O argentino Lucas Romero já enfrentou o Racing dez vezes na carreira. Venceu três e perdeu sete, mas o desafio mais importante do camisa 29 do Cruzeiro frente aos compatriotas ainda está por vir. Será no sábado (23), às 17h, no estádio La Nueva Olla, em Assunção, no Paraguai, valendo o título da Copa Sul-Americana.

“Fui rival de Racing, River (Plate), Boca (Juniors) e outros times lá. Mas, para mim, não tem nada de diferente. Seja quem estiver na frente, darei a vida. Queremos trazer uma taça e, novamente, alegria para a nossa torcida”, sentencia.

Embora utilize o sentido figurado, Romero não está exagerando quando promete “dar a vida”. Afinal, ele e demais cruzeirenses têm ciência de que o título representará muito mais do que o ato de erguer o troféu e assegurar vaga na Copa Libertadores de 2025.

Será mais um passo rumo à reconstrução do clube, que foi rebaixado em 2019 e ficou três anos disputando a Série B do Brasileiro. Além disso, marca a volta estrelada a uma final continental, desde o vice para o Estudiantes na Libertadores, em 2009.

Ídolo celeste da década de 1990, Roberto Gaúcho sabe bem a importância de a Raposa levantar essa taça. “Se o título vier, será num momento extraordinário para o Cruzeiro, depois que aqueles caras (ex-diretores) levaram o time para a Série B e a torcida sofreu por cinco anos. Vencer a Sul-Americana também será fundamental para o calendário do ano que vem, porque o Cruzeiro é um gigante do futebol continental e tem de estar na Libertadores”, analisa o ex-atacante, que tem 56 anos.

“Os jogadores precisam deixar tudo dentro de campo para trazer o título e permanecer nesse gigante, de camisa tão pesada. Será fantástico, porque ninguém esperava, né? Já que o time chegou na porta, tem de abrir, entrar e comemorar”, acrescenta o ex-camisa 11 cruzeirense.

Noite histórica com 80 mil pessoas no Mineirão

Com 221 jogos pelo Cruzeiro, dez títulos, 52 gols e participações decisivas, Roberto Gaúcho foi alçado a ídolo na Raposa. Portanto, fala com conhecimento de causa, pois sentiu na pele o que é marcar o nome na história estrelada. Aliás, uma delas, contra o próprio Racing, na conquista da Supercopa de 1992.

À época, o torneio era o segundo mais importante da América e reunia os campeões da Libertadores. A Raposa já havia sido campeã da Supercopa no ano anterior.

“A final contra o Racing foi muito importante e, para mim, ainda mais especial. Foi uma noite maravilhosa, fiz dois gols e dei uma assistência. Ganhamos de 4 a 0, no Mineirão, com 80 mil pessoas. Foi um jogo memorável. Tínhamos um timaço, deve ser um dos três maiores da história do Cruzeiro. Foi um título fantástico”, gaba-se.

Cruzeiro e Racing decidiram o título daquele ano em dois jogos. O show comandado por Roberto Gaúcho foi no primeiro, em 18 de novembro. A Raposa goleou por 4 a 0, com Luís Fernando e Marco Antônio Boiadeiro completando o placar. Na volta, uma semana depois, no estádio El Cilindro, em Avellaneda, os donos da casa venceram por 1 a 0, e os mineiros voltaram com a taça.

Roberto Gaúcho disputa lance com defensor do Racing, na final da Supercopa de 1992

 

“A conquista está na história, porque é importantíssimo ganhar título internacional. O Cruzeiro ficou ainda mais conhecido depois dessa nossa geração porque ‘ganhamos tudo’ na década de 1990. Uma conquista atrás da outra”, orgulha-se Roberto Gaúcho.

Companheiro do ex-jogador no título da Supercopa de 1992, o ex-zagueiro Célio Lúcio, de 53 anos, faz coro com o colega sobre a importância que terá superar o Racing na final da Sul-Americana.

