Lanchonete, salas temáticas, mirante, corredores. São 1220 metros quadrados do bairro Córrego do Feijão que serão a casa de memórias, homenagens e aprendizados. O Memorial Brumadinho, inaugurado neste sábado (29), teve cada detalhe pensado para relembrar a tragédia que devastou o município em todos os aspectos.

Logo na fachada, a primeira referência à tragédia. A cor marrom das paredes lembra a lama contaminada com minério, que varreu casas, sonhos, objetos e, principalmente, vidas. "Quando houve o rompimento, a lama passou por cima de tudo e coloriu tudo com essa cor. Essa cor é a cor-testemunha da brutalidade que foi feita, por isso o prédio é monocromático", detalha o arquiteto Gustavo Penna, proprietário do escritório de arquitetura que pensou o projeto do Memorial.

A primeira sala, na recepção, também faz referência ao dia da tragédia. O cômodo é escuro e tem, ao fundo, pregados no chão, cristais em forma de coração, levemente iluminados pela luz do sol que entra por pequenas aberturas no teto. À esquerda, uma pequena capela. Assista ao vídeo que mostra um pouco do espaço:

Abre Aspas

"Este é um espaço meditativo, reflexivo, onde vão acontecer celebrações ecumêmicas. Ao lado da capela é Sala da Gruza, com um grande cristal, com algumas peças de cristal, lembrando as joias, em espaços mais escuros, mas que mostra a luz. No teto a gente tem recortes que entram luz e que iluminam esses cristais, lembrando da luz que faltou no dia da tragédia", detalha a presidente da Fundação Memorial Brumadinho, Fabíola Moulan.

Adentrando mais o local, o visitante se depara com a entrada de um grande corredor. O local é uma grande fenda, que tem nas suas paredes os nomes das 272 vítimas da tragédia. No meio do grande corredor, duas salas, uma de cada lado: Testemunho e Memória.

Na sala Testemunho, diversos telões exibem vídeos do exato momento em que a barragem cedeu, às 12h28 de 19 de janeiro de 2025. Imagens de agentes do Corpo de Bombeiros também são exibidas. "Essa sala faz um testemunho a partir da perspectiva dos familiares, do viés dos familiares", resume Fabíola.

A sala Memorial é uma conexão dos familiares com as vítimas. O local abriga pertences das vítimas (roupas, brinquedos, objetos favoritos), além de também guardar segmentos corporais das joias. A paranaense Gisieli Ribeiro, Oliveira, de 50 anos, perdeu o marido, Noel Borges, que trabalhava em uma empresa terceirizada. Foi difícil para a mulher visitar o local reservado para o marido na sala de segmentos corporais.

"Ele trabalhava em uma empresa de Curitiba, que prestava serviços terceirizados para a Vale. Eu levei um ano e sete meses dias para conseguir sepultá-lo, e só sepultei uma parte, porque a outra está aqui. É uma emoção muito grande, mas também relembrar esse crime, pelo qual até hoje ninguém foi punido", desabafa.

Mais sobre o Memorial Brumadinho

Saindo das salas, de volta ao corredor, alguns metros, basta o visitante olhar para cima para ver um grande monumento em forma de quadrado, com uma das pontas para baixo. Do topo dele sai uma pequena cachoeira que desagua nas laterais do corredor. "Este é o monumento 'Cabeça que chora', uma homenagem aos familiares que ficaram e que choram por seus mortos", explica Fabíola Moulan, presidente da Fundação Memorial Brumadinho.

O fim do corredor é um mirante bem de frente para o local por onde a lama passou para devastar as 272 vidas. Desse ponto é possível ver algumas partes do solo ainda levemente tomadas pela lama.

De ambos os lados do corredor, bosques com 272 ipês amarelos, também relembrando o número de vidas ceifadas. Todas as paredes do memorial são robustas e grossas, o que, segundo o arquiteto Gustavo Penna, é intencional.

"O que queremos é que seja algo forte. O Memorial não é uma construção levinha, delicada. É uma construção bruta, ele quer isso, ser algo extremamente rude, pois ele precisa ser um protesto bem forte", esclarece o autor do projeto.

Sobre o local

Inaugurado apenas para familiares neste sábado (25), o Memorial Brumadinho estará aberto ao público a partir da próxima quarta-feira (29). O espaço funcionará de quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e, aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. O Memorial ficará fechado nas segundas e terças-feiras, para manutenção.