Boa Esperança

Médico suspeito de matar a tia com injeção letal em Minas deixa a prisão

O homem também é investigado pela morte de duas crianças, que teriam sido negligenciadas; sua esposa também veio a óbito em condições controversas

Por Lara Alves
Publicado em 05 de julho de 2019 | 10:25
 
 
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O médico suspeito de assassinar a tia de 78 anos, internada em um hospital de Boa Esperança, no Sul de Minas, deixou o presídio do município na noite desta quinta-feira (4). Investigado pela morte de duas pacientes infantis suas que podem ter sido negligenciadas e acusado pela família de sua ex-mulher de tê-la matado, o homem estava preso desde 13 de junho, após suspeitas da equipe médica que atendia sua tia. 

Segundo Alexandre Boaventura Diniz, delegado responsável pelo caso, após a prisão do médico, outros moradores do município procuraram a Polícia Civil para relatar denúncias contra ele. 

Uma das mortes investigadas aconteceu em 2006. A família de uma recém-nascida, com apenas um ano e três meses procurou atendimento para a criança, mas foi dispensada após o homem informar que a menina não tinha nada. Uma técnica de enfermagem teria sido proibida de realizar exames na paciente. 

Outro caso, ocorrido em 2013, originou a abertura do primeiro inquérito que responsabiliza o médico pela morte de um paciente. "Uma família levou sua criança de três anos, que sofria com problemas renais, para o atendimento médico. Ele teria negligenciado o tratamento por cerca de 24 horas e, em seguida, a criança faleceu", comentou o delegado.

Não bastasse o momento doloroso enfrentado pelos familiares, o médico ainda teria dito à mãe da criança que "foi bom ela ter falecido, se não teria que passar a vida inteira fazendo hemodiálise", explicou Diniz segundo depoimentos coletados.

Diante da morte da tia, familiares da ex-esposa do médico procuraram a Polícia Civil para denunciá-lo. A ex-mulher faleceu há 35 anos em condições igualmente desconfiáveis.

"Esse caso nunca foi investigado e já prescreveu, porém pode ser usado contra o médico pelo histórico de fatos semelhantes ocorrido com pacientes ou parentes dele", disse o delegado. 

Segundo ele, a ex-esposa do médico sofreu um infarto e foi internada. Pouco tempo depois, ela voltou em perfeito estado de saúde para casa e, após passar uma hora na residência em que morava com o marido, morreu. 

O fato é ainda mais preocupante tendo em vista que quem elaborou o laudo que apontava as causas do óbito da mulher foi o próprio médico e companheiro. Os investigadores suspeitam que ele mentia nos laudos e disfarçava as reais causas de morte, isso pode ter acontecido em inúmeros casos. À época, o homem era responsável por executar necropsias e produzir laudos. 

Morte da tia

Aos 78 anos, a tia do suspeito foi internada em um hospital de Boa Esperança para tratar uma embolia pulmonar e outros problemas respiratórios. De acordo com a equipe médica, o quadro da paciente evoluia de forma satisfatória, até que, após receber uma visita do parente, a idosa piorou e faleceu uma hora depois do encontro. 

Desconfiados, enfermeiros e médicos decidiram investigar o porquê da mudança repentina e injustificada do quadro da idosa. Após revirar o hospital, encontraram medicamentos letais descartados na lixeira do quarto em que ela estava. 

Imagens de câmeras de segurança obtidas pelos investigadores mostram o homem transitando entre os quartos e até adquirindo remédios. A morte da mulher teria sido provocada pela combinação de um relaxante muscular, adquirido na farmácia da Santa Casa de Misericórdia, e cloreto de potássio - encontrado em uma seringa descartada pelo médico. 

Testemunhas ouvidas pela Polícia Civil apontam para eutanásia, tentativa de proporcionar morte sem sofrimento. "Nós imaginamos que ele a matou para poupá-la do sofrimento que é um tratamento de saúde. Mas ao invés de falar em 'eutanásia', optamos por falar em homicídio, em tese, privilegiado", explica Diniz.

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