Com frequência, a posse de bola é utilizada como argumento no futebol para definir se um time jogou bem ou mal. Na avaliação de muitos que acompanham o esporte mais popular do planeta, a equipe que tem a bola na maior parte do jogo, em tese, foi mais “propositiva” e, por isso, é considerada como o time de melhor postura e atuação. Porém o Cruzeiro do técnico Leonardo Jardim tem ido na contramão desta teoria.
Líder do Campeonato Brasileiro com 34 pontos, a Raposa tem mostrado um estilo de jogo que preza pela objetividade, ao máximo. Das 16 partidas que o time celeste disputou até o momento no torneio, em apenas cinco ele teve mais posse de bola que o adversário - contra Red Bull Bragantino, Sport, Atlético, Fortaleza e Corinthians.
Em todos os outros 11 duelos, o adversário ficou mais com a bola que a Raposa: Mirassol, Internacional, São Paulo, Bahia, Vasco, Flamengo, Palmeiras, Vitória, Grêmio, Fluminense e Juventude.
Quem tem mais posse é mais agressivo?
Se muitos acompanhantes do futebol consideram que ter mais a posse é estar mais perto da vitória, os números do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro mostram que, mais importante que ter a bola é saber o que fazer com ela. Em seis jogos no torneio, o time azul finalizou mais que o adversário mesmo tendo menos posse de bola (contra São Paulo, Bahia, Flamengo, Vitória, Grêmio e Juventude). Em outros quatro confrontos, a Raposa conciliou maior posse de bola e maior número de chutes a gol (Sport, Atlético, Fortaleza e Corinthians).
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Dos jogos em que finalizou menos que o oponente, em cinco o Cruzeiro teve menos a bola nos pés: Mirassol, Internacional, Vasco, Palmeiras e Fluminense. Em apenas um, contra o Red Bull Bragantino, a Raposa teve mais posse e finalizou menos. Somando todos os 16 jogos que fez até aqui no Brasileirão, a equipe estrelada ficou com a bola em apenas 45% do tempo.
Ou seja, é uma equipe que não necessariamente abre mão da bola, mas quando a tem, busca resolver a jogada o mais rápido possível, sem cadenciar ou pensar demais para concluir o ataque. O que casa com o que Leonardo Jardim disse gostar de ver nas equipes que comanda, logo na sua apresentação como treinador do Cruzeiro, no dia 10 de fevereiro deste ano.
“Gosto de uma equipe que tenha a bola, mas com transição rápida quando tiver espaço, com mudança de lado quando nos pressionarem nos corredores. Que seja uma equipe compacta, que consiga pressionar o adversário”, afirmou, em sua primeira entrevista coletiva como treinador do Cruzeiro.
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O ‘estilo Jardim’ funciona?
O melhor aproveitamento do Cruzeiro é exatamente nos jogos em que ele teve menos a bola nos pés. Das 10 vitórias da equipe celeste no Brasileirão, oito foram nesses jogos em que a Raposa teve menos o domínio da pelota - Mirassol, Bahia, Vasco, Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Fluminense e Juventude. Somando os 11 jogos em que teve menos posse de bola, o Cruzeiro tem aproveitamento de 78,7% (além das oito vitórias, empatou com São Paulo e Vitória e perdeu para o Internacional).
Já considerando as partidas em que o Cruzeiro foi mais dono da posse de bola que o oponente, o aproveitamento cai. Foram cinco duelos em que o time estrelado ‘propôs mais o jogo’ que o adversário - Red Bull Bragantino, Sport, Atlético, Fortaleza e Corinthians. A Raposa venceu dois, empatou dois e perdeu um desses confrontos – aproveitamento de 53,3%.
Os números refletem uma dificuldade que a Raposa tem diante de equipes que adotam postura mais defensiva. No clássico contra o Atlético, o time alvinegro optou por uma marcação mais baixa, complicando as ações do Cruzeiro, que teve dificuldades para criar grandes chances e não conseguiu furar a defesa do rival.
Contra o Corinthians, a equipe celeste também se deparou com uma equipe mais dedicada na marcação e também não conseguiu dar grandes sustos no goleiro corintiano. Nas duas partidas, a Raposa sentiu falta de um 'quebra-linhas', um atleta que consegue quebrar a marcação adversária com dribles.
Veja abaixo o número de finalizações e a porcentagem de posse de bola de cada jogo do Cruzeiro no Brasileirão 2025:
- Cruzeiro 2 x 1 Mirassol - posse de bola: Cruzeiro 44% x 56% Mirassol. Finalizações: Cruzeiro 8 x 16 Mirassol
- Internacional 3 x 0 Cruzeiro - posse de bola: Internacional 68% x 32% Cruzeiro. Finalizações: Internacional 24 x 6 Cruzeiro
- São Paulo 1 x 1 Cruzeiro - posse de bola: São Paulo 57% x 43% Cruzeiro. Finalizações: São Paulo 11 x 15 Cruzeiro
- Cruzeiro 3 x 0 Bahia - posse de bola: Cruzeiro 39% x 61% Bahia. Finalizações: Cruzeiro 14 x 7 Bahia
- Red Bull Bragantino 1 x 0 Cruzeiro - posse de bola: Red Bull Bragantino 42% x 58% Cruzeiro. Finalizações: Red Bull Bragantino 20 x 12 Cruzeiro
- Cruzeiro 1 x 0 Vasco - posse de bola: Cruzeiro 43% x 57% Vasco. Finalizações: Cruzeiro 11 x 15 Vasco
- Cruzeiro 2 x 1 Flamengo - posse de bola: Cruzeiro 41% x 59% Flamengo. Finalizações: Cruzeiro 17 x 6 Flamengo
- Sport 0 x 4 Cruzeiro - posse de bola: Sport 46% x 54% Cruzeiro. Finalizações: Sport 11 x 17 Cruzeiro
- Cruzeiro 0 x 0 Atlético - posse de bola: Cruzeiro 53% x 47% Atlético. Finalizações: Cruzeiro 21 x 7 Atlético
- Fortaleza 0 x 2 Cruzeiro - posse de bola: Fortaleza 49% x 51% Cruzeiro. Finalizações: Fortaleza 10 x 17 Cruzeiro
- Cruzeiro 2 x 1 Palmeiras - posse de bola: Cruzeiro 36% x 64% Palmeiras. Finalizações: Cruzeiro 14 x 18 Palmeiras
- Vitória 0 x 0 Cruzeiro - posse de bola: Vitória 52% x 48% Cruzeiro. Finalizações: Vitória 9 x 18 Cruzeiro.
- Cruzeiro 4 x 1 Grêmio - posse de bola: Cruzeiro 46% x 54% Grêmio. Finalizações: Cruzeiro 17 x 11 Grêmio
- Fluminense 0 x 2 Cruzeiro - posse de bola: Fluminense 69% x 31% Cruzeiro. Finalizações: Fluminense 28 x 8 Cruzeiro
- Cruzeiro 4 x 0 Juventude - posse de bola: Cruzeiro 48% x 52% Juventude. Finalizações: Cruzeiro 16 x 6 Juventude
- Corinthians 0 x 0 Cruzeiro - posse de bola: Corinthians 47% x 53% Cruzeiro. Finalizações: Corinthians 7 x 14 Cruzeiro