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Casos de Covid-19 entre profissionais da saúde de UPAs e Samu crescem 106% em BH

De acordo com servidores, sobrecarga de trabalho e lotação das unidades contribuem para o avanço da contaminação

Por Rafaela Mansur
Publicado em 27 de julho de 2020 | 16:56
 
 
 
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O número de profissionais da saúde das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) infectados pelo novo coronavírus mais do que dobrou neste mês em Belo Horizonte. No dia 1º de julho, eram 33 servidores da rede própria do SUS/ BH com testagem positiva para Covid-19, e, nesta segunda-feira (27), são 68, o que representa um aumento de 106%, segundo dados dos boletins epidemiológicos da prefeitura. De acordo com os trabalhadores, a sobrecarga de serviço, a lotação das unidades e o fato de o hospital de campanha do governo do Estado ainda não estar recebendo pacientes contribuem para o cenário.

Segundo o presidente do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), Israel Arimar de Moura, o crescimento da curva de casos de Covid-19 na capital nas últimas semanas sobrecarregou as UPAs. "Os pacientes que procuram o serviço hospitalar com quadro grave acabam ficando nas UPAs até conseguir transferência para um hospital. A estrutura das unidades não é 100% adequada, elas têm espaços apertados e alguns locais pouco arejados", afirma.

Conforme O TEMPO mostrou neste domingo (26), o Sindibel denunciou a ocorrência de um surto de Covid-19 na UPA Barreiro, com pelo menos 30 profissionais com diagnóstico positivo para a doença. Mas, segundo Moura, em todas as nove unidades de pronto-atendimento da capital há trabalhadores infectados. Outro problema geral seria a falta de reposição dos servidores afastados por contaminação.

Para a presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMS-BH), Carla Anunciatta, o funcionamento do hospital de campanha do governo do Estado, no Expominas, é necessário para garantir um suporte à rede de atendimento. A unidade foi aberta no dia 13 de julho, mas ainda não começou a receber pacientes.

"Se o Estado não abre aquele hospital de campanha com a capacidade total disponível de leitos, fica difícil, porque as pessoas têm de ficar na UPA por muito tempo e acabam contaminando as outras. O ideal seria que o paciente fosse atendido na UPA, recebesse o diagnóstico e fosse encaminhado para o hospital de campanha, se fosse algo leve. Os casos mais complicados iriam para um hospital", pontua.

Segundo Carla, o mais importante neste momento é a intensificação do isolamento social para a redução da circulação do vírus e da taxa de transmissão da Covid-19 na cidade. Por isso, o CMS-BH continua a defender o lockdown. "Belo Horizonte começou bem, seguindo as recomendações do comitê, fazendo o isolamento. Com aquela flexibilização, as pessoas acharam que está tudo bem, mas não está, a curva está ascendente. Está piorando e colocando em risco a vida de todos nós", avalia.

Uma técnica de enfermagem que atua na UPA Barreiro disse, sob anonimato, que é grande o desfalque no quadro de funcionários: "Se adoecem dois, com muito custo repõem um". A categoria dela é a mais afetada pelo coronavírus: dos 68 profissionais de saúde infectados nas UPAs e no Samu, 37 (54%) são técnicos de enfermagem. Neste domingo, o colega dela, Gerônimo Batista Pires, 53, morreu por Covid-19.

De acordo com a técnica, a sala de urgência da UPA, com capacidade para seis pacientes, chega a receber o dobro. O mesmo ocorre nas enfermarias. A sobrecarga de trabalho faz com que os profissionais, embora estejam recebendo os equipamentos de proteção individual adequados, não consigam manter todos os cuidados preventivos indicados. "O Gerônimo foi o primeiro, mas se continuar dessa forma, vão morrer mais pessoas", lamenta.

UPA Barreiro tem funcionamento normal, diz prefeitura

Questionada pela reportagem sobre o surto na UPA Barreiro e a situação das demais unidades de pronto-atendimento da capital, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) confirmou que "trabalhadores da UPA Barreiro testaram positivo para Covid-19" e disse que "mantém a investigação epidemiológica para apurar se há correlação entre os casos". A unidade conta com 387 servidores e atende, em média, 175 pessoas por dia, considerando dados de julho.

O protocolo determina que os profissionais que apresentarem pelo menos dois sintomas, como febre, calafrios e dor de garganta, sejam testados por PCR e afastados imediatamente do trabalho.

Segundo a SMSA, a unidade "funciona normalmente em plena condição material e de pessoal, com equipamentos, quadro de funcionários completo e seguindo todas as orientações técnicas de segurança para o combate ao novo coronavírus". Além disso, a UPA Barreiro passou por reformas e adequações recentemente, ganhou um Centro Especializado em Covid-19 (Cecovid) e conta "com infraestrutura para atendimento de urgência da população". 

Ainda conforme a secretaria, de março até o dia 3 de julho, 487 profissionais tiveram a jornada de trabalho ampliada temporariamente, para dar maior suporte às unidades de saúde. Além disso, 1.171 pessoas foram contratadas, e outras 302 contratações estão em andamento.

Saiba mais

Número. No total, 299 profissionais de saúde da rede própria do SUS/ BH testaram positivo para Covid-19 até esta segunda-feira. No dia 1º de julho, eram 130. Em 27 dias, o aumento de casos confirmados de coronavírus entre os trabalhadores foi de 130%.

Sem retorno. Questionada sobre a situação do hospital de campanha, a SES-MG não respondeu à reportagem.

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