Na quinta-feira (23/1), a Casa Palma lançou o movimento “P’alma: Um Manifesto Através da Arte” durante a inauguração da exposição “Nosso Olhar sobre o Mundo é Nossa Assinatura”, reunindo obras de seu coletivo de artistas. O manifesto é um chamado para resgatar a essência humana no processo criativo, defendendo a arte como reflexo genuíno da alma do criador e como ferramenta de reflexão, sensibilidade e transformação. O que se propõe ali são vivências e um novo olhar sobre a criação.
A casa-ateliê começou a funcionar em 2022, depois que Júlio Palma, filho único do cirurgião plástico Fernando Palma, descobriu os manifestos secretos do pai, em que narrava o abandono da medicina em favor das artes plásticas, revelando suas inspirações, técnicas e um desejo: o de transformar a casa onde morava em um espaço para respirar arte e compartilhá-la com outras pessoas. No verso, uma citação do artista italiano Amedeo Modigliani resumia tudo: “O seu real dever é salvar o seu sonho”.
Artes
A Casa Palma convida o visitante para um tour cronometrado por 23 cômodos e três andares repletos de obras de arte, tendo as palavras dos manuscritos como inspiração e propondo, ao final de uma viagem sensorial, uma dinâmica em que o visitante põe literalmente a mão na massa para revelar o artista que existe dentro de si. “Não é sobre arte, é sobre vida; por isso as pessoas se emocionam muito”, conta Júlio Palma, evidenciando que o apóstrofo que separa o “P” de alma não é mero exercício linguístico.
A Casa Palma é uma das 19 experiências propostas pelo cardápio Menuuh – Experiências Turísticas de Belo Horizonte, uma iniciativa da Belotur em parceria com o Sebrae, resultado do Acelera Check-In Turismo, que promove experiências em destinos turísticos para estimular os negócios locais. Na capital mineira, essas experiências vêm nominadas pela palavra “Menuuh”, uma corruptela das palavras “menu” e “nuh”, que no dicionário mineirês expressa espanto, admiração ou surpresa.
Na Casa Palma, a interjeição pode surgir quando o visitante percebe que as obras que observa – e, às vezes, sequer decifra – podem reconectá-lo com a sua própria essência. Para Júlio Palma, foi bastante interessante a evolução de um espaço de experiências de arte multissensoriais para a experiência turística. Foram necessárias algumas adaptações para que o turista pudesse adquirir a experiência, hoje comercializada pelas plataformas Decolar, Civitatis, Sympla, em agências de receptivo ou diretamente no espaço.
Gastronomia
Das 19 experiências do Menuuh, ao menos oito têm os dois pés na gastronomia, até porque Belo Horizonte é, desde 2019, Cidade Criativa da Gastronomia, título concedido pela Unesco. “Cachaça Experience”, "Degustação e Queijos e Delícias da Roça", “Da Roça à Mesa”, “De Olhos Fechados e Coração Aberto”, “Menu Tupis”, “Mesa Posta de Quitandas e Café em Três Momentos”, "Experiência Cervejeira - Degustação Guiada" e “Sabores e Saberes da Fazenda” oferecem desde um menu em sete etapas ou às cegas até experiências próximas da “casa de vó” e imersão na sustentabilidade.
Minha experiência remeteu à infância, quando ia com a família aos domingos no Restaurante Paladino. A Pampulha é o mais próximo da alcunha “roça grande”, como maliciosamente os belo-horizontinos definem a cidade. Por quase 200 anos, a região foi polo agrícola, abrigando fazendas que abasteciam a capital de Minas. Em 1939, o ex-prefeito Otacílio Negrão de Lima construiu a represa e, quatro anos depois, Juscelino Kubitschek inaugurava o conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha.
As fazendas continuam lá como testemunhas da história. O Paladino é uma delas e reproduz nos ambientes uma fazenda na área urbana. A experiência do visitante começa com um autêntico café mineiro; passa pelo espaço Encontro & Ideias, com obras de 28 artistas do coletivo de arte Libertas na exposição “A Arte pela Sustentabilidade”; põe a mão na terra para plantar sementes na horta; caminha por uma trilha em silêncio para ouvir os sons da natureza e finaliza com frango à caipira com quiabo posto à mesa.
Toda a experiência, conta Marcelo Haddad, proprietário do espaço no bairro Braúnas, tem uma pegada de sustentabilidade, que repassa seus saberes (técnicas e processos da agroecologia) e leva os sabores (os cheiros e as delícias da roça, da “casa de vó”) para os visitantes. “Nem parece que você está dentro de Belo Horizonte”, comenta um dos jornalistas que integram nosso grupo. Hoje, metade do público que visita o “restaurante-fazenda” é de turistas, principalmente durante a semana.
