A jornalista e escritora mineira Daniela Arbex viajou no mesmo avião da Voepass que caiu em Vinhedo, em São Paulo, um dia antes da tragédia que matou 62 pessoas. Por um relato nas redes sociais, Arbex mostrou vídeos dos passageiros se abanando durante o voo e reclamando de mal-estar por calor. Um homem, sentado em poltrona à frente da jornalista, estava sem camisa pela sensação de sufocamento. Veja vídeo abaixo.
De acordo com o publicado por Daniela Arbex, a aeronave que caiu em Vinhedo apresentou, na quinta-feira (7 de agosto), problemas com o ar condicionado. "Foi terrível. Um passageiro chegou a tirar a camisa. Outro, que estava uma poltrona a minha frente, sentia muita dor de cabeça. As pessoas se abanavam procurando ar", escreveu.
O veículo saiu de Ribeirão Preto, em SP, em direção à Guarulhos. A jornalista disse ter questionado à companhia, mas sem sucesso. "Fiquei muito indignada, porque pela terceira vez a aeronave da Voepass apresentava problemas. Eu e outros passageiros questionamos a aeromoça. A resposta foi de que o 'ar não funcionava em solo, só no ar', o que não aconteceu. Da vez anterior, a desculpa é que o ar precisava de manutenção", contou.
Arbex ainda aproveitou para lamentar as perdas das 62 vítimas que não sobreviveram ao acidente aéreo dessa sexta-feira (9 de agosto). "Como uma aeronave opera nessas condições? Lamento profundamente pelas vidas perdidas hoje e percebo que corremos um risco real. Estou profundamente impactada com essa tragédia", concluiu.
Veja vídeo:
Entenda a tragédia
A aeronave decolou do Aeroporto de Cascavel (PR) às 11h50 com destino ao Aeroporto de Guarulhos (SP), com 62 pessoas a bordo - 58 passageiros e quatro tripulantes. A chegada ao aeroporto na região metropolitana de São Paulo estava prevista para as 13h40. No entanto, por volta das 13h21, a aeronave perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto.
Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), foi nesse momento que o avião deixou de responder ao Controle de Aproximação de São Paulo. A aeronave caiu em uma área residencial do condomínio Recanto Florido, no bairro Capela, em Vinhedo. Vários moradores capturaram em vídeo o momento em que a aeronave rodopiava no ar antes do impacto e da fumaça da explosão.
A Voepass diz que ainda não é possível precisar o que aconteceu com a aeronave. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado à FAB, iniciou na sexta-feira uma investigação para apurar as causas da queda do avião. A Polícia Federal (PF) também vai auxiliar na apuração.
Os investigadores já estão em posse dos gravadores de voz da cabine do avião e de dados instalados na caixa preta. Os equipamentos serão enviados em Brasília, onde serão aproveitados. Porém, ainda não há prazo definido para a conclusão das apurações.
Segundo o brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, as informações e hipóteses sobre o ocorrido ainda são preliminares e poucas conclusões podem ser tiradas. Uma das poucas certezas que já se tem é que, durante o voo, não houve, por parte da tripulação da aeronave, a comunicação de que havia uma situação de emergência.
Situação da aeronave
De acordo com o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Luís Ricardo, a aeronave estava regularizada junto ao órgão e se encontrava com suas funções normais de aeronavegabilidade. Construída em 2010, ela deu entrada no Brasil em 2022, quando foi comprada pela Voepass, e estaria de acordo com a regulamentação.
“Ela cumpre qualquer requisito de desempenho como de emergência também. [...] Essa aeronave, como qualquer outra aeronave certificada, atende aos mesmos requisitos e cumpre os mínimos de segurança do que qualquer outra aeronave dessa categoria no mundo”, reforçou o chefe da Divisão de Investigação do Cenipa, Coronel Baldin.
Possível acúmulo de gelo
Ao longo da tarde de sexta-feira, uma das hipóteses mais difundidas por alguns especialistas foi de que a queda do avião teria sido causada pelo acúmulo de gelo na superfície da aeronave, o que teria provocado, por exemplo, o desligamento dos motores. Segundo o Cenipa, ainda não é possível fazer tal afirmação, já que as informações ainda são “prematuras”.
“Essa aeronave é certificada para voar nessas condições. Ela tem sistemas de proteção para evitar a formação de gelo na superfície. Mas também caso haja essa formação de gelo, ela tem dispositivos para eliminar. Em vários países é certificada para voar em condições severas de gelo”, disse Coronel Baldin.