Pensando na aproximação do período chuvoso em Minas Gerais — entre outubro e março —, o governo do estado acaba de anunciar um pacote de R$ 203 milhões em recursos para ações de enfrentamento às arboviroses — que englobam Dengue, Chikungunya, Zika e Febre Oropouche. As medidas foram anunciadas pelo secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, durante o segundo dia da Jornada Mineira de Enfrentamento às Arboviroses, nesta quinta-feira (4/9), na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte.
De acordo com Baccheretti, do total dos recursos anunciados, R$ 120 milhões serão destinados aos municípios para a preparação e resposta eficiente à situação de emergência. “Os recursos podem ser destinados à contratação de agentes de endemias, à compra de insumos como soros, poltronas e à organização do sistema de saúde. Portanto, a aplicação é abrangente, englobando o combate à dengue, desde o controle de vetores até o atendimento aos pacientes. Além disso, há repasses destinados aos consórcios, que incluem o uso de drones e as Unidades de Borrifação Ultra Baixo Volume (UBVs), popularmente conhecidas como ‘fumacê’. A descentralização do fumacê é uma novidade deste ano, enquanto o uso de drones começou no ano retrasado. Ambos são ferramentas importantes no combate à dengue. Espera-se que esses recursos sejam prioritariamente aplicados na prevenção, por meio de ações de capacitação, visando a redução da incidência da doença”, explicou o secretário.
Baccheretti também apontou que serão repassados R$ 35 milhões para os consórcios municipais de saúde, que atendem todo o território mineiro, além de R$ 27 milhões no fortalecimento da rede de laboratórios do estado. Já para a estratégia VigiDrones, que utiliza veículos aéreos não tripulados no mapeamento de focos do mosquito em áreas de difícil acesso, otimizando o trabalho dos Agentes Comunitários de Endemias (ACE), serão destinados mais R$ 21 milhões.
Desafios
Questionado sobre a redução de aproximadamente 90% nos casos de dengue no último período sazonal, em comparação com os anos de 2023 e 2024, Baccheretti afirmou que qualquer previsão para o próximo período epidemiológico é desafiadora.
“Historicamente, a dengue apresentava ciclos epidêmicos a cada três anos. Apesar de não ser o esperado, um novo ciclo de aumento de casos ocorreu recentemente, impulsionado pela introdução de um novo sorotipo da doença. A expectativa é de um ano com alta circulação viral, exigindo medidas preventivas para mitigar os riscos. A análise epidemiológica indica que o próximo ano pode ser desafiador, devido à circulação simultânea de três sorotipos diferentes, um cenário incomum. A presença de três sorotipos aumenta a probabilidade de infecção em pessoas que nunca foram expostas a um determinado sorotipo, elevando o risco de desenvolvimento da doença”, ressaltou o secretário.
Em 2024, Minas registrou mais de 1,6 milhão de casos de dengue
No ano de 2024, Minas registrou 1.658.192 casos de dengue, fator que Baccheretti considerou como desafio significativo para todo o estado. “As ocorrências foram generalizadas, com impactos variados em cada região. Especificamente, o Triângulo Mineiro foi particularmente afetado, em grande parte devido à sua proximidade com o estado de São Paulo, que enfrentou um ano epidemiológico severo. A circulação de pessoas entre as regiões facilitou a disseminação dos tipos de dengue 2 e 3, que estavam em alta em São Paulo. Consequentemente, o Triângulo Mineiro se destacou pelo aumento nos casos, enquanto outras regiões, como Belo Horizonte, o Norte de Minas e a Zona da Mata, apresentaram uma queda significativa, sem atingir níveis epidêmicos”, disse.
O secretário afirmou que, para o próximo período chuvoso, a preocupação reside na possibilidade de que esses novos tipos de dengue, atualmente concentrados no Triângulo Mineiro, se espalhem pelo restante do estado, elevando o risco de ocorrências simultâneas de diferentes sorotipos. “A reinfecção por diferentes tipos de dengue em um curto período de tempo aumenta o risco de dengue grave, anteriormente conhecida como dengue hemorrágica. Por isso, é crucial que as autoridades e a população permaneçam vigilantes e proativas”, acrescentou.
Secretário reforça importância da vacinação
Quanto à vacinação, Baccheretti afirmou que atualmente há apenas uma fábrica produzindo a vacina contra a dengue no estado, que requer duas doses e para qual o público-alvo em Minas é de 6 a 14 anos. “O governo estadual está incentivando os municípios a ampliar a abrangência da vacinação, pois a vacina parada não atende ao objetivo. A vacinação é essencial, considerando que a temporada de maior incidência da dengue se inicia em quatro ou cinco meses. Embora a vacina não esteja liberada para pessoas com mais de 60 anos, a faixa etária de 6 a 14 anos, que é o grupo com maior risco de óbito proporcionalmente, está sendo priorizada. Há otimismo em relação à construção de uma fábrica de vacinas, que deve começar ainda este ano, com a vantagem de uma vacina de dose única, produzida no Brasil, com capacidade para 20 milhões de doses anuais. Espera-se que no próximo ano haja uma nova vacina, ampliando as possibilidades de imunização para os mineiros e brasileiros”, pontuou.
Números de casos de arboviroses registrados em 2025 até o momento
Dengue
De acordo com o último boletim epidemiológico dos casos de arboviroses no estado, divulgado no dia 4 de agosto deste ano, Minas registrou 156.998 casos prováveis de dengue em 2025, até a data de divulgação do boletim. Desse total, conforme a SES-MG, 99.047 casos foram confirmados para a doença e 72 óbitos estão em investigação. Até o momento, há 116 óbitos confirmados por dengue no estado.
Chikungunya
Em relação à Febre Chikungunya, a pasta aponta que foram registrados 15.323 casos prováveis da doença em 2025, dos quais 12.822 foram confirmados. Até o momento, o boletim indica que há quatro mortes em investigação pela doença e quatro mortes confirmadas.
Zika
Quanto aos registros do vírus Zika, a SES-MG informa que, até o momento, há 57 casos prováveis e 20 casos confirmados para a doença no estado neste ano. Não há óbitos confirmados pela doença durante o período mencionado.
Oropouche
Segundo a última atualização do painel epidemiológico do Ministério da Saúde, Minas registrou 1.367 casos de Febre Oropouche em 2025. Nenhum óbito causado pela doença até o momento.