As histórias do título do Telemig Celular Minas, na Superliga 1999/2000 foram tantas que a série 'Superconquistas', do jornal O Tempo e portal Super.FC, precisou de uma outra matéria para contar alguns 'causos' interessantes daquela época. Não era porque o time contava com um grande patrocinador e referências do vôlei como Giba, André Heller, Carlão e Maurício que o caminho não teria percalços. Confira alguns deles que separamos:
Puxão de orelha
Como forma de fechar o grupo, o técnico Cebola resolveu colocar em ação duas ideias para impedir qualquer tipo de distração. Uma cena comum nos treinos foi proibida: a presença de visitantes como familiares e namoradas. Além disso, atrasos também não seriam permitidos. No entanto, na semana de um dos jogos da semifinal contra o Banespa, o ponta Giba chegou ao treino com 15 minutos de atraso e, ainda por cima, acompanhado da namorada, que ele havia acabado de buscar no aeroporto da Pampulha, como conta o treinador.
"Ele chegou correndo e já arrumando as coisas. Eu chamei ele e falei que ele deveria pegar suas coisas e deixar o ginásio junto com a namorada. Ele tentou se justificar e perguntei a ele se queria ajudar o nosso time ou o adversário. Ele deixou o treino bravo mas, no outro dia, pediu desculpas ao grupo. Eu tive apoio de todos os jogadores, que compreenderam e concordaram que era um tratado nosso. Ali o grupo ficou ainda mais forte", revela Cebola. Na comissão técnica, Jarbas Soares como assistente, Sérgio Falci na preparação física, José Marcos Belfort como supervisor e Júlio Soares na direção.
Nó tático
No quarto jogo da final contra o Unisul (SC), entrou em ação a astúcia do jovem treinador Cebola, que teve uma ideia que acabou contribuindo na decisão. Cebola deixou os titulares Maurício e André Nascimento no banco (Carlão estava suspenso), começando a partida com os jovens Rafa e Bruno, confundindo o esquema tático do adversário, que se mostrou perdido sem encontrar a marcação adversária. Foi neste primeiro set que começou a caminhada rumo ao triunfo por 3 a 0, com Maurício e André retornando a partir do segundo set.
"Tivemos uma semana para trabalhar antes do jogo e o contexto influenciou na minha análise. O André Nascimento, toda vez que começava as partidas, não conseguia terminá-las, era sempre substituído. Ao mesmo tempo, ele costumava ir muito bem quando entrava no decorrer dos jogos. Arriscamos por esta forma de jogar, ninguém conhecia o Bruno, a marcação de jogadas do Rafa era diferente do que o Maurício distribuía. A Unisul estudou o que Maurício e André iam fazer juntos, eles não tinham as mesmas informações dos reservas. Transferimos a responsabilidade para eles, que precisavam ganhar para forçar o quinto confronto. Virou um processo psicológico", justifica Cebola, que viu sua decisão se tornar acertada. Apesar do vitória por 3 a 0, o jogo foi duro com parciais altas.
"Lembro do Kid olhar pra gente na rede tentando entender o que estava acontecendo, até porque Maurício era Maurício, né?", brinca Rafa, que assumiu a responsabilidade. "O Cebola nos avisou um dia antes sobre a decisão, chamou eu e o Maurício em uma sala do hotel. Eu até pensava que entraria com o André, porque a gente entrava junto nas inversões, tinha uma sintonia muito fina. O Cebola me provocou, me perguntando se não era aquilo que eu queria. Claro que era, mas eu também entendia que podia ser uma roubada, era uma final decisiva de Superliga e eu tinha 22 pra 23 anos", conta Rafa, hoje se divertindo com as memórias.
Cara fechada
Cebola se lembra de que o levantador Maurício não aceitou bem a decisão nos dias que antecederam a final. "Foi muito difícil convencê-lo, ele ficou de cara fechada, não concordava com a minha decisão. Eu acabei recebendo apoio de jogadores como Carlão, Giba e André Heller, não pela ausência do Maurício mas pela decisão de arriscar, de ser uma estratégia. Quando todos aceitaram isso, fomos pra cima, quebramos o gelo do jogo e conseguimos vencer", relembra o treinador.
Passados 20 anos, Maurício vê a decisão de Cebola com mais racionalidade, conseguindo compreender melhor a intenção do treinador. "Ele foi uma grata surpresa pra mim. Era jovem mas soube lidar e levar o grupo muito bem, aliando estratégia e competência. Ele mostrou sua eficiência não só neste primeiro ano como nos próximos, que terminaram com grandes títulos", avalia Maurício.
Para quem viu a reprise do jogo, mostrada recentemente pelo Sportv, chama atenção o poderio e a qualidade do ponta Giba nas viradas de bola. "Ele era um cara espetacular, um dos melhores de todos os tempos que o vôlei já teve. Ele estava muito bem nesta época e teve uma participação importante no sentido de apoiar os meninos que estavam chegando", cita Maurício.
Água no chopp antes do título
Depois de abrir 2 a 0 na série, o Minas foi para o terceiro jogo com a festa já montada. Não cabia mais gente no ginásio do Colégio Pio XII (atual Arena estava em construção) e uma arquibancada precisou ser montada do lado de fora. O 3 a 2 para o Unisul, após o Minas começar bem, forçou a realização do quarto jogo fora de casa para, aí sim, o título ser confirmado longe de casa. "Foi muito bacana participar desta temporada que recolocou o Minas no lugar mais alto, era o primeiro título de uma trajetória. Acabou se tornando um ano especial, a diretoria sempre colocava pra gente a nossa responsabilidade, mas isso não era absorvido pelo grupo como pressão", avalia o central André Heller.
Comemoração na cadeira do árbitro
Após o último ponto da final, uma cena que ficou marcada foi a do líbero Gazolla subindo na cadeira do árbitro para comemorar a conquista. O gesto se torna ainda mais especial hoje, uma vez que o jogador acabou falecendo, um ano após a conquista, em acidente de automóvel. "Era um sonho dele, seu pai também havia sido jogador e ele queria mostrar que poderia ser campeão. Foi dada a oportunidade. Ele nos entregava um índice de 75% no passe, era sócio do clube, um menino de muitas posses e que jogava por prazer", cita Cebola.
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