Camila Campos, cantora gospel: “depois do meu caso, sei que muitas mulheres passaram a ter mais cuidado. Isso, porque qualquer coisinha pode ser um sinal de câncer de mama. Eu estava bem, a mama com aspecto saudável e já produzindo o leite por causa da gravidez. Só que convivia com uma dor nas costas muito forte, a ponto de me incapacitar. Era difícil até mesmo ir ao pronto-socorro.

Os médicos que me atendiam sempre tentavam descobrir o motivo dessa dor nas costas. E era muito complicado ter um diagnóstico mais preciso devido à gravidez. Muitos dos exames não podiam ser feitos e, sem saber qual era a causa da dor, precisei começar a tomar medicamentos. Não tinha mais alternativa, mesmo estando grávida. Eu necessitava dos remédios, a dor era aguda e diária.

Só que, em uma das janelas gestacionais, quando o bebê já estava formado, nós conseguimos fazer um exame de imagem. A médica, então, chegou a mim e disse que, apesar das dores nas costas, o que eu tinha era um câncer de mama. Na hora não entendi nada, não tinha nenhum dos sintomas comuns. Além disso, sou muito nova, tenho 35 anos. A recomendação para mamografia na rede privada, por exemplo, é a partir dos 40; no SUS, dos 50.

O primeiro sintoma do câncer de mama da cantora gospel Camila Campos foi uma dor nas costas - Foto: Flavio Tavares / O TEMPO

A verdade é que, além de não entender, o que senti naquele momento foi muito medo. Quando você se depara com um diagnóstico de câncer, no mesmo instante passa a pensar na morte, não tem como. E logo começa a lembrar das pessoas do seu ciclo e a se questionar: quanto tempo eu passei com fulano? Será que vou poder ver beltrano mais uma vez? A única coisa que conseguia pensar naquele dia era na minha família e nos meus amigos.

Os médicos decidiram me internar de imediato. Isso, porque o nódulo, que era muito pequeno, já tinha caído na corrente sanguínea e foi parar na coluna. Eu estava com algumas lesões tumorais, o câncer já tinha ganhado uma proporção relevante. Algo que pode ter ocorrido por causa desse tempo que levou para ter um diagnóstico mais preciso. A primeira crise de dor aguda foi no dia 15 de abril, e só fui hospitalizada em 2 de julho. 

Minha prioridade naquele momento era o bebê, tanto que fui internada na ala da maternidade. O problema era que a doença estava se desenvolvendo de forma muito rápida por causa da quantidade de hormônios e também da gravidez. Toda a equipe médica do hospital se mobilizou para estudar o meu caso. Foi então que decidiram fazer uma primeira quimioterapia. Eles tinham a segurança de que seria possível realizá-la sem afetar o bebê.

A partir de então, os exames de ultrassom começaram a ficar mais frequentes, era uma forma de acompanhar a gestação e ver a possibilidade de antecipar o parto. Eu convivia com muita medicação para dor, muitos remédios pesados, e a prioridade que tinha era a de que o bebê pudesse nascer com saúde. Então os médicos, eu e o Léo nos reunimos e decidimos que o parto seria antecipado. A Sofia iria nascer prematura.

Esse foi mais um momento em que senti muito medo. A equipe da maternidade, percebendo esse sentimento, foi me preparando para qualquer possibilidade. Lembro que uma das profissionais chegou a mim e disse: “É um bebê que recebeu muita medicação pesada, até uma quimioterapia. Então nós vamos estar preparados para recebê-la até mesmo desacordada”. Era uma sensação de insegurança muito grande.

As pessoas tentavam me ajudar da forma que era possível. Até ganhei uma maquiagem de presente para as fotos que seriam feitas no hospital. Só que, enquanto me preparavam, eu chorava muito. O meu rosto ficava todo borrado. Antes de ir para a sala de parto mesmo, precisei tomar morfina. Então, dá para ter uma ideia do que eu estava sentindo. Tinha a consciência da necessidade de antecipar o nascimento da Sofia, mas só conseguia pensar nos riscos para ela e para mim.

Tudo mudou, na verdade, quando as portas do meu quarto se abriram. Eu já não tinha mais medo, comecei a acreditar que tudo iria dar certo. Enquanto me levavam para a sala em que o parto iria ser feito, me encontrei com uma corrente de pessoas em oração, segurando cartazes com mensagens de apoio. O hospital parece que parou para me desejar força, me senti totalmente abraçada pela equipe médica e pelos familiares e amigos que ali estavam.

E nós tivemos o parto. Se antes de ir para a sala eu tinha o medo de receber a Sofia desacordada, o que ocorreu foi totalmente o contrário. Ela nasceu chorando, e muito alto. Não precisou de respirador, nem de oxigênio, nem de nada. Chegou uma bebê completamente saudável, graças a Deus.

Falo que o nascimento da Sofia mudou a minha vida completamente. Só que o meu papel enquanto mãe tem sido bem diferente de quando tive a minha primeira filha. Eu podia me dedicar exclusivamente a ela; hoje, infelizmente, não é do mesmo jeito. Ainda tenho o diagnóstico do câncer e preciso me cuidar, até mesmo criar coragem para enfrentar esse medo de morrer que por vezes me acompanha. Mas sei que poderei me dedicar muito mais a ela, curtir cada descoberta, cada palavra nova.

Enquanto não consigo me dedicar de forma integral aos cuidados delas, conto com o apoio do meu marido, o Léo. Além de meu parceiro, ele tem sido meu nutricionista, meu personal. Está o tempo todo ao meu lado, tanto nos cuidados com as meninas como no tratamento, na fisioterapia. Só que isso, infelizmente, é uma exceção entre as mulheres diagnosticadas com câncer de mama

A cantora Camila Campos e o ex-zagueiro Léo, que atuou pelo Cruzeiro - Foto: Flavio Tavares / O TEMPO

Recentemente, participei de uma palestra e nela destacaram que 70% das mulheres que enfrentam a doença precisam lidar com o abandono durante o tratamento. Não é um abandono apenas físico, é também emocional. A gente sabe que isso prejudica a recuperação. O emocional é parte fundamental do tratamento. Então, a presença do companheiro, dos familiares e dos amigos tem se tornado algo ainda mais importante.

Confesso que esse meu processo de enfrentamento do câncer de mama me fez repensar muitas coisas. Mulheres, muitas vezes, vivem excessivamente para os filhos e o marido e passam a tolerar aquilo que está incomodando, aceitam conviver com as dores. Adiam a ida ao médico, por exemplo, por causa de um compromisso das crianças ou do companheiro. Isso, para mim, é algo muito forte e pode afetar a saúde dessa mulher.

Outro problema é que, culturalmente, muitas mulheres têm dificuldades para tocar o próprio corpo. Só que esse autoconhecimento é algo extremamente necessário, principalmente em relação ao câncer de mama. É algo que vai permitir o diagnóstico precoce, o que facilita o tratamento. Eu não consegui descobrir o meu câncer no começo, mas tenho a certeza de que, assim como muitas outras mulheres conseguiram se recuperar, em breve também estarei curada.”

Exclusivo O TEMPO Sports

A cantora gospel Camila Campos fez, junto à reportagem de O TEMPO Sports, um relato sobre o seu tratamento do câncer de mama. Ela teve o diagnóstico da doença durante a gravidez da sua segunda filha com o ex-zagueiro Leonardo Lacerda (Léo), que atuou pelo Cruzeiro.