As temperaturas elevadas em Belo Horizonte nos últimos dias chamam a atenção para a possibilidade de doenças e até de morte. Conforme a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no ano passado, em média, sete pessoas perderam a vida por mês por conta da gastroenterite. O número de casos da enfermidade, cujos sintomas são diarreia, náusea, vômito e dor abdominal, aumentam no calor, que favorece a proliferação de vírus e bactérias.
Conforme o executivo municipal, a gastroenterite não é uma doença de notificação compulsória e, por essa razão, são registrados somente os surtos da enfermidade — ou seja, dois ou mais casos relacionados. No município, o monitoramento dos casos de surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), causadas pelo consumo de água ou alimentos contaminados, é feito pela Secretaria Municipal de Saúde. Somente no ano passado, foram 41 notificações de surtos da doença, sendo que 83 pessoas perderam a vida — dez vítimas morreram logo no primeiro mês do ano. Os dados de 2025 ainda não estão disponíveis.
Já no que diz respeito às internações, ainda de acordo com a PBH, foram registradas 752 em 2024, considerando doenças diarreicas agudas e outras infecções intestinais. Neste ano, foram 48 internações.
Risco pode ser maior entre idosos
Diretor de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Belo Horizonte, Paulo Roberto Corrêa afirma que o quadro é preocupante, sobretudo tendo em vista as temperaturas mais elevadas. Os mais afetados são, em geral, crianças e idosos. De acordo com ele, mais de 83% das mortes pela enfermidade no ano passado foram registradas entre pessoas da terceira idade. Além disso, os sintomas deixam as pessoas incapacitadas, conforme ele ressalta.
“As pessoas ficam incapacitadas tanto pelo volume de diarreia, por exemplo, quanto pela frequência e mal-estar que acarreta. Entre crianças e idosos, há risco maior de desidratação, internação e, em alguns casos, de morte”, diz ele.
Segundo Corrêa, isso ocorre porque muitas vezes, nessas faixas etárias, as pessoas não têm muita percepção de sede ou não ingerem bastante líquido. “A criança não se manifesta muito sobre a sede, e o público idosos, por vezes, não toma tanta água”, ressalta.
Prevenção
Uma das formas de combater a gastroenterite é justamente adotar boas medidas de prevenção. Conforme Corrêa, é necessário, por exemplo, estar sempre atento aos cuidados com os alimentos e lavá-los muito bem antes de consumi-los, além de observar a data de validade. “É também necessário consumir sempre água tratada e lavar as mãos antes e depois de ir ao banheiro”, completa.
Além disso, a PBH atua na identificação de possíveis surtos da doença, que costumam acontecer em locais fechados como creches, escolas e locais de trabalho. “É preciso identificar rapidamente para saber o que está causando o quadro”, afirma ele.
“Vivendo de líquido”
A auxiliar administrativo Evelyn Silva, de 20 anos, é uma das pacientes com sintomas de gastroenterite. Aguardando atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Odilon Behrens nesta segunda-feira (20 de janeiro), ela contou que estava, desde sexta-feira (18 de janeiro), com náusea e dor de cabeça, além de pressão baixa. Tudo começou, conforme ela, com a elevação das temperaturas. “Eu não comi nada hoje. Só tomei água. Mesmo assim vomitei na sala de triagem. Estou vivendo só de líquido”, afirmou ela.
Na UPA Barreiro, o técnico de enfermagem José Fernando Ferreira, de 22 anos, também esperava atendimento. “Começou há uma semana. Eu estou com náuseas, vômitos, um pouco de desidratação, não estou conseguindo comer, muita tremedeira. Estou com dificuldade de me alimentar também. Eu acho que é um pouco por causa desse calor, porque tudo começou nesse calor”, contou ele. “Hoje ficou insustentável. Fiquei só de cama, suando frio. Estou sentindo minha cabeça rodar um pouco, como se eu fosse desmaiar”, desabafou.
O porteiro de uma UPA, que preferiu não se identificar, afirmou que diversas pessoas têm chegado ao local com sintomas da doença. “Só neste fim de semana, foram diversas crianças e adultos com vômito. Toda hora. É ‘uma onda’”, diz.
Perguntas e respostas
Quais são os fatores de risco para a doença?
- Ingestão de água sem tratamento adequado;
- Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, do preparo e armazenamento;
- Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e derivados;
- Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou mal cozidos;
- Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada;
- Viagem a locais em que as condições de saneamento e de higiene sejam precárias;
- Falta de higiene pessoal.
Quais são os sinais e sintomas?
Ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda no período de 24hrs (diminuição da consistência das fezes – fezes líquidas ou amolecidas – e aumento do número de evacuações) podendo ser acompanhados de:
- Cólicas abdominais;
- Dor abdominal;
- Febre;
- Sangue ou muco nas fezes;
- Náusea;
- Vômitos.
Quais são as complicações?
A principal complicação é a desidratação. O paciente com diarreia deve voltar ao serviço de saúde se não melhorar ou se apresentar qualquer um dos sinais e sintomas:
- Piora da diarreia;
- Vômitos repetidos;
- Muita sede;
- Recusa de alimentos;
- Sangue nas fezes;
- Diminuição da urina.
Quais as formas de tratamento?
O tratamento se fundamenta na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade do caso.
Quais são as formas de prevenção?
- Lave sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e depois de amamentar e trocar fraldas;
- Lave e desinfete as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;
- Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados);
- Trate a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar);
- Guarde a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sendo a “boca” estreita para evitar a recontaminação;
- Não utilize água de riachos, rios, cacimbas ou poços contaminados para banhar ou beber;
- Evite o consumo de alimentos crus ou mal cozidos (principalmente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias;
- Ensaque e mantenha a tampa do lixo sempre fechada; quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado;
- Evite o desmame precoce. Manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarreias.
Fonte: Ministério da Saúde