Com uma talhadeira e uma marreta em mãos, o grupo que assaltou a empresa de ônibus Transimão, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, na madrugada desta segunda-feira (1), “surpreendeu pela audácia”, de acordo com o especialista em segurança Luís Flávio Sapori. O bando tentou utilizar as ferramentas para abrir o cofre da empresa, mas não obteve sucesso. 

Para Sapori, o crime chamou a atenção por uma série de fatores e, provavelmente, foi cometido por pessoas inexperientes, já que é algo bastante atípico pelos riscos que os suspeitos correm.

“Assaltos a empresas de ônibus chamam muito a atenção. Sempre tem diversas pessoas presentes, e a possibilidade de alguém chamar a polícia é muito grande. O grupo chamou a atenção pela audácia. O risco de eles serem identificados é alto. Talvez, pelo dinheiro que achavam que teria disponível, devem ter feito o um cálculo de ‘custo-benefício’, diz.

Conforme o especialista em segurança, empresas de ônibus não são um tipo de alvo comum. “É fundamental saber se tem imagens, não só do local, mas também das redondezas. Mesmo com o insucesso do assalto, é importante que a polícia entre em cena, faça uma investigação competente e técnica”, afirma Sapori.

Relembre o caso

Na madrugada desta segunda-feira (1°), quatro homens com pistola e arma longa mantiveram cerca de 15 funcionários da empresa de ônibus Transimão reféns, em Contagem. Os assaltantes pretendiam arrombar e levar o material que estava trancado no cofre do estabelecimento. A ação criminosa durou cerca de 30 minutos.

Segundo um funcionário da bilhetagem eletrônica que foi feito refém, os homens chegaram à empresa por volta das 3h pelos fundos da garagem, onde renderam duas pessoas. 

Em seguida, prenderam outros dois trabalhadores da portaria e ele, que estava em uma sala separada. Depois, capturaram os demais funcionários. Nesse momento, um homem que trabalha no setor de manutenção da empresa teria sido ferido pelos assaltantes. 

“A informação dos reféns foi de que os autores foram bastante agressivos. Um deles teria agredido um dos funcionários com golpes de barra de ferro no braço. Ele teve lesões leves, foi socorrido por uma guarnição da PM, já retornou à empresa e passa bem”, conta o tenente Leandro Rodrigues. 

O homem foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Ressaca e, depois, teve que retornar à Transimão para prestar depoimento.  

Todos os funcionários foram presos pelos assaltantes na tesouraria da empresa, onde fica o cofre. Os quatro suspeitos teriam tentado arrombar a estrutura de proteção com uma talhadeira e uma marreta, mas não tiveram sucesso. No local, estariam os valores arrecadados durante o fim de semana.

Um dos reféns afirmou que não sofreu ameaças. “Eles só queriam o dinheiro da empresa”, disse. Esse mesmo funcionário relatou que os quatro envolvidos estavam armados, sendo três com pistolas e um com fuzil. 

O número diverge do divulgado pela Polícia Militar. Segundo o tenente Leandro Rodrigues, apenas dois deles carregavam armas, sendo uma pistola e uma arma longa sem identificação. O assalto teria acabado por volta de 3h50, quando os homens foram embora. Segundo a polícia, os suspeitos levaram apenas celulares de algumas vítimas e fugiram. Os trabalhadores da Transimão continuaram na tesouraria e acionaram a Polícia Militar. 

Fuga pelos fundos da empresa e possível ligação com outro crime

Os suspeitos fugiram pelos fundos da empresa, que dá para uma mata às margens da BR-040. Eles ainda não foram localizados, embora a polícia tenha feito uma varredura na região com helicóptero. 

A Polícia Militar (PM) só chegou ao local quando os bandidos já haviam ido embora. Isso ocorreu, segundo o tenente da corporação Leandro Rodrigues, porque quem acionou o socorro foram os próprios funcionários que estavam mantidos como reféns.

“Aos fundos da empresa é uma área de mata que dá acesso à BR-040. O Pégasus [helicóptero da polícia] fez uma varredura com equipamento especializado, led infravermelho, mas, nesse momento, nenhum dos autores foi localizado”, diz o tenente. 

“Vamos avaliar se tinha mais gente dando cobertura, se teve algum carro roubado por perto e até por que eles sabiam onde estava o cofre da empresa. Todas essas informações estão sendo trabalhadas pela PM e serão repassadas à Polícia Civil, que vai cumprir sua função investigativa”, afirma o tenente. 

O agente afirma que as polícias irão analisar se há ligação entre a tentativa de assalto à Transimão e outro roubo, que ocorreu na noite de domingo (31), em um posto de gasolina, em Contagem. Estima-se que os bandidos tenham levado cerca de R$ 50 mil. Dois homens levaram também um veículo do posto e fizeram um frentista de refém. 

Ação foi filmada, mas imagens são precárias, diz tenente da PM

O assalto na Transimão foi filmado por câmeras de segurança. Mas os vídeos repassados à Polícia Militar são precários. “As imagens que conseguimos são de qualidade precária, principalmente por se tratar de período noturno, então a qualidade da cena é bastante comprometida”, detalha o tenente Leandro Rodrigues. 

Segundo o militar, as imagens mostram apenas dois homens no assalto, mas os funcionários da empresa afirmam que haviam quatro suspeitos no local. Leandro Rodrigues também diz que os bandidos não cobriram o rosto e que não entraram uniformizados na empresa.

“Mas, na tentativa de se passarem despercebidos, eles tomaram o uniforme de alguns funcionários e colocaram a roupa durante a ação”, destaca.

Linhas afetadas

Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram), ao todo, 40 linhas foram afetadas no início das operações de madrugada, sendo 27 metropolitanas e 13 municipais. As viagens foram retomadas no meio da manhã.

Segundo o Sintram, a empresa está prestando toda assistência aos seus profissionais.