Nas experiências do Menuuh, é claro, não poderiam faltar o queijo (“Degustação de Queijos e Delícias da Roça”) e a cachaça (“Cachaça Experience”), ambos no recém-inaugurado Mercado de Origem, no bairro Olhos D’Água. Datada de 1954, a Queijaria Senzala exibe um kit de queijos premiados, como o mofo branco (ouro e super-ouro no mundial da França em 2017), e oferece visita guiada aos processos e degustação. Já o tour na Cava Zé Ribeiro passa por moagem, fermentação e produção, com régua de cachaça harmonizada com petiscos.
BH de Todos os Sentidos
Lucas Xavier, da Sensações Turismo, acompanhou nossa jornada de experiências. A agência criou um tour específico, o “BH para Todos os Sentidos”, contando a história da cidade por meio do tato, do paladar, do olfato, da audição e da visão. Com um caderno de bordo debaixo do braço, o passeio propõe desconectar-se das amarras e “mergulhar” em brincadeiras, apresentando a história da cidade na perspectiva de um belo-horizontino. Lucas, por sinal, nasceu em Venda Nova, na região da Pampulha.
O passeio começa em frente ao Mineirão, um dos palcos mais importantes do futebol no país. Uma visita ao estádio é capaz de causar sentimentos dos mais diversos, da raiva pela goleadora histórica de 7 a 1 sofrida pelo Brasil contra a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 à emoção da despedida de Milton Nascimento dos palcos em 2022. O Museu Brasileiro do Futebol é visita obrigatória. “Antes mesmo de um filho nascer, ele provoca na família a discussão se vai ser atleticano ou cruzeirense”, brinca Xavier.
O passeio continua em uma caminhada até a igreja de São Francisco de Assis, mais conhecida como “igrejinha da Pampulha”, com uma contextualização dos espaços públicos. Na parte mais elevada da praça da igreja, sentados em um banco e com os olhos vendados, nossa primeira atividade é descobrir o cheiro de sementes e ervas colhidas em um quintal, remetendo à infância na casa dos avós. Em seguida, a visita à igreja revela novas perspectivas do cartão-postal mais famoso da cidade.
Em julho de 2016, o conjunto arquitetônico da lagoa da Pampulha foi reconhecido pela Unesco como patrimônio da humanidade. No mesmo mês, quatro dos principais responsáveis por esse legado foram imortalizados às margens do espelho d’água, em estátuas de bronze instaladas em frente à Casa Kubitschek. Estão lá em tamanho real o arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagista Roberto Burle Marx, o pintor Candido Portinari (autor dos painéis na igreja de São Francisco de Assis) e Juscelino Kubitschek.
No Mirante Bandeirantes, uma das brincadeiras mais divertidas, em duplas e ainda de olhos vendados, nos propõe a reconhecer as estátuas apenas pelo tato e pela descrição do companheiro. As narrativas ajudam a descobrir mais sobre a história da cidade. O final da caminhada é a casa de Juscelino Kubitschek, com um piquenique no gramado, em frente à icônica piscina. Concluídos em 1943, os jardins são de Burle Marx, e os painéis de azulejo de Alfredo Volpi, retratando as antigas representações cartográficas.
Museu único e curioso
A visita ao Museu das Reduções é uma curiosidade que – “nuh!” – impressiona. O espaço foi idealizado por quatro irmãos que, ao longo de 16 anos, reproduziram, com materiais originais, 29 edifícios históricos localizados em 24 cidades de 15 Estados. Segundo o gestor Carlos Vilhena, o museu compõe o segmento cultural do Mercado de Origem, que recentemente inaugurou um memorial em homenagem ao escritor Fernando Sabino. São cinco séculos de arquitetura, de 1580 a 1960.
“É a preservação da memória histórica nacional de forma reduzida. Não é miniatura nem maquete; o nome é redução mesmo. É como uma máquina de xerox: você reduz o documento e o reproduz com as características originais”, explica Vilhena. O museu foi criado em 1994, em Ouro Preto, e desde o ano passado ocupa o Mercado de Origem. Na entrada há a exposição de ferramentas, formas, moldes e peças isoladas utilizadas por Décio Alves de Vilhena, que curiosamente foi comandante da TAP, e Sylvia Alves de Vilhena.
