No penúltimo fim de semana, o governador Romeu Zema (Novo) postou um vídeo em seu perfil no Instagram contando que iria voar de balão pela primeira vez em São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas. Dizia o governador no post: “Você escolhe a maneira que quer chegar em Minas: pode ser de carro, pode ser de avião, pode ser de trem. Agora, nós temos aqui uma experiência nova, que eu vou experimentar: voar de balão para ver as belezas de Minas lá de cima”, disse. “Aqui em Minas, o turismo está voando alto”, completou.

A atividade de balonismo em São Sebastião do Paraíso não é nova e já completa oito anos. São cinco balões, com capacidade de duas a 16 pessoas, que decolam aos fins de semana, por volta das 5h, do Leão de Judá Charm Hotel. O passeio, organizado pela Horizon Balonismo, dura, em média, 45 minutos e sobrevoa a zona rural da cidade. O custo varia de R$ 600 a R$ 710 por pessoa, dependendo do tamanho do equipamento. Segundo o piloto Yuri Souza, é uma atividade com custo elevado por exigir muitos investimentos em estrutura e segurança.

Souza, o anfitrião de Zema e de sua comitiva de 12 pessoas, conta que busca dar tranquilidade e segurança aos praticantes da atividade. “É importante um pré-voo para as pessoas entenderem como funciona um balão, os níveis de segurança. Eu passo todas as orientações, coloco as pessoas dentro do balão para sentir a resistência do tecido e, é claro, fazer foto. A experiência começa duas ou três horas antes com um desjejum e instruções enquanto uma equipe infla o balão”, explica o piloto, que tem um ano e meio de atividade e mais de cem horas de voo.

Especificamente no voo do governador de Minas, ele fez uma manobra que garantiu o pouso em cima de uma carreta que costuma carregar os equipamentos até o hotel, para reforçar a segurança da atividade. “Esse é um passeio tranquilo, contemplativo. Não é algo perigoso, instável ou com adrenalina como muitas pessoas pensam”, enfatiza. Souza conta que o segredo de um voo tranquilo são as condições meteorológicas adequadas, sem muitos ventos. “Balão não tem freio. Quanto mais tranquilo o tempo, mais tranquilo o voo”, destaca.

Regulamentação

No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) atua na normatização do balonismo de duas formas. O balonismo profissional submete-se às regras da aviação geral e demanda certificado de aeronavegabilidade válido, licença de Piloto de Balão Livre (PBL) e matrícula do balão no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB). Já o balonismo desportivo deve obedecer ao estabelecido pela norma Rbac 103, que exige cadastro do esportista e do balão em uma associação desportiva credenciada pela entidade.

Em seu site, a Federação Aeronáutica Internacional (FAI) – órgão que regulariza os esportes aéreos no mundo – considera andar de balão (foto abaixo, crédito: Horizon Balonismo) o método mais seguro de voar se comparado com outras modalidades, como parapente e asa-delta, devido às baixas taxas de acidentes fatais ao longo da história. No mundo, foram 24 acidentes nos últimos dez anos, três deles no ano passado. No Brasil, não há estatísticas.

A cidade de Praia Grande, no sul de Santa Catarina, é uma referência desde 2017. São mais de 15 mil voos operados por 30 empresas em aproximadamente 80 balões. Nos últimos cinco anos, foram registrados quatro acidentes. Os voos são o principal atrativo do município catarinense e uma maneira diferente de contemplar os cânions no Parque Nacional Aparados da Serra e na Serra Geral. Os balões conseguem atender a uma demanda de mais de 600 passageiros voando simultaneamente.

O último acidente em Praia Grande aconteceu em abril de 2023, quando um balão com nove passageiros caiu entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul durante um pouso forçado. Uma pessoa sofreu politraumatismo. No turismo, dois acidentes que repercutiram ocorreram na região da Capadócia, na Turquia, assustando os entusiastas da prática: em 2013, um balão colidiu com outro e matou três brasileiros, e, em 2022, dois turistas espanhóis morreram após pouso forçado.

