Dois servidores da Polícia Civil que atuavam na delegacia de Carandaí, no Campo das Vertentes, mesmo local onde a escrivã Rafaela Drummond, de 32 anos, trabalhava, foram transferidos nesta sexta-feira (23). O delegado e o investigador vão continuar trabalhando juntos, mas agora na Delegacia Regional de Polícia Civil de Conselheiro Lafaiete. As mudanças foram publicadas no Diário Oficial do Estado, conhecido como Minas Gerais.
Fontes ouvidas pela reportagem indicam que eles são investigados por assédios relacionados à escrivã. As transferências ocorreram um dia após as investigações ficarem a cargo exclusivamente da Corregedoria Geral da Polícia Civil (CGPC), localizada na capital. Inicialmente, a delegacia de Barbacena, responsável pela unidade de Carandaí, conduzia o caso. A mudança do delegado foi "a pedido", enquanto a do investigador foi por determinação da polícia.
Em nota, a Polícia Civil justificou, nessa quinta-feira (22), a transferência da investigação do caso devido à complexidade da investigação. “A CGPC, sediada em Belo Horizonte, apresenta a estrutura necessária para dinamizar e concluir os procedimentos instaurados. A PCMG reforça que as investigações continuarão sendo conduzidas de maneira isenta e imparcial”, diz trecho do comunicado. Sobre a transferência dos servidores, a instituição afirmou que seguiu "princípios e critérios legais que regem a administração pública".
A distância entre as duas delegacias é de menos de 40 km. O pai de Rafaela, Aldair Drummond, denunciou, também nessa quinta, que a família tem sido coagida por policiais. “Um carro de polícia está rodando direto na casa da minha filha, passando em frente à loja dela. Agora, é uma questão de vida ou morte, estão ameaçando a minha família", denunciou a O TEMPO.
O pai de Rafaela afirmou que, se o Estado não der proteção a ele e aos familiares poderá “acontecer igual o caso da Marielle [vereadora carioca assassinada a tiros em 2018]”. “Estou pedindo ajuda”, desabafou. Questionada sobre a denúncia de Aldair, a Polícia Civil informou não ter conhecimento sobre os fatos e orienta, qualquer pessoa que se sinta ameaçada, a formalizar denúncia pelo Disque 181 ou pelo Disque-Ouvidoria (162).
Investigação
Em pronunciamento da Polícia Civil de Minas Gerais, realizado no dia 15 de junho, o delegado Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena responsável por conduzir a investigação até a data, afirmou que não existiam registros formais referentes a casos de assédio moral na região. No entanto, as investigações são conduzidas com o objetivo de identificar se esses episódios de violência foram relatados em alguma oportunidade.
"Não chegou nenhuma reclamação formal ao meu conhecimento, mas o inquérito policial verifica isso. Se houve algo e em que consistia essa denúncia", disse o delegado, que afirmou que a investigação ocorre de forma isenta e profissional. "A minha gestão é de portas abertas. Temos hierarquia e disciplina em que temos que obedecer algumas regras. Mas sempre estive disponível aos policiais", garantiu.
Até a data do pronunciamento, seis dias após a morte da escrivã, nenhum servidor havia sido afastado suspeito de assediar a escrivã. No entanto, materiais foram apreendidos, como o celular dela, e diligências foram realizadas na cidade de Carandaí, onde Rafaela Drumond atuava.
"Temos que pensar antes de afastar alguém. Um mero afastamento sem lastro legal pode ser judicializado. O inquérito policial irá chegar nessa resposta no tempo certo. Tudo isso é feito por etapas", justificou na ocasião.
Nota da Polícia Civil de Minas Gerais sobre a transferência dos servidores
"A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) esclarece que todas as transferências de servidores são realizadas seguindo princípios e critérios legais que regem a administração pública.
A PCMG ressalta, mais uma vez, que não divulga nomes de possíveis envolvidos em investigações, conforme determinação do art. 38 da Lei de Abuso de Autoridade."