Ciente de que, a cada doação de sangue, até quatro vidas podem ser salvas, o professor de ciência da computação Orlando Silva, da Faculdade Pitágoras, em Belo Horizonte, resolveu usar a tecnologia para facilitar esse ato de solidariedade e cidadania. Com a plataforma #PartiuDoarSangue – disponível em aplicativo e na internet – é possível conectar quem precisa de doação de sangue com possíveis doadores. A iniciativa atende o Brasil todo e já possui mais de 12 mil usuários cadastrados.

“Eu via a dificuldade dos hemocentros em conseguir doações regulares e os alertas dos bancos de sangue sobre o estado crítico de alguns tipos sanguíneos. Eu doava com pouca frequência também, mas queria fazer algo”, conta Silva.

No país, cerca de 16 em cada mil pessoas são doadoras de sangue, o que representa apenas 1,8% do total da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em Minas Gerais não é muito diferente. De acordo com a Fundação Hemominas, apenas 2% dos mineiros são doadores.

Em nota, a assessoria de imprensa da Hemominas alertou que, com as férias escolares e festas de fim de ano, o comparecimento cai, refletindo-se, diretamente, no estoque de sangue. “O maior movimento nas estradas aumenta o risco de acidentes, impactando diretamente a demanda de sangue para atendimento a emergências”, diz a nota.

Pelo #PartiuDoarSangue a pessoa cadastra um pedido de doação colocando o tipo sanguíneo de que precisa e onde podem ser feitas as doações. O sistema avisa automaticamente os usuários do aplicativo cadastrados na região para que possam doar.
Após realizar a doação, o usuário do aplicativo pode deixar registrada a sua participação. Até agora, a plataforma já contabiliza mais de 17 mil pessoas beneficiadas, mas Silva estima que esse número pode ser bem maior.

“Muitas pessoas doam e não registram que doaram. Se imaginarmos que cada um dos 12 mil doadores cadastrados no aplicativo doou pelo menos uma vez por ano, a plataforma já pode ter ajudado quase 50 mil pessoas. Ainda assim é baixo. O país e o Estado precisam de muito mais”, reforça o professor.

Silva lembra algumas histórias de sucesso com a utilização do aplicativo. “Esse trabalho eu fiz com ex-aluno de faculdade, o Thiago Rodrigues. Um mês depois que lançamos a plataforma, a tia do Thiago sofreu um acidente e teve 80% do corpo queimado. Ela precisou fazer várias transfusões, e grande parte do sangue foi captada por meio da plataforma. Outra usuária já conseguiu captar quase 300 doadores”, conta.

Serviço. O app #PartiuDoarSangue está disponível gratuitamente para download nas plataformas Android e iOS e também pode ser acessado pelo site.

Trabalhador
Lei. O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço por um dia, a cada 12 meses, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Portador de doença rara necessita de doação

O professor Cristiano Mauro Assis Gomes, 47, foi diagnosticado com um transtorno raro, cujo tratamento requer doação de sangue. Ele é portador da Síndrome Hemolítico-Urêmica atípica (SHUa), uma doença grave, caracterizada pelo conjunto de sintomas como anemia, trombocitopenia (baixa contagem de plaquetas) e lesão renal aguda. 

“Quem puder ajudar deve doar no Biocor Instituto, em Nova Lima, e informar o nome do paciente. No dia 31/12 o banco de sangue não estará aberto, mas posteriormente funcionará normalmente”, diz Isabella, filha do professor.

Os tipos sanguíneos negativos (O-, A-, B- e AB-) estão com queda de cerca de 27% no estoque, e, segundo a Fundação Hemominas, a reserva encontra-se em estado de alerta. Os demais tipos sanguíneos B+ e AB+ têm estoques considerados “estáveis”, e os tipos O+ e A+ estão com o estoque “adequado”. (LM)

Minientrevista

Orlando Silva
Professor da Faculdade Pitágoras

Por que os estoques de sangue são tão baixos?

Falta conscientização das pessoas e das empresas. Muitas pessoas ainda têm medo de doar porque muitas empresas não apoiam e não incentivam os funcionários a doar. Quando estávamos fazendo as pesquisas antes de lançar o app, identificamos que as pessoas ficam com medo de doar e depois serem demitidas.

Além disso, o que muitas vezes impede as pessoas de doar mais vezes?

Ainda tem muita gente que só doa quando tem algum parente próximo precisando. As pessoas acham que o sangue que elas doam vai para aquela pessoa, mas, na verdade, vai para a reposição. Outras pessoas não doam para bancos de sangue privados porque acham que eles vendem o sangue.

Hemominas: horário de funcionamento

Funcionamento das unidades para atendimento aos doadores de sangue na semana do réveillon:

31/12:

- Hemocentro de Belo Horizonte: das 7h às 12h
- Hemocentro de Governador Valadares: das 7h30 às 11h
- Hemocentro de Uberlândia: das 7h às 11h30
- Hemonúcleo de Sete Lagoas: das 7h30 às 12h30
- Unidade de Coleta de Poços de Caldas: das 7h às 11h30
Demais unidades não funcionam nesse dia.

1°/1/2020

Todas as unidades estarão fechadas.

2/1/2020

A partir de quinta-feira, os atendimentos voltam ao normal. Os horários de funcionamento de todas as unidades da Hemominas estão disponíveis no site

Agendamento. O hemocentro de BH orienta que os candidatos agendem a sua doação online, pelo telefone 155 ou pelo MGapp.