Sessenta reais foi o preço pago por um rapaz de 21 anos para garantir sua entrada em uma festa para alunos do curso de medicina na última sexta-feira (16), no Clube Chalezinho, no bairro Buritis, região Oeste de Belo Horizonte. O que Luiz Gustavo Lanna de Oliveira, estudante, não esperava é que, mesmo acompanhado por amigos, terminaria a noite assustado, acionando a polícia para denunciar agressões que teriam sido cometidas contra ele por seguranças da casa noturna. Com fotografias que mostram lesões espalhadas por seus braços e pernas, publicadas em seu perfil no Instagram, ele denunciou o ataque na noite dessa terça-feira (21).
A festa corria bem e, como conta Luiz, ele e cerca de sete amigos, com as namoradas, bebiam e se divertiam em uma mesa da boate. Por volta das 4h, na madrugada de sábado (17), ele e um amigo foram até o banheiro, assim como a namorada deste amigo. Na saída, decidiram esperar que a moça saísse do toalete feminino para voltarem à mesa. Foi neste instante que uma discussão entre eles e um segurança teria começado. "O segurança chegou dizendo que a gente estava olhando o banheiro das mulheres, que estávamos tarando as meninas. Nisso, a namorada do meu amigo saiu e quis saber o que estava acontecendo e porquê estávamos discutindo. Ele virou pra ela e disse que ela não conhecia a gente, que estava tentando ajudar e que era pra ela sair de lá", relata Luiz.
Logo que tudo isso aconteceu, o rapaz conta que o segurança aproveitou para acionar outros dois colegas que trabalham para o Clube Chalezinho e, juntos, teriam agarrado seus braços e o arrastado em direção a uma cozinha, escondida por uma cortina preta no local da porta. "O meu amigo começou a filmar e um segurança deu um tapa no braço dele. O celular voou no meio de todo mundo. Ele não chegou a ver o telefone mais e (os seguranças) continuaram me agredindo".
Assim, Luiz conta que foi levado para uma sala próxima à cozinha e deixado em um canto, enquanto um dos seguranças, o que acertou seu amigo, mexia no celular tomado. "Ele estava apagando os vídeos que estavam lá. Aí eu cheguei e tomei o celular da mão dele, ele ainda achou ruim e falou que não iria devolver".
Pouco depois, ainda na sala para onde fora levada, a vítima conta que começaram séries de agressões, todas presenciadas por um homem identificado como chefe da equipe de segurança. "Os seguranças estavam calados e me batiam. O chefe pedia pra me baterem mais e os seguranças respeitavam e faziam tudo que ele pedia. Um falou comigo que ia 'pegar o barbudinho', meu amigo que estava filmando, e fariam a mesma coisa que fizeram comigo". No boletim de ocorrência, registrado no sábado (17), Luiz descreve que o suposto responsável dava ordens e gritava: "bate nele mesmo, pode bater".
Depois de sofrer socos e chutes, ele teria sido liberado pela porta dos fundos da casa noturna, recuperado o celular e teria ouvido de seus agressores para não contar a ninguém e sair correndo de lá. "Eu saí por trás, que dá no Quintal do Chalé, saí pelo portão de grade que tem. Me mandaram sair correndo, sair rápido e não falar pra ninguém o que aconteceu. Graças a Deus, consegui encontrar um amigo que já tinha saído da festa e nós ligamos para a polícia".
No entanto, segundo Luiz, o desespero não acaba aí: após acionar os militares, eles teriam ido até o local, conversado com os seguranças e saído de lá sem registrar o boletim de ocorrência. "Os policiais conversaram com os seguranças que disseram que eu tinha brigado lá fora, os policiais acreditaram e foram embora", desabafa.
Dias seguintes
Na tarde do sábado (17), após as agressões, Luiz Gustavo acionou novamente a Polícia Militar e conseguiu registrar um boletim de ocorrência onde narra o que teria acontecido. Um amigo atua como testemunha e confirma a versão contada. A vítima também foi submetida a um exame corpo de delito, para o qual ainda não tem resultado.
Levado ao hospital, foi atendido e medicado contra dores. Até esta quarta-feira (21), ainda usa remédios para evitar sentir os ferimentos. "Até hoje estou sentido muita dor. Na hora, quando estava na porta, chorei bastante, fiquei muito nervoso. Disseram que eu briguei na rua, sendo que cheguei à rua todo machucado, chorando. Ficavam me olhando da varanda, lá de cima, nem aí para mim". Há ainda muitas marcas roxas sobre o corpo.
Providências
Quanto a suposta negligência da Polícia Militar que teria ignorado a versão dada pelo rapaz ainda na madrugada de sábado, a advogada informou que estuda verificar o que é possível fazer nesses casos. "Estamos conversando para definir o caminho que tomaremos. Foi muito grave, ele estava realmente todo machucado, com escoriações pelo corpo e somente foi válido o que os seguranças disseram. Queremos apurar por quê o boletim não foi feito e por quê ele teve que procurar a polícia no dia seguinte para registrá-lo", comunica.
A Polícia Militar foi procurada para explicar se a chamada foi feita na madrugada e se os agentes compareceram ao local da denúncia e, se sim, para justificar o porquê de o boletim não ter sido registrado. Em nota enviada, a corporação informou que houve duas chamadas consecutivas para o Clube Chalezinho naquela data, uma delas também sobre lesão corporal e, no outro caso, "o solicitante não foi localizado e tão pouco se manifestou para a guarnição".
Outro lado
Em contato com O TEMPO, a direção do Clube Chalezinho negou a versão do estudante.
Segundo o Clube, Oliveira, de fato, foi expulso do local por volta das 4h30, por comportamento indevido. Ele teria acompanhado os seguranças até o refeitório dos funcionários, onde aguardou a emissão de sua conta, para pagamento, algo que foi feito em cerca de 15 minutos. Segundo o Clube, durante este período, o estudante apenas conversou com os seguranças.
Após isso, o rapaz teria ido para o exterior da casa, onde permaneceu por mais de uma hora. No momento do fechamento da casa, por volta das 6h, segundo a direção, ele teria agredido um segurança que fazia a retirada das grades de proteção da entrada, após uma delas ter esbarrado nele. Ainda de acordo com o Chalezinho, a partir daí, se formou uma confusão entre amigos do rapaz expulso e seguranças. A Polícia Militar teria chegado no momento e apartado a briga.
A direção da casa garantiu que há filmagens do circuito interno que captaram todos os momentos do rapaz no local, desde de seu comportamento que culminou com sua expulsão até a chegada da polícia ao local. As imagens teriam sido oferecidas a familiares do estudante, desde o último sábado, mas ninguém teria demonstrado interesse em vê-las. O Clube não pode enviar as imagens à reportagem, mas as colocou à disposição para serem vistas no local.
Por fim, a direção informou que trabalha com uma equipe orgânica e outra terceirizada de seguranças e que, caso seja constatado excesso de algum membro, ele sofrerá punições, incluindo uma possível demissão.