Há pelo menos três meses, diabéticos estão com dificuldade para ter acesso à insulina pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte. O problema estaria sendo causado por um atraso no fornecimento do hormônio aos Estados por parte do Ministério da Saúde (MS). Os pacientes estão sendo obrigados a comprar o medicamento com recursos próprios para evitar o descontrole da doença que pode causar uma série de complicações e até a morte.
O MS disse que, para o atendimento ao Estado de Minas Gerais, foram entregues mais de 40 mil canetas de insulina entre julho e setembro. Outras 13.695 unidades estão previstas para serem entregues até o fim do mês. A pasta reitera que nos próximos meses inicia as entregas para o 4º trimestre.
"Mesmo com as dificuldades enfrentadas em razão dos problemas ocasionados pela pandemia da Covid-19, o Ministério da Saúde mantém todos os esforços para garantir o abastecimento de medicamentos ofertados pelo SUS", disse o órgão federal, em nota.
A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou que a distribuição da insulina é centralizada pelo MS e que, no caso da falta do insumo, os pacientes são orientados a procurar o médico para avaliar a possibilidade da transcrição de um outro medicamento.
A falta da insulina de ação ultra-rápida na rede pública atrapalha o tratamento da diabetes, explica o endocrinologista Adauto Versiani. "A secretaria acha que na rede pública de saúde o paciente tem acesso fácil ao médico, mas não tem. E o povo mais carente às vezes demora até um mês para conseguir voltar ao médico. Não tem outra insulina pelo SUS com a mesma especificidade, então teria que mudar o tipo de controle, o que implica monitorização mais de perto, o que pode implicar descontrole da diabetes, até ao coma e à morte", diz o especialista.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) disse que em junho e no início do mês de agosto deste ano ocorreram atrasos na entrega do medicamento pelo Ministério da Saúde, o que motivou o desabastecimento. Segundo a pasta, a situação foi corrigida pelo MS, e a SES-MG autorizou recentemente a distribuição da Insulina Gulisina para atendimento integral da necessidade das Regionais de Saúde do Estado.
Mas nem sempre a insulina chega a tempo aos pacientes que ficam na ponta dessa cadeia logística e não podem parar o tratamento. Diabético há 15 anos, o assistente financeiro Márcio Rezende, 37, está comprando a insulina com o próprio dinheiro enquanto não consegue o medicamento na rede pública em BH.
"Quando eu vou buscar respondem apenas que não têm e me dão a negativa. Com isso, sou obrigado a comprar, não tem como ficar sem. Sem a insulina a gente fica inseguro quanto à qualidade de vida que vamos ter no futuro", lamenta.
Medicamento vital.
A insulina é o hormônio responsável por levar energia para o interior das células, evitando uma série de problemas em diversos órgãos. "Como não é possível enviar energia para dentro da célula, a pessoa fica com a sensação de que está cansada, então ela começa a tomar água, urinar muito emagrecer, e o organismo tem que buscar outra fonte de energia e começa a quebrar proteína e gordura, o que causa a liberação de ácidos que causa uma descompensação tão grande que pode levar ao coma e à morte", detalha o médico.