Eu fico muito feliz em ver a torcida do Cruzeiro abraçando o futebol feminino e estabelecendo recordes dentro do estado. Lembro-me muito bem da minha época de setorista, quando recebi com grande entusiasmo a notícia de que a Raposa teria um time na modalidade. Inclusive, estive presente no dia 1 deste projeto, com o lançamento das Cabulosas na PUC do Coração Eucarístico.
Naquele momento, já era possível perceber o potencial e a liderança de Bárbara Fonseca, que é, sem sombra de dúvidas, uma das maiores entendedoras de futebol feminino deste país. O profissionalismo dela como dirigente precisa ser exaltado em qualquer conversa sobre a evolução desse projeto. Sem ela e sua expertise, o Cruzeiro, fatalmente, não teria atingido tão rapidamente os objetivos traçados.
O que se vê do Cruzeiro nesta temporada supera os temores que foram lançados sobre o time feminino no início do ano, quando se falou em redução de investimentos. A readequação impulsionou uma busca assertiva no mercado e valorizou o eficiente trabalho do técnico Jonas Urias — sem dúvida, o mentor deste Cruzeiro aguerrido, resiliente e de mentalidade forte que temos visto em campo.
Para uma equipe que disputa apenas sua primeira final de Brasileirão Feminino, o Cruzeiro se comportou muito bem diante do poderio do adversário, já habituado a decisões. Acima de tudo, fazendo uma analogia ao filme Batman vs Superman, a Raposa mostrou que o poderoso Timão pode, sim, sangrar. E o Cruzeiro fez isso duas vezes, reagindo no placar e mantendo a final sob controle.
Aconteça o que acontecer, esta já é uma trajetória histórica — uma que consolida o projeto do futebol feminino celeste. A inédita classificação à Copa Libertadores da modalidade também já está assegurada. São as Cabulosas atingindo o cenário internacional e honrando as tradições do clube cinco estrelas.
É preciso compreender que o futebol feminino não é um fardo, não é um projeto mantido apenas para cumprir os regulamentos da CBF, da FIFA ou da Conmebol. Não é uma obrigação. É uma oportunidade de fomentar o esporte em um nicho específico e explorar o potencial de receita de uma modalidade que, por exemplo, já está entre as que mais movimentam apostas nas famosas bets.
Trata-se, também, de uma reparação histórica frente às proibições que as mulheres deste país enfrentaram em relação à prática do futebol — transformado, por décadas, em um esporte extremamente machista. Mulheres que tiveram seus direitos alijados por leis que as colocaram à margem. Mas que bom que tudo neste mundo é cíclico e que as oportunidades se abriram, proporcionando momentos inesquecíveis, como o primeiro jogo da final do Brasileirão Feminino no Independência, no último domingo. O torcedor do Cruzeiro fez parte da história.