O conserto da anomalia grave na barragem Forquilha III, da Vale, em nível 3 de emergência – risco iminente de rompimento – pode iniciar ainda esta semana. Nesta segunda e terça-feira (8 e 9 de abril), representantes da Agência Nacional de Mineração (ANM) e da auditoria do Ministério Público (AECOM) visitaram o local em Ouro Preto, na região Central de Minas, e avaliaram a intervenção proposta pela mineradora para resolver o problema. A estrutura está com um vazamento de material com “características ferruginosas” no fluxo de água do dreno e furos na tubulação há pelo menos 25 dias.
De acordo com a ANM, durante a vistoria, a Vale apresentou novas informações sobre a anomalia grave da barragem. A mineradora propõe que o dreno onde foi constatado o vazamento de material seja tampado parcialmente com um filtro drenante. A solução deverá, no entanto, ser melhor detalhada. “A Vale procederá uma análise de risco e um plano de monitoramento específico para o período pós intervenção”, informou a agência.
Além disso, a mineradora ficou encarregada de propor um plano de ação complementar, esse que irá detalhar as investigações sobre a situação atual da barragem e da anomalia. A expectativa é que esses estudos sejam aprovados para que o conserto do vazamento na Forquilha III inicie o quanto antes. “Caso a Vale S.A consiga consolidar o plano de intervenção e a análise de risco, a empresa procederá com a intervenção ainda essa semana”, afirmou a ANM.
Na vistoria desta semana, estiveram presentes também representantes da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e da Defesa Civil de Minas Gerais. Por parte da Vale, o vice-presidente técnico, o Engenheiro de Registro (EoR) e as equipe de geotecnia e das consultorias independentes acompanharam a seção técnica.
A Barragem Forquilha III está em processo de descaracterização após a Lei Mar de Lama Nunca Mais. Por isso, ela é acompanhada também por uma auditoria independente. Atualmente, a barragem foi descaracterizada em 16%.
Água 'ferrosa' e furo na tubulação
Uma vistoria da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) na estrutura que fica em Ouro Preto, região Central de Minas, identificou a saída de um material com “características ferruginosas” junto ao fluxo normal de água do dreno. Os auditores também constataram furos na tubulação, o que pode estar causando o vazamento. A anomalia recebeu a pontuação 10 (a mais grave existente) pelo Ministério Público do Estado.
O Executivo afirma “acompanhar de perto” a situação na barragem Forquilha III há pouco mais de duas semanas. A Feam recebeu um ofício da mineradora informando o problema no dia 21 de março, também quando foi feita a primeira vistoria. A Vale informou o governo seis dias após a anomalia ser constatada no local.
Ministério Público pediu transparência da mineradora
Na última sexta-feira (5 de abril), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) emitiu uma recomendação à mineradora cobrando maior transparência de seus atos, após a estrutura apresentar a anomalia de pontuação 10 (a mais grave existente). Segundo eles, a legislação ordena que esse tipo de ocorrência seja comunicada às autoridades em até 24h, e a Vale só teria alertado os órgãos envolvidos após cinco dias da constatação.
Segundo a CBH Rio Paraopeba, esse carreamento de material fino no dreno do fundo da barragem indicaria para um suposto "estado de liquefação da barragem", o que é apontado como principal causa para rompimentos em barragens a montante.
Apesar de recomendação, Vale diz que avisou autoridades "prontamente"
Procurada pela reportagem de O TEMPO, a mineradora confirmou a identificação da anomalias em um dos 131 dispositivos de drenagem da barragem Forquilha III, da Mina de Fábrica, está em nível 3 de emergência desde 2019 e está com sua Zona de Autossalvamento (ZAS) evacuada. Entretanto, a empresa alegou que comunicou os órgãos competentes "prontamente", o que é contestado pelo MPMG.
Além disso, a mineradora lembra que desde 2021 está pronta a Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ), que tem Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) positiva vigente e seria capaz de conter os rejeitos em caso de rompimento.
"A barragem está em processo de descaracterização e, durante inspeção regular realizada em março, foi identificada uma anomalia em 01 dos seus 131 dispositivos de drenagem. A Vale, prontamente, comunicou aos órgãos competentes e à empresa de auditoria técnica independente, que acompanha as ações na estrutura, e desenvolveu um plano de ação já em implantação para correção da ocorrência", escreveu na nota.
Além disso, a Vale informou que os instrumentos de monitoramento instalados na barragem não acusaram alteração nas suas condições e que a estrutura segue sendo monitorada "24 horas por dia e 7 dias por semana". "A Vale reforça que empreende todos os esforços visando a redução do nível de emergência da estrutura", conclui a empresa.