CABEÇA SUPOSTAMENTE ARRANCADA

Corpo de bebê morto no HC de BH será liberado até quinta; entenda a demora

Segundo diretora do Instituto Médico-Legal, caso demandou cuidado específico; família poderá enterrar a bebê normalmente

Por Isabela Abalen
Publicado em 22 de maio de 2023 | 13:37
 
 
 
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O corpo da bebê Emanuelly Vitória, que supostamente teve a cabeça arrancada durante o parto no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, passa por últimos exames de perícia nesta segunda-feira (22) e deve ser liberado até esta quinta (25). Segundo a diretora do Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte, Naray Paulino, o caso demandou cuidado específico. Três semanas após a morte da neném, a família poderá sepultá-la e enterrá-la normalmente. 

Naray explica que a demora nos exames, que se iniciaram no dia 3 de maio, dois dias após a morte da bebê, se deu porque o caso de Emanuelly era complexo, e a equipe do IML não poderia liberar o corpo antes de finalizar todos os exames. “A perícia no corpo de uma criança já é diferente do que no corpo de um adulto, e, no caso desse bebê, o recebemos com algumas condições diferentes que demandaram cuidado específico”, diz, sem identificar quais eram essas condições. 

Enterro poderá ocorrer

Segundo a diretora, o corpo passou por diversos exames complexos de necrópsia e de laboratório, e o tempo no IML não vai impactar no direito da família de sepultar e enterrar a bebê normalmente. “Não podemos liberar o corpo até que todo o material esteja absolutamente pronto. Mas o corpo da bebê está conservado, poderia ficar até quatro anos no IML sem prejuízos, para se ter uma ideia. A família poderá ter o seu momento de luto da mesma forma”, continua. 

A expectativa é que ainda nesta semana o bebê volte para a família para a realização do velório. “Os últimos materiais do bebê serão coletados na tarde de hoje (22), e até quarta ou quinta-feira (24 ou 25/5) o corpo será liberado para sepultamento”, afirma Naray Paulino. O corpo de Emanuelly Vitória só foi encaminhado ao IML dois dias após a morte porque o Hospital das Clínicas havia oferecido necrópsia e enterro gratuitos à família, que acionou as advogadas após um suposto erro no resultado da necrópsia feita pelo hospital. 

“Estamos na pior, ligando toda vez para o IML”, diz tia da bebê 

Na espera para poder, enfim,passar pelo processo de luto por causa da morte da menina, a família lida com a ansiedade de poder velar o seu corpo. “Nós estamos na pior. Não tem jeito, é muito tempo de espera, a ansiedade ataca. Nós entendemos que é um tempo necessário, mas, claro, quanto mais rápido, melhor para nós”, conta a tia da criança, Aryane Santos, de 32 anos. 

“Eu fico ligando para lá toda semana, com medo de esquecerem de nos avisar que o corpo da minha sobrinha foi liberado”, continua. Para a mãe, Ranielly Coelho, de 34 anos, o peso da espera e do luto é ainda maior. “Ela está melhor fisicamente, mas, no psicológico, está péssima. É só tocarmos no assunto, que ela sempre chora. Claro, tentamos não mencionar, mas é difícil”. 

Semana passada, Ranielly recebeu uma visita da Igreja com canções de acolhimento e doações de itens de higiene, como absorvente e sabonete. Ela não está trabalhando no momento, e o marido, ajudante de pedreiro, mantém a família. “Com a visita das meninas da Igreja, ela chorou muito. Está cuidando do outro filho, de 9 anos, e o pai consegue bicos em obras para não ficar parado. É um peso que não sai da gente, ainda estamos muito abalados”, relata a tia da bebê.

Ranielly deve passar, ainda nesta semana, por consulta psicológica e ginecológica na UPA perto de casa, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte. “Nós não entendemos direito, mas ela precisa passar por essa consulta na ginecologista porque os pontos ainda não caíram e, como cortou muito, tem que acompanhar”, explica sua irmã. 

Entenda o caso 

A morte de uma bebê na hora do parto, supostamente após ter a cabeça arrancada pela médica no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, é investigada pela Polícia Civil. O caso aconteceu no último dia 1º de maio e foi denunciado neste domingo (7 de maio) a O TEMPO pela família da criança, que está completamente abalada.

A mãe da criança, uma mulher de 34 anos, registrou um boletim de ocorrência após a morte do filho no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. 

