O negócio de hotéis de luxo está mudando em Belo Horizonte, tanto no formato como na localização. “Os empreendimentos atuais apostam mais em serviços e restaurantes que os moradores da própria cidade costumam utilizar. Nesse aspecto, a gestão do Othon de Belo Horizonte e de Salvador ficou desatualizada”, afirma o arquiteto e professor da UFMG Leonardo Castriota. “Com o crescimento da cidade, ao longo da história outras regiões prosperaram economicamente e criaram demanda para novos hotéis, além da região central, como Savassi e Lourdes (região Centro-Sul da capital)”, avalia o arquiteto Júnior Piacesi, que atuou no projeto de três redes de hotéis em Belo Horizonte. Entre os principais concorrentes do Othon em Belo Horizonte estão o Ouro Minas, lançado em 1996, na região Nordeste da capital, e o hotel Mercury, de 2001, situado no Lourdes.

Um exemplo dessa mudança é o fato de que, enquanto a rede Othon encerra suas atividades em Belo Horizonte e Salvador, as duas capitais são a aposta de outro grupo de hotéis de luxo: o Fasano. A inauguração da rede na capital mineira foi em setembro, no Lourdes. Em dezembro deste ano, Salvador ganhará um hotel Fasano, em um prédio histórico na praça Castro Alves.

A comparação entre as unidades do Othon Palace e do Fasano em Belo Horizonte mostra a diferença de projetos. O prédio do Othon Palace conta com 296 apartamentos. Já o Fasano tem apenas 77 suítes. Os espaços de eventos, que no Othon podem reunir até 400 pessoas, são menores no Fasano, com público máximo de 120. Uma aposta do Fasano é atender o público local. O spa do hotel, que inclui três salas de massagem, sauna úmida e piscina, é aberto ao público externo, assim como os restaurantes Gero e Baretto.

Legado

Piacesi salienta, porém, que hotéis como o Othon deixaram um legado para os atuais empreendimentos. “Uma tendência do setor hoteleiro atual é oferecer ao hóspede uma experiência a mais próxima possível da de casa, com foco em atendimento. Esses hotéis, lá atrás, já faziam isso. Para mim, o Othon ainda é sinônimo de glamour por isso”, destaca o arquiteto.

“O momento de fechamento é desagradável, mas tem uma coincidência importante, que é a chegada de outro ícone da hotelaria: o Fasano, com seu restaurante Gero. Muitas coisas que estavam no Othon – ponto de encontro e reuniões de negócios, por exemplo – serão agora no Fasano”, diz o diretor geral do jornal “MG Turismo” e diretor da Associação de Jornalistas e Blogueiros de Turismo do Brasil (Ajobtur), Antônio Claret Guerra.

 

Retrofit é alternativa para prédio antigo

O retrofit, que é a adaptação de prédios antigos para residenciais pela iniciativa privada, é uma das opções para o edifício do Othon Palace de Belo Horizonte. A avaliação é da subsecretária de Planejamento Urbano da Prefeitura de Belo Horizonte, Izabel Dias. “Já temos incentivos para projetos de retrofit, e eles são ainda maiores no plano diretor que está em análise na Câmara Municipal”, afirma Izabel.

Segundo ela, esses incentivos são de desburocratização, já que a isenção do imposto predial “não é uma ação tão eficiente”. “A ideia é levar público mais jovem para o centro e aumentar a movimentação na região, o que estimula o comércio e a circulação. Com isso, problemas de violência e falta de iluminação são minimizados”, acrescenta.

Presidente do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos, na sigla em inglês), o arquiteto Leonardo Castriota confirma que “o retrofit é uma boa opção e atende o público que não depende de carros, como estudantes e idosos”, diz o dirigente do órgão ligado à ONU.

 

Falta de eventos prejudica o setor

A diminuição de eventos de negócios e de espaços dedicados a eles no centro da capital mineira também é apontada como um dos fatores que prejudicam a rede hoteleira da cidade. “Não há aumento de desembarque (nos aeroportos). Pelo contrário, tivemos perda de companhias aéreas internacionais, não há captação de eventos, não há novos espaços de eventos ou de novos produtos turísticos”, avalia a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-MG), Erica Drumond.

“O fechamento do Minascentro, que também fica na região central de Belo Horizonte, foi um dos problemas enfrentados pelo Othon, porque os eventos de lá levavam público para o hotel”, avalia o diretor do jornal “MG Turismo” e da Associação de Jornalistas e Blogueiros de Turismo do Brasil (Ajobtur), Antônio Claret Guerra. “A forma como o Minascentro foi fechado afetou a própria imagem da cidade. Eventos que já estavam agendados foram cancelados, o que prejudica o setor de turismo como um todo”, critica.

 

Revitalização pode fazer o centro ‘pulsar’

Para o consultor hoteleiro da JR & MVS, Maarten Van Sluys, a revitalização do centro da capital mineira é necessária para que a hotelaria da região “volte a ser pulsante e represente uma fatia importante da cidade”. Entre os problemas que ele aponta estão o trânsito, a limpeza e a violência crescente.

“Sobre a revitalização do centro, trabalhamos no deslocamento dos camelôs para shoppings populares e na inclusão social da população de rua”, afirma a subsecretária de Planejamento Urbano da Prefeitura de Belo Horizonte, Izabel Dias.