O número de atendimentos de crianças de até 14 anos com sintomas de doenças respiratórias mais que dobrou no período entre janeiro e março deste ano nos Centros de Saúde e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte. Em março, foram 10.902 atendimentos nas unidades de saúde da capital, número que é 111% maior ao registrado em janeiro, com 5.159.
A alta no número de casos coloca o sistema de saúde em alerta. Dos 141 leitos de UTI neonatal disponíveis na capital, que atendem crianças de até 30 dias, 90% estão ocupados. O cenário é ainda mais alarmante entre os 101 leitos de UTI pediátricos, destinados a crianças de até 14 anos, que possuem ocupação de 95%. Até o final da manhã de quinta-feira (23), 17 crianças aguardavam por uma vaga em um leito de internação de UTI na capital, sendo nove delas diagnosticadas com doenças respiratórias.
"É um cenário que preocupa principalmente pelo aumento na incidência dessas doenças. A gente sabe que neste período do ano esses casos ficam mais comuns, só que neste ano tivemos um aumento mais cedo", alerta a secretária municipal de saúde de Belo Horizonte, Cláudia Navarro.
O levantamento da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte aponta que em janeiro deste ano foram 5.159 atendimentos a crianças de até 14 anos com sintomas de doenças respiratórias nas unidades de saúde da cidade. Deste total, 1.413 procuraram acompanhamento médico nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e 3.746 nos Centros de Saúde. Já em março, foram 10.902 atendimentos, sendo 2.260 nas UPAs e 8.642 nos Centros de Saúde.
Por causa da crescente do número de casos e da taxa de ocupação dos leitos de internação de UTI, dez novos leitos de UTI pediátricos devem ser abertos até o final do mês de março no hospital Odilon Behrens, na região Noroeste da capital. A prefeitura também estuda transformar leitos que antes eram destinados a pacientes de cirurgias eletivas para atendimentos clínicos, principalmente de pacientes com sintomas de doenças respiratórias.
“Estamos cientes da crise e trabalhando maneiras possíveis para controlar, entendemos o sofrimento dos pais. Essa demora maior não está sendo por falta de profissionais ou diminuição de vagas, eles ocorrem porque a demanda está maior e os casos graves", explica a secretária.
As doenças
As doenças respiratórias podem ser causadas por vírus e bactérias, ocasionando aos pacientes algumas complicações quando não são tratadas ou detectadas rapidamente. Nos últimos anos, vírus como o Influenza A e o novo coronavírus, que são causadores de infecções respiratórias, têm preocupado os agentes da saúde.
No atual cenário da capital mineira, as crianças com até 14 anos de idade têm sido diagnosticadas, principalmente, com sintomas de bronquiolite. A infecção consiste na inflamação e inchaço dos bronquíolos, que, por sua vez, provoca obstrução do fluxo de ar para dentro e para fora dos pulmões. Os casos são mais comuns em crianças menores de 2 anos.
"São casos que têm tido uma evolução muito rápida. Por isso estamos trabalhando a atenção primária, para que esses pacientes sejam atendidos e orientados a voltar diante de qualquer sintoma. Isso vai evitar um quadro muito grave", aponta a secretária municipal de saúde de Belo Horizonte, Cláudia Navarro.
Agonia na espera por atendimento
Demora nos atendimentos. Esse é o principal desafio enfrentado por quem precisa dos cuidados médicos nas unidades de saúde em Belo Horizonte. O grande número de pacientes e a falta de profissionais expõem crianças e adolescentes com sintomas de doenças respiratórias a um longo período de espera.
A dona de casa Joselina Batista, de 60 anos, precisou aguardar por mais de três horas para que o neto dela, de dois anos, fosse atendido na Upa Odilon Behrens, na região Noroeste da capital. O menino chegou à unidade de saúde com febre, coriza e caroços pelo corpo.
"Não tem como voltar pra casa com meu neto, agora ele não está mais com febre, mas mesmo assim, vou ficar aqui. O pessoal que trabalha na UPA disse que é para aguardar que ele seja atendido, então vamos ficar", disse. A dona de casa e o neto chegaram à UPA às 16h30 da tarde de quinta-feira (23), e até às 19h30 o menino ainda não havia sido atendido.
A mesma situação vivenciou a cuidadora de crianças Valéria Pimentel, que também procurou atendimento na UPA Odilon Behrens para o seu filho de quatro anos. Ela e o menino tiveram que se deslocar de ônibus do bairro São Batista, na região de Venda Nova, até a unidade de saúde, localizada a cerca de dez quilômetros de onde moram, já que as unidades próximas à sua casa estavam cheias.
"Trouxe meu filho aqui porque o atendimento das unidades perto da minha casa é ruim, demorado. Me falaram que lá dentro está cheio,e por isso, eu tenho que esperar. Eles não falam o tempo de espera, então, o jeito é não levar a criança para casa passando mal", relatou Valéria. O filho dela também estava com febre e com dores na garganta.
A secretária municipal de saúde de Belo Horizonte, Cláudia Navarro, reconhece que as unidades de urgência estão cheias e garante que a prefeitura tem feito esforços para que todas as crianças sejam atendidas. "A população precisa entender que tem uma classificação de prioridade. Então aquela que chega mais grave, vai ser atendida mais rapidamente. Não podemos e não vamos deixar de atender uma criança", afirma.
Navarro também admite a falta de pediatras, mas aponta que o atendimento das crianças está assegurado por profissionais com outras especialidades, como os médicos generalistas, que também possuem autonomia para realizar as consultas desses pacientes. "A falta de pediatras é um desafio para o momento. Mas não é uma questão só do setor público, é uma demanda também do setor privado", expõe.
Diante da ausência de pediatras, a prefeitura desenvolveu um modelo de teleconsultas para auxiliar os médicos que possuem outras especializações no atendimento das crianças. O modelo prevê um médico pediatra disponível em tempo integral para os demais profissionais. Caso eles tenham alguma dúvida, esse especialista poderá ser acionado. "É um pediatra disponível para orientar os médicos", explica Navarro.
Veja dos dados
- Atendimentos de doenças respiratórias de crianças até 14 anos nas UPAs e no Centros de Saúde de BH em 2023
Janeiro - 5.159
Fevereiro -12.611
Março - 10.902*
- Atendimentos de doenças respiratórias de crianças até 14 anos nas UPAs de Belo Horizonte em 2023
Janeiro - 1.413
Fevereiro - 3.262
Março - 2.260*
- Atendimentos de doenças respiratórias de crianças até 14 anos nos Centros de Saúde de Belo Horizonte em 2023
Janeiro - 3.746
Fevereiro - 9.349
Março - 8.642*
*Dados consideram o período até o dia 20 de março
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte