FAMÍLIA VIVE LUTO

Corpo da bebê morta no HC de BH foi liberado e enterrado: ‘igual uma bonequinha'

Corpo passou quase três semanas no IML e foi conservado; família teve sepultamento gratuito concedido pela prefeitura de Ribeirão das Neves

Por Isabela Abalen
Publicado em 24 de maio de 2023 | 13:28
 
 
 
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Após quase três semanas no Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte, o corpo da bebê Emanuelly Vitória, que supostamente teve a cabeça arrancada durante o parto no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na região Centro-Sul de BH, foi liberado e enterrado pela família. O corpo saiu do IML nessa terça-feira (23) e foi sepultado ainda na manhã desta quarta (24), no cemitério Porto Seguro, em Ribeirão das Neves. A família da bebê mora na cidade da região metropolitana de BH.

Mesmo com a demora, o corpo de Emanuelly estava conservado e a família conseguiu se despedir antes do enterro. “Ela estava linda, é linda. Estava parecendo uma bonequinha de louça”, se emociona a tia da bebê, Aryane Santos, de 32 anos. “Fizemos uma despedida pequena e rápida, porque a minha sobrinha tinha ficado semanas no IML. Então, agilizamos assim que o corpo foi liberado”, continua. 

Enterro da bebê foi gratuito

O enterro foi realizado de forma gratuita pela prefeitura de Ribeirão das Neves e emocionou a família. “Vê-la doeu muito mais. A ficha de que a Emanuelly não vai mais voltar cai, que nunca vamos vê-la de novo. Enquanto estávamos esperando a liberação do corpo, ainda havia uma ansiedade, uma tarefa para ser feita, agora não tem mais. Deixa um vazio”, lamentou. 

A mãe da pequena, Ranielly Coelho, de 34 anos, passou mal em determinado momento da cerimônia. “A pressão da minha irmã caiu, tivemos que ampará-la e foi muito doído”, continua Aryane. Já o outro filho de Ranielly, de 9 anos, não foi ao enterro. “Desde o começo, ele escutou muito sobre o caso. Dessa vez, achamos melhor protegê-lo”. 
 

Processo de liberação do corpo

De acordo com a diretora do IML de Belo Horizonte, Naray Paulino, os últimos materiais do corpo da bebê foram coletados na segunda-feira (22). O caso demorou, segundo ela, por ser complexo e demandar diferentes exames de necrópsia e de laboratório. “A perícia no corpo de uma criança já é diferente do que no corpo de um adulto, e, no caso desse bebê, o recebemos com algumas condições diferentes que demandaram cuidado específico”, disse ao O TEMPO, sem identificar quais eram essas condições. 

O corpo de Emanuelly Vitória só foi encaminhado ao IML dois dias após a morte porque o Hospital das Clínicas havia oferecido necrópsia e enterro gratuitos à família, que acionou as advogadas após um suposto erro no resultado da necrópsia feita pelo hospital. 

O laudo da necrópsia feito pela Polícia Civil ainda não está disponível e deve cumprir um prazo médio de 30 dias de produção, que termina na semana que vem. 

Entenda o caso 

A morte de uma bebê na hora do parto, supostamente após ter a cabeça arrancada pela médica no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, é investigada pela Polícia Civil. O caso aconteceu no último dia 1º de maio e foi denunciado neste domingo (7 de maio) a O TEMPO pela família da criança, que está completamente abalada.

A mãe da criança, uma mulher de 34 anos, registrou um boletim de ocorrência após a morte do filho no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. 

De acordo com o registro, feito dois dias depois pela Polícia Civil, a gestante contou que estava com 28 semanas e apresentou um quadro de pressão alta. Por causa disso, ela ficou internada na unidade de saúde, onde foi optado pelo parto induzido. 

O pai da criança e a mãe da grávida acompanharam o parto. O homem relatou para a polícia que viu o rosto de sua filha. Ele disse também que percebeu que a pequena mexia a boca e os olhos, mas que, momentos depois, viu que a médica tinha arrancado a cabeça da criança. 