Entre as reduções, iniciada com a igreja de Nossa Senhora das Dores, de Campanha (MG), há curiosidades como a igreja de São Benedito (Paranaguá, RP), o engenho São João (Ilha de Itamaracá, PE), o Museu Histórico de Sergipe (São Cristóvão), a igreja e residência dos Reis Magos (Nova Almeida, ES), o Palácio Conde dos Arcos (Goiás Velho), a igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Viamão, RS), a usina Marmelos Zero (Juiz de Fora), a primeira hidrelétrica da América do Sul, a Fazenda Resgate (Bananal, SP), as casas de enxaimel (Pomerode) e uma inacabada igreja de São Francisco de Assis (Ouro Preto).
Para levar BH para casa
Em Belo Horizonte, ninguém deve ir embora sem levar um suvenir, que pode ser um queijo, um doce ou uma cachaça. Quem preferir ainda tem à disposição uma infinidade de produtos e utilitários estilizados na loja Made in BH, que tem unidades na Savassi, no Mercado Novo e no aeroporto. A ideia nasceu quando um arquiteto e um designer de produtos se juntaram para externar o seu amor pela cidade, depois de uma conversa com duas turistas francesas durante um festival de jazz na Savassi.
Há oito anos Felipe Martins e Guilherme Pertence vêm criando produtos com a temática Belo Horizonte e desenvolvendo parcerias com artistas, fotógrafos, designers e ilustradores. No Menuuh, eles criaram o “Beagá em Dez Passos”, um circuito de dez passos ao redor da loja, em referência aos principais símbolos da cidade, para fomentar o movimento no local, onde também montaram uma conveniência com produtos como pão de queijo, café, biscoito de polvilho, broa, bala de maçã Lalka e até a “pimenta Capeta do Vilarinho”, em alusão a uma famosa lenda urbana.
“Está no nosso DNA trabalhar com a questão local”, afirma Martins. O mais recente produto lançado é uma bandeja de acrílico com as curvas da Pampulha, com adesivos demarcando os pontos turísticos. Os campeões de venda são os ímãs com os nomes de bairros, expressões em mineirês e atrações turísticas da cidade. Há ainda um olhar lúdico trazido pela coleção “A Incrível Belo Horizonte”, com, por exemplo, o obelisco da praça Sete como uma torre de queda de parque de diversões, ou o viaduto Santa Tereza com um rio lento embaixo.
Hoje há uma infinidade de produtos e utilitários com uma proposta voltada para o design, de fotografias a objetos de decoração, de ímãs a esculturas de madeira e peças em acrílico com pontos turísticos, como a igrejinha da Pampulha (símbolo que tem o maior número de produtos), o Mineirão e a praça do Papa. O queijo propriamente dito como suvenir não tem, mas o pão de queijo virou o personagem Afonso, assim como a capivara Hilda (homenagem à lendária Hilda Furacão), que estão em bonecos, chaveiros, bolsas, canecas, sacolas e cadernos.
Serviço
Conheça as experiências:
Artes
1. Explorando Novos Horizontes Através da Arte
2. Casa Palma, uma imersão artística e Cultural
Economia criativa
3. Beagá em 10 Passos
4. BH Experiência Gastronômica – Centro
5. Volta Turística da Contorno
6. Nostálgicos Futebol Clube
7. Pampulha: BH para Todos os Sentidos
8. Raízes e Resiliência – A Vida na Favela
Gastronomia
9. Cachaça Experience: um tour pela história e pelos sabores
10. Da Roça à Mesa
11. De Olhos Fechados e Coração Aberto
12. Experiência Cervejeira – Degustação Guiada
13. Menu Tupis: um passeio prático, histórico e sentimental pelo centro de Belo Horizonte
14. Mesa Posta de Quitandas e Café em Três Momentos
15.Degustação de Queijos e Delícias da Roça
16. Sabores e Sabres da Fazenda: uma manhã de interação e aprendizados
Música
17. Revivendo o Clube da Esquina: o trajeto da musicalidade mineira
Patrimônio cultural
18. Entre Escritores e Poetas
19. Mirante Acaiaca: um convite de conexão com a história e as paisagens de Belo Horizonte
Preços: variam de R$ 35 a R$ 530 por pessoa.
Quem faz: Decolar (decolar.com), Civitatis (civitatis.com/br) e Sympla (sympla.com.br), diretamente no atrativo ou nas operadoras HP Happy Travel (@hthappytravel), Sensações Turismo (@sensacoesturismo), Sette Turismo (@setteturismo) ou Espinhaço Operadora (@espinhacooperadoraturistica).