Após quatro anos com uma relação conturbada na Assembleia e sem conseguir aprovar projetos prioritários para o Estado, o governador Romeu Zema (Novo) começou o segundo mandato buscando estreitar laços com os deputados estaduais. 
Nos últimos dias, Zema assumiu a articulação política e se reuniu pessoalmente com as maiores bancadas da Casa para uma reunião interpretada como de aproximação pelos parlamentares. 

Os encontros ocorrem em um momento em que o Executivo se prepara para apresentar a reforma administrativa e tentar, mais uma vez, aprovar a privatização da Codemig – projeto que foi apresentado em 2019. 

Até o momento, os encontros foram com deputados do PP, PSD e PL, mas a expectativa é que o governador se reúna com os parlamentares de todas as legendas da base. 

Diferentemente do primeiro mandato, quando o governador chegou a fazer duras críticas aos deputados após não aprovarem as reformas e as privatizações defendidas por ele durante a campanha eleitoral, agora Zema aposta no diálogo para destravar os projetos do governo. 

Nas próximas semanas, o governador deve enviar para apreciação dos deputados a reforma administrativa. A proposta tida como prioritária para o Estado pretende criar duas novas secretarias, a de Comunicação e a de Relações Institucionais. Ainda no primeiro semestre, segundo o governador em conversa com os deputados, o governo deve propor a venda das ações da Codemig, que é vista como fundamental para reduzir o estoque da dívida e viabilizar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

Apesar de não ter pedido apoio formal aos parlamentares e nem citar projetos específicos durante os encontros desta semana, Zema chegou a citar, segundo alguns deputados, a importância deles ajudarem no que for melhor para Minas, além de pedir celeridade nos trabalhos. 

Parceria. Na reunião com a bancada do PP e do PSD, o governador chegou a fazer um paralelo com o primeiro mandat e disse que agora quer ser parceiro da Assembleia para a realização de grandes obras. Segundo Zema, durante sua primeira gestão não houve recursos suficientes e que, por isso, o objetivo foi o de pagar as dívidas, mas que agora a intenção é trabalhar em parceria com os deputados para executar obras importantes em Minas. Um dos principais assuntos abordados pelo governador foi a situação das estradas que cortam o Estado. 

“Ele falou da importância também de alguns projetos, mas disse que não vai encaminhar nenhum projeto ‘goela abaixo’, tudo isso será conversado com os líderes. No mais, a reunião foi para reforçar a aproximação dos deputados da base com o governo e podermos sugerir (pautas)”, afirmou o deputado Sargento Rodrigues (PL). 

Segundo o líder do governo da Assembleia, Gustavo Valadares (PMN), o encontro do governador com os parlamentares foi uma agenda de cortesia que teve como expectativa o entrosamento do Executivo com o Legislativo que faltou nos últimos quatro anos. 

“É uma agenda que está sendo feita individualmente com cada partido, está começando pelas siglas que têm um número maior de deputados, mas todos terão a oportunidade de estar com o governador”, afirmou Valadares, que disse que os encontros estão sendo conduzidos por Zema a pedido do próprio governador. 

"O governador teve a sensibilidade de chamar, está querendo fazer sozinho, só está ele na sala junto com os deputados, então, tem liberdade total para conversarem dos assuntos que acharem pertinentes, é uma questão de aproximação", completou o deputado. 

Conversas agradam novatos e veteranos

O encontro tem sido bem visto pelos deputados, principalmente, pelo fato da conversa não ter tido intermediários. Geralmente quem comanda as articulações com os parlamentares são o secretário de governo Igor Eto e o vice-governador Mateus Simões, ambos do Novo. 

Segundo o deputado estadual Doutor Wilson (PSD), os parlamentares tiveram a oportunidade de apontarem quais projetos são prioridades de cada um. “É até melhor ter a oportunidade de ter uma conversa frente a frente, ele anotou as demandas. Foi uma conversa muito boa, o governador pode conhecer profundamente as áreas de atuação dos deputados”, afirmou o parlamentar que pediu atenção para os hospitais da Zona da Mata. 

O deputado Christiano Xavier (PSD), por sua vez, aproveitou o encontro para pedir celeridade na escolha do novo chefe da Polícia Civil e se colocou à disposição para ser ouvido no processo de escolha. Para os também novatos, Oscar Teixeira (PP) e Enes Cândido (PP), a reunião foi uma oportunidade para eles se apresentarem ao governador. A reunião da legenda com Zema teve a presença dos sete deputados do partido, além da deputada Lud Falcão (Podemos). “Geralmente esse papel (conversa) fica a cargo da secretaria de governo, mas o governador quis entender e conhecer as nossas demandas. Para a gente que é novato é muito bom para familiarizar, ter mais afinidade”, pontuou Cândido. 

Na avaliação do deputado Duarte Bechir (PSD), o governo Zema começa um novo ciclo de relacionamento com a Assembleia. O parlamentar acredita que o governo conseguirá apoio em projetos considerados prioritários para o Estado, como a reforma administrativa. Para ele, o projeto é urgente. 

"O governo está em outra cena, no mandato passado não conseguiu sentar com os partidos, estamos vivendo um novo ciclo. A reforma administrativa é muito urgente, não se faz alterações nos vencimentos do governador e dos secretários há muito tempo", pontuou o deputado ao citar a possibilidade do governo aumentar o salário do governador, do vice e dos secretários na reforma pretendida. 

O parlamentar também não vê impedimentos para a criação de novas secretarias. "O governo enxugou as contas em um momento que estava ruim e agora estabilizando pode crescer". 

Regime de Recuperação Fiscal deve ser tratado no 2° semestre

Durante o encontro do governador Romeu Zema (Novo) com a bancada do PL, os deputados Sargento Rodrigues, Delegada Sheila e Christiano Capporezo entregaram um ofício ao governador cobrando a recomposição salarial dos servidores da segurança para os próximos quatro anos. 

Segundo Rodrigues, Zema se comprometeu que os agentes não terão impacto ou prejuízos nas carreiras por conta da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O TEMPO mostrou, nesta terça-feira (7/3), que a proposta enviada pelo governo de Minas ao Ministério da Fazenda prevê que não haja correção real dos salários de servidores com base na inflação pelos próximos dez anos.

“Ele disse que o RRF não será tratado no primeiro semestre, só no segundo, que não é prioridade para ele tratar isso agora”, disse Rodrigues. "Pontuamos a nossa preocupação com os prejuízos aos servidores e ele garantiu que não vai acontecer", completou o deputado que solicitou ao governador uma reunião com a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) para discutir melhor o assunto.