De acordo com o registro, feito dois dias depois pela Polícia Civil, a gestante contou que estava com 28 semanas e apresentou um quadro de pressão alta. Por causa disso, ela ficou internada na unidade de saúde, onde foi optado pelo parto induzido. 

O pai da criança e a mãe da grávida acompanharam o parto. O homem relatou para a polícia que viu o rosto de sua filha. Ele disse também que percebeu que a pequena mexia a boca e os olhos, mas que, momentos depois, viu que a médica tinha arrancado a cabeça da criança. 

Ainda na versão dos familiares à polícia, a médica pediu desculpas e a assistente social da unidade de saúde disse que o hospital arcaria com todos os custos do sepultamento. A necropsia da bebê também teria sido feita no hospital, e o corpo não teria sido encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML) após a morte.

“Com a ocorrência, conseguimos a remoção do corpo do hospital para o IML. O hospital não queria liberar para que a família fizesse qualquer procedimento, inclusive enterro e velório, por que eles falaram que eles lidariam com essa situação do sepultamento. Amanhã (nesta segunda-feira) sai o resultado preliminar da necropsia e também uma guia preliminar para a mãe da criança. Ela está com mais de 60 pontos, não consegue andar e está muito mal psicologicamente”, explicou a advogada Aline Fernandes, que representa a família da vítima.

Ainda segundo o registro no boletim de ocorrência, familiares acompanhavam o parto através de um vidro. Eles teriam presenciado a médica subindo sobre a barriga da mãe enquanto puxava a criança, que, ao nascer, teve a cabeça arrancada do corpo. Conforme a advogada da família, a criança, inclusive, teria tido a cabeça costurada para que a mãe pudesse carregá-la.

O que diz o Hospital das Clínicas (HC)?

O Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, região Centro-Sul de Belo Horizonte, afirmou que a bebê supostamente decapitada durante o parto tinha “malformação pulmonar, incompatível com a vida”. 

A gestão da unidade disse que o parto foi prematuro, com 30 semanas de gestação, e que a gestante evoluiu para “agravamento do quadro clínico, com elevação da pressão arterial e edema generalizado”.

“Devido à gravidade do quadro materno e à inviabilidade fetal [incapacidade do feto de sobreviver fora do útero], o corpo médico optou pela indução do parto", prosseguiu. O hospital também diz que "se solidariza com a família" e que segue "à disposição dos parentes e das autoridades".

"O HC e a EBSERH empenharão todos os esforços para apuração dos fatos e análise do caso e apoio à família", concluiu o texto divulgado pelo hospital. As defesas das médicas não foram localizadas pela reportagem. 

Sobre as informações do prontuário: "O prontuário é um documento oficial, pertencente ao paciente, sob a guarda da unidade hospitalar. A paciente já foi devidamente orientada a respeito sobre os procedimentos para acesso ao documento.

Na oportunidade, informamos que o teor do prontuário diz respeito ao paciente e lhe deve ser dada a garantia da privacidade dos dados. O prontuário do paciente só pode ser disponibilizado em três situações e de acordo com o fluxo institucional:

- Ao próprio interessado, ou seja, o paciente.

- A terceiros, desde que munido de poderes, pelo paciente (procuração legal)

- à Autoridade judicial."

O que diz a Polícia Civil?

Por meio de uma nota, a Polícia Civil confirmou que instaurou um inquérito para apurar as "causas e circunstâncias" do ocorrido. "A PCMG esclarece que procedimentos estão sendo realizados com o intuito de elucidar o caso. Tão logo seja possível, outras informações serão divulgadas".

"A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que o caso se reveste de grande complexidade e demanda estudos necroscópicos e laboratoriais detalhados. Os trabalhos já foram iniciados imediatamente após a chegada do corpo no Instituto Médico-Legal Dr André Roquette. Por ora, não é possível definir data exata da conclusão do laudo. O corpo será liberado tão logo os médicos legistas definam que não serão necessárias coletas adicionais de tecidos para análises."

O que diz o CRM-MG?

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) afirmou que irá investigar o caso. "Em resposta a sua solicitação, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informa ter tomado conhecimento, pela imprensa, de desfecho desfavorável em parto realizado em Belo Horizonte, e vai instaurar os procedimentos administrativos necessários à  apuração dos fatos.

Todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP), tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório. Em conformidade com o CPEP todos os processos correm sob sigilo."

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