Capadócia

A Turquia colaborou ostensivamente na disseminação da atividade para outros destinos turísticos do mundo. O voo de balão na Capadócia (foto acima, crédito: iStockphoto) é um dos sonhos de consumo de todo turista que viaja à Turquia: são mais de 3.000 visitantes por dia buscando a experiência na região, famosa por vales de paisagens lunares, rochas vulcânicas, formações rochosas surpreendentes, como as “chaminés de fada”, cidades subterrâneas e casas e igrejas esculpidas em cavernas nas pedras. 

Por sinal, meu primeiro voo de balão foi na Capadócia, uma das experiências mais inesquecíveis que um turista pode vivenciar no país. Não só pelo balão (são mais de 300 voando simultaneamente), mas pelo cenário grandioso e pela vista espetacular. Tudo isso, contemplado com o sol nascendo e pintando de laranja o horizonte. O segundo voo foi em Capitólio, com o equipamento voando de forma suave sobre fazendas de café, estradas, montanhas e matas preservadas, avistando de longe o município de Piumhi e a represa de Furnas.  A empresa que opera o passeio é a Damata Balonismo (@damatabalonismo).

Dinâmica

Atualmente, os voos de balão são realizados, além de São Sebastião do Paraíso e Capitólio, em destinos como São Lourenço (foto acima, crédito: Lucas Muniz) e Tiradentes. As empresas que realizam o passeio garantem que ele é seguro, feito por profissionais experientes e certificados. As viagens, que duram até 50 minutos, são feitas em balões com material anti-inflamável e aquecidos com chama de gás propano. Os voos atingem altura média de 350 m, e os passeios costumam ser suaves e silenciosos.

A dinâmica é a mesma: a operadora marca o encontro com os passageiros em determinado ponto, normalmente por volta das 5h, oferece um café e dá as instruções de voo. A experiência completa dura cerca de duas a três horas, contando com café da manhã ou piquenique, transfer dos passageiros, enchimento do balão, decolagem, passeio e pouso. Algumas ainda incluem certificado e fotos no passeio. Os balões normalmente têm capacidade de oito a 16 passageiros, e são os ventos que guiam toda a experiência. 

Em Tiradentes, além da operadora Gema de Minas, o turista pode contratar o passeio na Horto Essencial Tur. A agência de Valdênia Cabral Lage realiza passeios de balão compartilhados ou individual, ao custo de R$ 750 por pessoa, em parceria com a Gema de Minas. "Estamos voando de vento em popa”, comenta a proprietária. As reservas se esgotaram em janeiro. O voo também começa bem cedinho, dura 45 minutos e os ventos tornam imprevisível o rumo do passeio. Todo o trajeto aéreo é acompanhado por funcionários em solo para levar de volta os passageiros após o pouso.

Rapel de balão

Há, ainda, a possibilidade de voo cativo. Atualmente, o voo cativo é realizado em Ouro Preto pela empresa Ouro Radical Turismo (@ouroradicalturismo), que está erguendo um complexo de turismo radical na cidade. O lançamento dos voos de rapel de balão (foto acima, crédito: Club do Rapel) foi nos dias 25 e 26 de janeiro. Nessa modalidade, o balão é preso por cordas e sobe de 20 m a 40 m, e o passageiro fica pendurado, sentindo o vento fresco. A experiência ocorre em datas específicas e deve ser agendada com antecedência – a próxima será no dia 22 de fevereiro.

Dhavison Souza, sócio da Ouro Radical Turismo, objetiva realizar futuramente voos de balão entre as cidades de Ouro Preto e Mariana, mas ainda depende de autorizações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Agência Nacional de Aviação (Anac). O complexo turístico está localizado a 30 minutos do Centro de Ouro Preto e pretende oferecer, além do rapel de balão, passeios a cavalo, trilhas, rapel, tirolesa, pesca esportiva e arvorismo para diversificar o turismo na cidade histórica.

Voo no Carnaval

Em Diamantina, a agência Vesperata Sabores & Aventuras vai oferecer, de 26 de fevereiro a 5 de março, durante o Carnaval, passeios de balão para contemplar a cidade histórica de uma maneira diferente. “O turismo local é muito voltado para a religiosidade, o patrimônio e a cultura. Queremos explorar outras vertentes”, projeta Alcino Oliveira Costa. Serão dez voos – até agora, quatro já foram vendidos – em balões com capacidade para oito passageiros, com duração de 30 a 60 minutos e custo de R$ 500 por pessoa.

