Em setembro de 2007, em um de seus primeiros artigos para O TEMPO (“O futuro pode ser melhor do que pensamos”, 25.9), Arnaldo Jabor escreveu sobre o desafio de ser humano em um tempo de transformações tecnológicas, econômicas e sociais. “Um novo humano, sim. Robotizado, teologizado talvez, pós-humano, talvez, mas podem estar se forjando novos espaços de liberdade e de cultura”.

Erudito sem ser pernóstico, contundente sem ser brutal, Arnaldo Jabor soube ser crítico incisivo do momento em que vivia nas mais de 440 colunas que escreveu para O TEMPO. Não apenas ao ser um analista de grande capacidade intelectual, mas também na outra acepção da palavra “crítico”: o ponto em que ocorre transformação da matéria ou de um movimento.

Era assim que abordava com propriedade tanto as nuances do comportamento da sociedade norte-americana (“O suicídio da América”, 19.7.2006) quanto da brasileira (“Há uma malemolência salvadora na canalhice nacional”, 27.4.2010). Discutiu cinema (“Saudades do Cinema Novo”, 31.7.2017), história (“Entrevista exclusiva com Stalin” 24,6.2014), música (“A única vez que vi João Gilberto”, 14.6.2011) e tantos outros temas com uma singular característica. Levava o argumento a um ponto que não se podia recuar impune. Ao fim, o leitor o repudiava ou aplaudia, mas nunca saía do texto igual ao que era quando havia começado.

Em 11 de abril de 2017, despediu-se das colunas escritas com o artigo “Adeus”, encerrando uma etapa na qual seguramente produziu “novos espaços de liberdade e de cultura”. O futuro, como Arnaldo Jabor escrevera em 2007, poderá até ser melhor do que pensamos, mas, com sua morte, sempre guardará o vazio da falta de sua crítica e de sua transformação.