Depois de quase 65 dias de paralisação da maioria dos segmentos comerciais, a primeira capital do Brasil a adotar o isolamento social para reduzir o número de casos de coronavírus começa nesta segunda-feira (25) a flexibilização com grande expectativa e também apreensão. Além das atividades essenciais que seguem em funcionamento, nesta primeira fase retomam os trabalhados 17 setores comerciais, como salões de beleza, papelarias, lojas de cosméticos e os shoppings populares no hipercentro de Belo Horizonte e na região de Venda Nova.

Com horário restrito de abertura das lojas e adoção de medidas para evitar a aglomeração no interior dos estabelecimentos, comerciantes e trabalhadores falam em alívio diante da reabertura, mas seguem preocupados com os efeitos da crise sanitária. Proprietário de um armarinho na rua dos Guaranis, na região Central, há 10 anos, Paulo Marcos Luís diz que a situação ainda é assustadora. 

"A pandemia pegou todos desprevenidos. Com o decreto da prefeitura, vamos poder trabalhar com mais de tranquilidade, mas ainda veremos poucas pessoas circulando nas ruas, e com muito medo. Estou com dificuldades para pagar as despesas, inclusive falei com alguns fornecedores que só vou conseguir pagar quando a economia for totalmente retomada", conta.

Já Daniel Corrêa, que estava com a papelaria dentro do Mercado Central fechada desde o fim de março, disse que é preciso se adaptar para uma nova realidade econômica e social. "Teremos limitação no número de pessoas atendidas, e isso impacta no faturamento. Acredito que só no ano que vem vai acontecer uma recuperação e a retomada normal do movimento", afirma. Nas últimas semanas, ele precisou usar parte das reservas financeiras para conseguir arcar com as despesas pessoais e do negócio. "Dificuldades todos nós tivemos, principalmente no pequeno negócio", completa.

A cabeleireira e maquiadora Priscila Mendes trabalha em um salão de beleza no bairro São Luís, na região da Pampulha, e diz que a expectativa é positiva. Aberto no dia 5 de março, o estabelecimento só teve alguns dias de funcionamento pleno devido à pandemia. "Vamos adotar várias medidas de proteção, tanto para os profissionais, quanto para as clientes. Espero que volte com um movimento melhor, já que ficamos pouco tempo aberto e depois veio a Covid-19", enfatiza. O estabelecimento vai funcionar com agendamento, além de intervalos maiores entre cada atendimento.

Cenário segue incerto

Apesar de ver como positiva a retomada gradual das atividades econômicas na capital mineira, o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), Guilherme Almeida, lembra que ainda não é possível trabalhar com nenhuma estimativa sobre a recuperação do setor. 

"Isso até pela dinâmica da retomada. Temos uma parte do comércio que está impossibilitada de operar e outra que, mesmo com o retorno, tem que lidar com uma mudança de comportamento mais conservador do consumo das famílias, que tiveram a fonte de renda comprometida pela redução salarial, suspensão de contratos ou mesmo demissão", argumenta.

De acordo com o especialista, há três fatores primordiais que devem ser considerados para a recuperação: confiança, emprego e renda. "As estatísticas do desemprego ainda não foram liberadas, mas com certeza elas se acentuaram, já que houve fechamento de empresas, dispensa de funcionários. Só em Minas Gerais, o comércio varejista acumulou perdas de mais de R$ 10 bilhões em faturamento por conta da pandemia", pontua.

Por fim, o economista lembra também que a flexibilização gradativa vai trazer um alívio para o setor, mesmo com a movimentação menor nas ruas e avenidas. "Vai voltar a entrar um fluxo de caixa que ajuda pelo menos a honrar as despesas. O processo deve ser ponderado e pautado no comportamento do próprio empresário sobre a adoção das medidas preventivas ao coronavírus", finaliza.

Alerta amarelo

O último boletim de monitoramento da transmissão do coronavírus mostra Belo Horizonte em alerta amarelo. Conforme o documento, os indicadores apontam que a pandemia segue em expansão, porém com a taxa de ocupação dos leitos dentro dos limites aceitáveis – 40% das vagas exclusivas para a Covid-19 seguiam com pacientes em tratamento. 

O secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, ponderou que a flexibilização vai acontecer em quatro etapas, que serão monitoradas dia a dia e, caso provoque um aumento grande no número de casos, pode ser interrompida. "A gente está com medo porque não sabemos o que vai acontecer, mas esperançosos que todos irão manter o distanciamento'', explicou na ocasião.

Veja abaixo quais lojas podem abrir a partir de amanhã e os horários de funcionamento:
Somente lojas com acesso direto de pedestres vão funcionar

  • Artigos de bomboniere e semelhantes - 7h às 21h
  • Artigos de iluminação - 11h às 19h
  • Artigos de cama, mesa e banho - 11h às 19h
  • Utensílios, móveis e equipamentos domésticos, exceto eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo - 11h às 19h
  • Tecidos e armarinho - 11h às 19h
  • Artigos de tapeçaria, cortinas e persianas - 11h às 19h
  • Produtos de limpeza e conservação - 11h às 19h
  • Artigos de papelaria, livraria e fotográficos - 11h às 19h
  • Brinquedos - 11h às 19h
  • Bicicletas e triciclos, peças e acessórios - 11h às 19h
  • Cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal - 11h às 19h
  • Veículos automotores - 8h às 17h
  • Peças e acessórios para veículos automotores - 8h às 17h
  • Pneumáticos e câmaras-de-ar - 8h às 17h
  • Comércio atacadista da cadeia de comércio varejista da fase 1 - 5h às 17h
  • Cabeleireiros, manicure e pedicure - 7h às 21h
  • Centros de comércio popular instituídos a qualquer tempo por Operações Urbanas visando a inclusão produtiva de camelôs, desde que localizados no Hipercentro ou em Venda Nova - 11h às 19h