Brumadinho

Além de Ouro Preto e Diamantina, os balões já colorem o céu de Brumadinho, no Vale do Paraopeba. Os sócios Luciano Gross Caetano, Cássio Canal Ronchi e André Leibel, do Voa Brumadinho (@voabrumadinho), já exploram a atividade em Pedra Azul (ES). “Queremos que o turista que vem a Brumadinho conheça a região de forma diferente, elevando a autoestima da cidade e nada melhor do que um balão colorido para trazer essa alegria”, comenta Luciano Caetano, que é piloto há 14 anos.

Os passeios de balão em Brumadinho (foto abaixo, crédito: Voa Brumadinho) foram inaugurados no dia 21 com o apoio da administração municipal. O começo dos passeios também inaugurou os pedidos de casamentos nas alturas em Minas. O prefeito Gabriel Parreiras (PRD) pediu a namorada em casamento em um voo de balão. Em Pedra Azul, no Espírito Santo, onde a empresa também promove passeios, os pedidos já viraram moda.

Para iniciar as operações, a empresa realizou três voos-teste. O Voa Brumadinho começa a voar com dois balões, com capacidade para 8 e 16 passageiros. O segundo balão deve ser entregue na primeira quinzena deste mês. Os voos decolam do espaço cultural, que está sendo montado em frente ao Restaurante Fazendinha, em uma área próxima à sede administrativa de Brumadinho. Eles devem acontecer de terça a domingo, duram 45 minutos e precisam ser agendados com antecedência pelo WhatsApp (31) 9846-5050. O custo é de R$ 790 por pessoa.

Luciano Caetano garante que a experiência é muito segura. “Os cuidados são principalmente referentes ao piloto ler e ter uma posição clara das condições climáticas. Os balões passam por revisões a cada 100 horas de voo. Quando ele completa 300 horas, está na hora de se aposentar”, explica. Com 14 anos de balonismo e 3.300 horas de voo, ele afirma que tem a mesma regulamentação pela Anac que os pilotos de avião e que precisa, a cada dois anos, passar por um novo check.

Fora do Estado, o balonismo é hoje praticado como atividade turística em cidades como Torres (RS), onde acontecerá de 18 a 21 de abril um festival profissional; Cambará do Sul (RS) e Praia Grande (SC), com voos sobre os cânions do Parque Nacional dos Aparados da Serra e a Serra Geral; Boituva (SP), município que abriga o Centro Nacional de Paraquedismo; Rio Claro (SP), que costuma receber etapas do Circuito Brasileiro de Balonismo; e a Chapada dos Veadeiros (GO), sobrevoando o parque homônimo.

Serviço

Confira quem opera voos de balão em Minas Gerais:

Brumadinho: Voa Brumadinho. R$ 790 por pessoa. Instagram @voabrumadinho

Capitólio: DaMata Balonismo. R$ 670 por pessoa. Instagram @damatabalonismo

Diamantina: Vesperata Sabores & Aventuras. De 26/2 a 5/3, com lugares limitados, a R$ 500 por pessoa. Instagram @vesperatasaboreseaventuras

Ouro Preto: Ouro Radical Turismo. R$ 390 por pessoa. Próxima experiência no dia 22/2, com lugares limitados. Instagram @ouroradicalturismo

São Lourenço: Ventura Balonismo (R$ 660 por pessoa (Instagram @venturabalonismo); Flat Balonismo (R$ 660 por pessoa, Instagram @balonismosaolourenço) ou Minas Balonismo (preço sob consulta, Instagram @minasbalonismo)

São Sebastião do Paraíso: Horizon Balonismo. De R$ 600 a R$ 710 por pessoa. Instagram @horizonbalonismo 

Tiradentes: Gema de Minas Balonismo (R$ 750 por pessoa, Instagram @gemademinasblonismo), Ouro Radical Turismo (R$ 700 por pessoa, Instagram /@ouroradicalturismo1) e Horto Essencial Tur (R$ 750 por pessoa, Instagram @hortoessencialtur).