Ainda na versão dos familiares à polícia, a médica pediu desculpas e a assistente social da unidade de saúde disse que o hospital arcaria com todos os custos do sepultamento. A necropsia da bebê também teria sido feita no hospital, e o corpo não teria sido encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML) após a morte.

“Com a ocorrência, conseguimos a remoção do corpo do hospital para o IML. O hospital não queria liberar para que a família fizesse qualquer procedimento, inclusive enterro e velório, por que eles falaram que eles lidariam com essa situação do sepultamento. Amanhã (nesta segunda-feira) sai o resultado preliminar da necropsia e também uma guia preliminar para a mãe da criança. Ela está com mais de 60 pontos, não consegue andar e está muito mal psicologicamente”, explicou a advogada Aline Fernandes, que representa a família da vítima.

Ainda segundo o registro no boletim de ocorrência, familiares acompanhavam o parto através de um vidro. Eles teriam presenciado a médica subindo sobre a barriga da mãe enquanto puxava a criança, que, ao nascer, teve a cabeça arrancada do corpo. Conforme a advogada da família, a criança, inclusive, teria tido a cabeça costurada para que a mãe pudesse carregá-la.

O que diz o Hospital das Clínicas (HC)?

O Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, região Centro-Sul de Belo Horizonte, afirmou que a bebê supostamente decapitada durante o parto tinha “malformação pulmonar, incompatível com a vida”. 

A gestão da unidade disse que o parto foi prematuro, com 30 semanas de gestação, e que a gestante evoluiu para “agravamento do quadro clínico, com elevação da pressão arterial e edema generalizado”.

“Devido à gravidade do quadro materno e à inviabilidade fetal [incapacidade do feto de sobreviver fora do útero], o corpo médico optou pela indução do parto", prosseguiu. O hospital também diz que "se solidariza com a família" e que segue "à disposição dos parentes e das autoridades".

"O HC e a EBSERH empenharão todos os esforços para apuração dos fatos e análise do caso e apoio à família", concluiu o texto divulgado pelo hospital. As defesas das médicas não foram localizadas pela reportagem. 

Sobre as informações do prontuário: "O prontuário é um documento oficial, pertencente ao paciente, sob a guarda da unidade hospitalar. A paciente já foi devidamente orientada a respeito sobre os procedimentos para acesso ao documento.

Na oportunidade, informamos que o teor do prontuário diz respeito ao paciente e lhe deve ser dada a garantia da privacidade dos dados. O prontuário do paciente só pode ser disponibilizado em três situações e de acordo com o fluxo institucional:

- Ao próprio interessado, ou seja, o paciente.

- A terceiros, desde que munido de poderes, pelo paciente (procuração legal)

- à Autoridade judicial."

O que diz a Polícia Civil?

Por meio de uma nota, a Polícia Civil confirmou que instaurou um inquérito para apurar as "causas e circunstâncias" do ocorrido. "A PCMG esclarece que procedimentos estão sendo realizados com o intuito de elucidar o caso. Tão logo seja possível, outras informações serão divulgadas".

"A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que o caso se reveste de grande complexidade e demanda estudos necroscópicos e laboratoriais detalhados. Os trabalhos já foram iniciados imediatamente após a chegada do corpo no Instituto Médico-Legal Dr André Roquette. Por ora, não é possível definir data exata da conclusão do laudo. O corpo será liberado tão logo os médicos legistas definam que não serão necessárias coletas adicionais de tecidos para análises."

O que diz o CRM-MG?

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) afirmou que irá investigar o caso. "Em resposta a sua solicitação, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informa ter tomado conhecimento, pela imprensa, de desfecho desfavorável em parto realizado em Belo Horizonte, e vai instaurar os procedimentos administrativos necessários à  apuração dos fatos.

Todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP), tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório. Em conformidade com o CPEP todos os processos correm sob sigilo."

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