Para moradores da Pampulha e para quem circula pela região, um alerta: de cada cinco carros roubados em Belo Horizonte no mês de novembro do ano passado – último que teve dados divulgados pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) –, um foi na regional. Foram 34 ocorrências de um total de 158, ou seja, 21,5%.
Uma quadrilha especializada no crime pode ter ligação com esses casos. A Polícia Civil confirmou à reportagem do Super Notícia que investiga a atuação da “Gangue da Fiorino”. No dia 28 de novembro do ano passado, o bando foi flagrado por câmeras de vigilância no momento em que abordava uma mulher, de 39 anos, parada em frente a uma escola no bairro Indaiá, na Pampulha, para pegar a filha de 4 anos. Ela teve o carro zero roubado em uma ação rápida dos criminosos.
Detalhes das investigações não foram informados para não atrapalhar os trabalhos, segundo a Polícia Civil. No entanto, a corporação indicou que o grupo pode estar ligado a mais crimes do tipo. “Três suspeitos envolvidos já foram identificados. Um deles foi preso”, informou em nota.
Para o advogado e criminólogo Jorge Tassi, pelo menos dois aspectos fazem com que a Pampulha atraia esse tipo de criminoso: um é o fato de a região ter uma área muito grande – são 51,21 km², a segunda maior da capital, atrás apenas do Barreiro (53,6 km²). O outro motivo é que a regional tem um grande fluxo de pessoas.
“A Pampulha é muito grande, então se torna uma região difícil de se fazer um patrulhamento completo com veículos. Além disso, é um local que concentra muitas pessoas, pela vasta opção de lazer e comércio. Então, os criminosos se aproveitam disso para atuar”, avalia Tassi.
O especialista acredita que, para diminuir o problema, as forças de segurança deveriam agir de uma forma ainda mais próxima da comunidade e em parceria com estabelecimentos comerciais.
“O criminoso que age em áreas como a da Pampulha consegue acompanhar a pessoa que vai a um restaurante, por exemplo. Muitas vezes, é preciso parar o carro distante do local por conta da falta de vagas e do excesso de veículos, o que facilita para o bandido. Seria interessante a PM aumentar o patrulhamento a pé na Pampulha e os estabelecimentos criarem um cordão de proteção, contratando segurança privada para atuar em conjunto com a polícia. Você estará protegendo um cliente que com certeza vai querer retornar caso se sinta seguro”, sugere.
A Polícia Militar de Minas Gerais, por meio do Comando de Policiamento da Capital, informou que “a distribuição do policiamento tem como objetivo cobrir toda a área territorial de BH” e, com base em análise criminal desenvolvida pela corporação, prioriza os locais com maior incidência criminal.
“As informações obtidas alimentam os bancos de dados para que sejam desenvolvidas ações e operações a fim de efetuar a prisão dos autores, bem como prevenir que outros delitos venham a acontecer”, disse em nota.
Mercado ilegal de peças
Além de ser um tipo de crime de rápida execução por parte dos bandidos, segundo especialistas, o roubo de veículos é bastante lucrativo, já que alimenta o mercado ilegal de peças a partir do desmonte de, principalmente, carros e motos. E o mercado ilegal vai além das fronteiras de Minas Gerais, como explica a especialista em segurança pública Ludmila Ribeiro.
“Muitas vezes um carro que custa R$ 100 mil vai gerar um lucro de R$ 1 milhão com a revenda dessas peças. É um comércio fácil de cruzar fronteiras, há uma baixa vigilância. Há locais de desmanche que ficam no fundo de quintal de uma casa ou de uma oficina. Boa parte dessas peças vai para outros Estados e até países. É preciso um trabalho de inteligência muito eficaz para atacar essas quadrilhas na raiz”, afirma.
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que, além do trabalho investigativo, que tem como alvo indivíduos envolvidos efetivamente na prática desse crime e aqueles que adquirem ilegalmente o material furtado ou roubado, a corporação realiza operações em todo o Estado com o fim de combater a expansão do crime organizado, desde quem rouba até os receptadores dos produtos.
Moradores
A reportagem conversou com representantes das associações de moradores dos bairros Bandeirantes e Ouro Preto, que pertencem à Pampulha. Ambos relataram perceber que os roubos de carro atingem principalmente visitantes que vão à região para lazer. Eles elogiaram o trabalho da Polícia Militar, que afirmam dialogar frequentemente com os moradores e fazer ações preventivas contra crimes.
Legais
Apesar do mercado ilegal, existem 225 locais legais credenciados em BH em conformidade com a Lei do Desmonte pela Coordenadoria Estadual de Gestão de Trânsito (CET-MG), sendo 73 para comércio de peças e 152 para desmontagem.