma previsão clara”, disse o tucano.

Esquerda tenta recuperar espaço

Sem conseguir eleger um prefeito desde 2008, o campo da esquerda veio perdendo protagonismo na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte.

Essa perspectiva, no entanto, pode mudar, de acordo com a avaliação de algumas lideranças de esquerda da cidade. Para eles, a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abre espaço para a construção de lideranças que possam chegar com força a 2024, embora admitam que o campo conservador continua forte no Estado.

Embora as discussões sejam incipientes, algumas legendas defendem a construção de uma candidatura própria do campo e não apoio a nomes mais ao centro e centro-direita. As deputadas Duda Salabert (PDT) e Bella Gonçalves (PSOL) admitem a possibilidade de se colocarem à disposição.

“O PT vai trabalhar para voltar a ter nome, para apresentar uma candidatura, nós temos tempo para isso. Acho que, com a eleição do presidente Lula, a gente volta a ter condições favoráveis para a construção desses autores”, avaliou o presidente estadual Cristiano Silveira.

O presidente do PT não fala em nomes, mas outros interlocutores citaram as deputadas estaduais Beatriz Cerqueira e Macaé Evaristo como possibilidades.

“Se você me perguntar se sou ‘prefeitável’, digamos assim, eu sou. Mas claro que tudo é questão de diálogo e construção. Eu sou favorável a uma frente ampla”, diz Duda.

Cientista política avalia “pobreza’ política em todos os campos

Cientista político e professor da PUC Minas, Carlos Magno, avalia que o Estado vive uma “escassez de lideranças” em todos os partidos desde o governo de Aécio Neves (PSDB).

“Em Minas, desde a gestão do Aécio, a qualidade da política está diminuindo. É essa falta de discussão política que rebaixa o debate e torna o Zema viável – aliás, não só viável, como o tornam uma ‘liderança’ respeitada”, afirma Magno.

“O rebaixamento do debate político é consequência de um longo processo de marginalização da política como instrumento de construção de soluções para os problemas da sociedade”, completa Magno.

De acordo com o professor, essa marginalização empurrou os partidos políticos para um cenário de falta de projetos consistentes, gerando um certo descrédito dos eleitores. Com isso, a formação de novas lideranças nas legendas recuou.