“Se acontecer, a conquista será muito parecida com o bicampeonato da Supercopa, que alavancou o Cruzeiro para um novo processo na década de 1990 e para a ascensão completa nos anos seguintes. Um título como esse marca, traz motivação, traz confiança e será de suma importância nessa reconstrução do clube. Após subir da Série B, disputar uma final dessa será de muita valia para a sequência do Cruzeiro no cenário brasileiro, sul-americano e mundial novamente”, destaca.

Gaúcho relembra duelo com técnico do Racing: 'tentou me achar, mas não conseguiu' 

“Eu me lembro dele. Tentou me achar, mas não conseguiu. Naquela noite eu estava voando baixo”. Em tom jocoso, Roberto Gaúcho faz breve relato da atuação de Gustavo Costas, atual treinador do Racing, na final da Supercopa de 1992. O ex-atacante do Cruzeiro garante ter “deitado e rolado” em cima do então defensor argentino, no primeiro duelo da final, no Mineirão.

“Ele (Gustavo Costas) jogou de volante e lateral. Gostava de chegar, viu? Não perdia a viagem. Bateu muito no jogo, mas não teve jeito. Era um jogador muito dedicado, disciplinado, era ídolo”, define Gaúcho.

O antigo camisa 11 da Raposa elogia o técnico do Racing, mas...“É um grande treinador e tem feito ótimo trabalho, mas não vai ter jeito. Vai perder de novo, como perdeu para o Cruzeiro em 1992. Será 1 a 0”, prevê.

Início de carreira na Toca e sonho realizado ao lado do ídolo

Célio Lúcio chegou à Toca da Raposa para ser jogador aos 13 anos e se tornou profissional em 1991. Logo no ano seguinte, inaugurou sua galeria de sete títulos pelo Cruzeiro.

“Foi sensacional, porque subi em 1991, mas não participei em campo dos jogos da primeira Supercopa. Na segunda, tive a oportunidade de jogar e formar a zaga com Luizinho, que era um sonho meu desde criança. Foi nele que me espelhei para ser zagueiro. Sempre admirei muito o Luizinho”, revela o ex-defensor.

Então recém-promovido ao time principal, Célio Lúcio se firmou no clube com o título de 1992 e deu sequência à trajetória de sete anos e 248 partidas pela Raposa. “Foi uma conquista sensacional, em uma equipe que só tinha selecionáveis. O melhor time que joguei durante meu período no Cruzeiro”, elege o ex-atleta.

Luizinho e Célio Lúcio sobem para afastar o perigo da zaga do Cruzeiro, na final da Supercopa

 

O Cruzeiro de 1992 citado por Célio Lúcio ficou conhecido como “Time dos Sonhos”, em alusão ao Dream Team, seleção de basquete dos EUA, de Magic Johnson e Michael Jordan, campeã olímpica em Barcelona. A Raposa contava, entre outros, com atletas como Paulo César Borges, Paulo Roberto, Nonato, Douglas, Boiadeiro, Luis Fernando Flores, Betinho e Renato Gaúcho.

Auxiliar geral da categoria de base estrelada, Célio Lúcio confia no título, prevê um jogo muito difícil e projeta os efeitos da eventual conquista. 

“Tratando-se de final e de Cruzeiro, a gente pode acreditar até o fim, mas não arrisco um placar. O título será muito importante para todos do clube. Será essencial para que o clube volte a ser aquele que ganha títulos, que está sempre na cabeça e dando alegria aos seus torcedores”, observa.

Terceira decisão entre Cruzeiro e Racing

A final entre Cruzeiro e Racing, neste sábado, será a terceira decisão entre as equipes. Se na final da Supercopa de 1992 deu Raposa, o mesmo não tinha ocorrido na primeira edição do torneio, em 1988. O time argentino venceu em casa por 2 a 1, segurou o empate em Belo Horizonte (1 a 1) e ficou com a taça.